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Crítica | Godzilla vs. Gigan

por Luiz Santiago
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Godzilla vs. Gigan (1972) é uma verdadeira reciclagem cinematográfica, com reprodução de cenas de outros filmes da saga do lagartão atômico, como Ghidrah, O Monstro Tricéfalo (1964), A Guerra dos Monstros (1965) e O Despertar dos Monstros (1968), além de um recorte de diversos temas compostos por Akira Ifukube na trilha sonora. O bom disso é que os temas de Ifukube são maravilhosos, então a trilha não é um problema qualitativamente falando, mas em certos momentos há uma dissonância grande entre o lado épico da música e as batalhas trash, sem graça e pouco (ou nada) épicas que acontecem aqui.

O início, no entanto, é promissor. Acompanhamos um jovem mangaká chamado Gengo Kotaka (Hiroshi Ishikawa) que está procurando vender seus personagens a todo custo, mas sem muito sucesso. Até que ele consegue uma entrevista com o chefe de um parque temático kaiju/espaço cultural infantojuvenil chamado World Children’s Land. Este é o começo de uma relação contratual absurda que, por conveniência do roteiro (ou seria “estar no lugar certo, na hora certa“?) culminará com a entrada de Godzilla e seus amigos e inimigos em cena.

Existem poucas coisas aqui que agradam de verdade — ou que pelo menos fazem sentido para um filme do protagonista, o que certamente foi a tônica de diversos longas no fim da Era Showa. A aproximação dos bichões com o público se dá através de um núcleo humano aventureiro, cômico (em teoria), mas sem um pingo de verdadeiro carisma. Hiroshi Ishikawa é o que mais perto chega de nos impressionar e querer vê-lo mais vezes, mas sua atuação parece vir com um dispositivo de auto-boicote: toda vez que ele faz um cara engraçada ou diz algo realmente espirituoso, segue-se uma risadinha amarela e uma expressão que simplesmente estraga o que veio antes. Chega a ser irritante a quantidade de vezes em que isso acontece. E para piorar, nenhum de seus colegas de cena ajudam a tornar o núcleo humano minimamente interessante.

Já os vilões, por mais bizarros que sejam (eles são baratas gigantes que conseguem assumir formas humanas mortas), inicialmente convencem. É meio bobo, mas combina com as loucuras que a gente já viu na série, diferente de praticamente todo o restante do filme. O problema com elas começa quando expõem suas justificativas para fazer o que fazem. Primeiro, é um projeto de M Space Hunter (o planeta dos baratões) para impedir que a Terra seja destruída pelo severo ataque humano ao meio ambiente, temática que a série já trabalhara, inclusive com um bicho específico para isso, em Godzilla vs. Hedorah. De certa forma, as questões ambientais e a capacidade de a humanidade destruir sua própria casa estiveram presentes na saga desde a sua origem, com a crítica à bomba atômica e suas terríveis consequências em Godzilla (1954). No presente longa, porém, há uma mistura bagunçada disso com a “busca pela paz” — que só pode ser garantida com a destruição da humanidade — e isso é simplesmente jogado no texto e serve como frágil mola para a chegada dos dois kaiju espaciais: King Ghidorah e Gigan.

É claro que com uma premissa frágil, a colocação dos monstros não seria interessante, o que de fato se concretiza aqui. Anguirus só serve para ser saco de pancadas do Exército japonês e dos kaiju espaciais ou para combinar umas coisas nada eficientes com Godzilla. O próprio lagartão aqui praticamente só apanha, recobrando as forças no final de uma maneira aleatória, para derrotar também de maneira aleatória o tricéfalo e o carinha com uma serra na barriga (o que eu ri disso vocês não têm noção). Pelo menos tem duas cenas em que a gente vê SANGUE dos dois mocinhos da história e, por mais que não faça sentido ver Godzilla realmente apanhar, a cena em que Gigan praticamente esmaga a cabeça do lagartão com as mãos de gancho é muito boa.

Godzilla vs. Gigan é uma daquelas entradas da franquia que vale apenas para completar a lista, para ter visto tudo o que se produziu desse Universo, porque dependendo de outros fatores, é só passar raiva. E a gente achando que voar era a pior coisa que baratas podiam fazer…

Godzilla vs. Gigan (地球攻撃命令 ゴジラ対ガイガン / Chikyû kogeki meirei: Gojira tai Gaigan) — Japão, 1972
Direção: Jun Fukuda, Yoshimitsu Banno (não creditado)
Roteiro: Shin’ichi Sekizawa (baseado em história de Takeshi Kimura)
Elenco: Hiroshi Ishikawa, Yuriko Hishimi, Minoru Takashima, Tomoko Umeda, Toshiaki Nishizawa, Zan Fujita, Kunio Murai, Gen Shimizu, Zekô Nakamura, Kuniko Ashihara, Akio Murata, Noritake Saito, Yasuhiko Saijô, Naoya Kusakawa
Duração: 89 min.

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