Atenção: contém inúmeros spoilers do episódio.
Com a profunda alteração do status quo em Gotham, era esperado que a série desse uma desacelerada, explorando a situação de Gordon na cadeia e do Pinguim juntamente de sua recém descoberta família. Megan Mostyn-Brown, contudo, mesmo apenas no argumento e não especificamente no roteiro, não deixa o seriado cair no marasmo e com agilidade dá prosseguimento aos arcos iniciados lá em Mr. Freeze, mais especificamente, após a morte de Theo Galavan. Prisoners é mais um capítulo eficaz desta segunda temporada, mas acaba sofrendo graças às características que se qualificavam como qualidades até o episódio passado.
Os quarenta e dois minutos de projeção são divididos em duas linhas narrativas. A primeira acompanha Jim na cadeia e a segunda, Oswald Cobblepot. O que poderia ser uma gigantesca enrolação, o mais puro dos fillers, contudo, acaba ocorrendo rápido demais. Observamos a rotina de Gordon na prisão, sua transferência para a ala comum, as tentativas de assassinato contra o ex-policial, a nova relação do Pinguim com sua família, aprendemos sobre a condição de seu pai, sobre as maquinações de sua madrasta, assistimos a aproximação de pai e filho e, por fim, a morte de um deles. Informação demais, não? Isso é exatamente o que Prisoners é, um resumão de eventos que poderiam ter sido, ao menos, minimamente explorados com maior parcimônia.
Desses pontos que pediam um maior zelo narrativo devo trazer à tona dois: a relação de Oswald e seu pai e a dinâmica na prisão. Não podemos deixar de sentir como se muitas oportunidades houvessem sido perdidas, mesmo Don Falcone soa como um reles figurante no capítulo, quando poderia ter sido oferecido um maior esforço à Harvey para conseguir tirar seu amigo da prisão. Vejam, não quero uma dilatação insuportável dos fatos, apenas uma mudança temporária no foco da série – não seria interessante acompanhar Bullock sozinho por um tempo? Ou então fizessem um capítulo centrado em Wayne unicamente, a fim de criar uma elipse temporal, dando a impressão que Gordon passou mais que alguns dias atrás das grades. Essa velocidade com a qual os eventos de Prisoners lidaram prejudicaram a urgência do episódio, mesmo a perda do filho de Jim soa como uma memória distante ao término do capítulo, e o roteiro de Danny Cannon começara tão bem.
Isso, todavia, não quer dizer que o capítulo seja ruim, ele conta com inúmeros acertos e ainda está acima da média dos episódios de Gotham. Uma dessas qualidades é justamente a maneira como ele decide focar apenas em dois núcleos, sem nos levar para o costumeiro vai e vem, ou até mesmo perdendo tempo com narrativas finitas e sem um propósito maior a não se o de encher linguiça. Há um evidente amadurecimento da série como um todo, mas todo crescimento vem com seus solavancos, como descrito acima.
Interessante também é a escolha do título – Prisoners evidentemente se refere àqueles em Blackgate, mas também traz à tona o drama envolvendo o Pinguim, prisioneiro de sua condição – agora inocente, traumatizado pelo passado e por Strange – e de seu sangue, como descobrimos que seus familiares também continham passageiros sombrios, no linguajar de Dexter.
Com mais altos do que baixos – a agilidade da história destrói algumas oportunidades, mas não necessariamente estraga o episódio – Prisoners marca mais uma mudança nos paradigmas de Gotham, resta saber se essas alterações irão permanecer em vigência ou serão substituídas no decorrer do vindouro capítulo. Esperemos que o foco exclusivo em poucos núcleos seja o novo modelo a ser adotado pelo seriado, similarmente o que é feito em The Walking Dead desde a quarta temporada e que o amadurecimento de Bruno Heller e toda sua equipe seja uma constante.
Gotham 2X16: Prisoners (EUA, 2016)
Showrunner: Bruno Heller
Direção: Scott White
Roteiro: Danny Cannon
Elenco: Ben McKenzie, Donal Logue, David Mazouz, Morena Baccarin, Sean Pertwee, Robin Lord Taylor, Erin Richards, Camren Bicondova, Cory Michael Smith
Duração: 42 min.