Obs: Contém spoilers da série e do episódio. Leiam as críticas dos demais episódios, aqui.
Somente três episódios pela frente e Gotham, sabiamente, já prepara o terreno para o season finale. Após um pequeno hiato após Pinewood, que, como dito em minha crítica, representou um pequeno deslize para a série, Azrael consegue trazer uma narrativa bastante coesa, ainda que, também, não esteja ausente de seus defeitos. Não podemos deixar de reconhecer a qualidade do roteiro de Megan Mostyn-Brown, que soube trabalhar com inúmeros focos, mantendo sempre uma forte sensação de unidade ao longo do capítulo, fazendo tudo girar em torno de uma peça: Hugo Strange.
A projeção tem início com o falecido e ressuscitado Theo Galavan, que agora acredita ser um antigo cavaleiro de nome Azrael. Strange, que já estivera sob investigação no episódio anterior agora assume uma posição mais ativa no palco – descobre que Gordon está em seu encalço e faz de tudo para acabar com seu inimigo. Ao mesmo tempo somos mostrados a relação do capitão da polícia com Gordon e sua raiva perante o ex-detetive traz um sensação nítida de causa e consequência ao espectador – as ações de um não são isoladas e, de fato, trazem repercussões, fortalecendo a noção de que estamos, sim, em uma mesma cidade e o que ocorre no episódio anterior é trazido à tona aqui.
Paralelamente temos Oswald Cobblepot ainda morando na mansão de seu falecido pai e o fato dele não ter se livrado dos corpos de sua “família” apenas reforça a sua crescente loucura – tornou-se mais problemático que nunca após seu tempo em Arkham. Sua cena final, ainda o insere, finalmente, de volta ao jogo, ao passo que seu caminho certamente se cruzará novamente com o de Gordon, algo que não ocorre desde que sua vida fora por água abaixo. Do outro lado temos Barbara e aqui entramos no já mencionado defeito do capítulo: ela não demonstrara um certo grau de sanidade em Pinewood? Então de onde veio esses tiques e maneirismos apresentados aqui? Evidentemente nenhum de nós chegou a acreditar na ex de Jim, mas isso poderia ter sido, ao menos, ilustrado no episódio passado e nos pouparia de um grande estranhamento aqui.
Outro aspecto difícil de engolir é o design do traje de Azrael, mas isso já se tornou uma constante se pensarmos em Mr. Freeze e nas roupas de inverno de Strange e sua assistente. Bruno Heller e sua equipe precisam entender que, as vezes, menos é mais e algo menos espalhafatoso faria um grande serviço à série, especialmente considerando a sobriedade de outros personagens. O que temos aqui soa como um vilão de filme B de época, ou de alguma série de herói da CW. Naturalmente o uso do antagonista como um Batman malvado foi bem inserido dentro da trama e cria uma prerrogativa para Wayne futuramente, como foi mais do que claramente mostrado em uma das cenas aqui.
Felizmente, a direção experiente de Larysa Kondracki, responsável pelo ótimo Bingo de Better Call Saul, minimiza o efeito risível da armadura de Azrael com uma decupagem ágil, que não exibe muito da figura e referencia evidentemente o Morcego. Há um ótimo trabalho de luz e sombras e o episódio consegue se sustentar nas sequências escuras sem perder o espectador – conseguimos, de fato, entender tudo o que ocorre em quadro.
Azrael, portanto, é, antes de mais nada, uma preparação de terreno, podendo representar uma promoção para Jim, ao mesmo tempo que movimenta as peças do tabuleiro para seus respectivos lugares. Com somente três episódios pela frente sentimos como se a segunda temporada de Gotham estivesse, de fato, em sua reta final – resta saber se Bruno Heller e Megan Mostyn-Brown não deixarão a peteca cair aqui nos últimos momentos.
Gotham 2X19: Azrael (EUA, 02 de Maio de 2016)
Showrunner: Bruno Heller
Direção: Larysa Kondracki
Roteiro: Megan Mostyn-Brown
Elenco: Ben McKenzie, Donal Logue, David Mazouz, Morena Baccarin, Sean Pertwee, Robin Lord Taylor, Erin Richards, Camren Bicondova, Cory Michael Smith
Duração: 42 min.