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Obs: Contém spoilers do episódio. Leiam nossas outras críticas da temporada aqui.
Um dos pontos mais difíceis de se acertar quando falamos de temporadas de séries de televisão ou sequência de filmes é o seu encerramento. Não somente é preciso fazer algo que se encaixe com toda a construção apresentada até então, justificando o desenvolvimento de determinados personagens e subtramas, como é necessário que a recepção do público seja positiva, afinal, esse é um dos elementos principais que irá garantir a audiência da próxima temporada. Na tentativa de realizar algo grandioso, o que já vinha sendo prometido desde meados desse terceiro ano de Gotham, a série acaba tropeçando, mas isso não quer dizer que esse seja um capítulo ruim, apenas que deixa a desejar.
Como vimos em Pretty Hate Machine, o detetive James Gordon foi infectado pelo vírus de Alice Tetch e, pouco depois, grande parte da população de Gotham acaba sofrendo o mesmo. O caos total irrompe pela cidade, com Harvey e Jim tentando, ao máximo, arranjar uma cura. Enquanto isso, Alfred precisa encontrar uma forma de acabar com o condicionamento de Bruce, que passara por uma lavagem cerebral nas mãos do líder da Corte das Corujas. Do outro lado, temos o Pinguim, Fish, Barbara, Edward Nygma e outros lutando pelo controle da cidade, tentando encontrar uma forma de aproveitar o caos para solidificar o seu poder.
A escolha de fazer um episódio duplo, exibido seguidamente um do outro, foi a medida certa para criar a sensação de grandiosidade desse finale. Em muitos aspectos temos, aqui, a total mudança do status quo da série, com todos os personagens seguindo por novos caminhos, alguns de forma mais sutil que outros. Danny Cannon e Robert Hull, encarregados, cada um, do roteiro dos episódios não dispensam o fan-service, introduzindo desde o chicote da Mulher Gato até Solomon Grundy (embora não com esse nome ainda). O mais marcante, contudo, é a decisão de Bruce de se tornar o vigilante de Gotham, ainda sem as roupas do morcego.
Infelizmente esse acaba sendo um dos deslizes e não só do capítulo, mas da série como um todo. Bruce é muito novo para seguir esse caminho, não passou por nem metade do treinamento necessário. Fazem apenas três anos que seus pais morreram (algo dito pelo próprio Alfred). Teria sido muito mais crível enxergar sua decisão de se tornar esse símbolo e, apenas depois de uma elipse, o veríamos efetivamente combatendo o crime. Claro que os showrunners tem um tempo limitado para mostrar essa transformação e, se eu fosse chutar, diria que a próxima temporada será a última, portanto há de se entender a escolha. Apesar disso, somos deixados com um gosto amargo na boca, por mais que a direção de Rob Bailey faça jus ao futuro Morcego, ocultando-o quando deve e o mostrando em toda a sua imponência olhando para as ruas de Gotham.
Outras inconsistências marcam o capítulo, como a morte de Fish, que não cumprira qualquer função narrativa além a de motivar o Pinguim e salvá-lo no episódio anterior. O problema dessa motivação é a sua artificialidade, algo que se estende para a própria reação de Oswald ao ver Mooney morta. Vamos recordar que Cobblepot já assassinara Fish uma vez e, desde então, não demonstrara qualquer proximidade para com ela. A aliança entre os dois é forçada, sem qualquer explicação e serve apenas para dilatar a duração desse finale, já que tudo, ainda assim, aconteceria sem o retorno da personagem. Uma das figuras mais icônicas da série é desperdiçada sem mais nem menos. Isso sem falar que a morte na série é praticamente inexistente e, mesmo assim, Fish já se considera morta ao ser perfurada – de memória, os únicos personagens grandes (não levo em consideração os buchas de canhão, como Kathryn ou Alice Tetch), acredito eu, que tenham morrido de vez são Maroni e Mario. Nem mesmo Butch e Barbara se salvam do ciclo de ressurreição, já que um retornará como Grundy e a outra, provavelmente, como a Arlequina.
Dito isso, existem aspectos bastante positivos no episódio, como a relação entre Bruce e Alfred, que assume uma via consideravelmente dramática e bem encaixada com a proposta da série. Outro ponto que favorece a constante renovação do seriado é a partida de Lee, que, finalmente, deve sair de Gotham de vez, abrindo espaço para o crescimento de Jim, que não mais irá ter de se preocupar com sua ex rancorosa. A aparição de Ra’s Al Ghul também funciona para dar um senso de continuidade, uma ameaça maior por trás dos panos e que, provavelmente, irá dar as caras futuramente no seriado. Por ser uma figura maior do universo do Morcego, não duvidaria que ele será o antagonista final.
Com acertos e erros, o finale dessa terceira temporada de Gotham abre certas dúvidas sobre o que será feito no futuro, mas, ainda assim, possibilita que a série, mais uma vez, se renove, nos oferecendo novas histórias em um cenário completamente alterado. Resta torcer para que o batman não apareça cedo demais, a menos que uma elipse maior se faça presente entre uma temporada e outra. Embora esse episódio não represente o melhor que a série nos ofereceu, certamente tivemos, aqui, a melhor temporada até então, mostrando o quanto o seriado evoluiu desde sua estreia.
Gotham – 3X21 / 22: Destiny Calling / Heavydirtysoul – EUA, 5 de junho de 2017
Showrunner: Bruno Heller
Direção: Nathan Hope, Rob Bailey
Roteiro: Danny Cannon, Robert Hull
Elenco: Ben McKenzie, Donal Logue, Robin Lord Taylor, Erin Richards, Cory Michael Smith, Jessica Lucas, Raymond J. Barry, Richard Kind, Drew Powell, Chris Chalk, Morena Baccarin, Jamie Chung, Jada Pinkett Smith
Duração: 43 min.