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Crítica | Godzilla Ataca Novamente (1955)

por Luiz Santiago
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Em idos dos anos 1950, qualquer grande estúdio de cinema tinha como regra básica diminuir o impacto da televisão sobre suas bilheterias. Nesse contexto, é natural observarmos o retorno ou a produção mais acelerada e frequente dos filmes-seriados, sequências e obras que pegavam carona no sucesso de outras obras, seja durante essa essa década ou a partir dela. As franquias cinematográficas tornaram-se o caminho mais curto e menos arriscado para se fazer dinheiro simplesmente porque tinham um grande público previamente garantido.

Com Godzilla não foi diferente. A Toho Company aproveitou o sucesso colossal do filme de 1954 e, poucas semanas após a bem sucedida estreia, já tinha encomendado uma sequência, rodada às pressas entre dezembro de 1954 e fevereiro de 1955. No final de abril, estreava nos cinemas japoneses a alardeada continuação da saga que tanto dera o que falar no ano anterior. A única diferença é que o primeiro filme era bom.

Godzilla Ataca Novamente é o segundo longa protagonizado pelo monstro mais famoso do Japão e o primeiro em que ele contracena com algum outro bichão pré-histórico e atomizado. O coadjuvante aqui é uma versão do Anquilossauro (chamado de Anguirus no filme e, na versão americana, de “Gigantis, the fire monster”), que é acordado pela “Bomba H”.

A letra da bomba muda de um filme para o outro, mas o princípio é o mesmo: afetados pelas explosões, os animais pré-históricos “acordam” de seu sono submarino e passam a atacar os humanos. Os motivos para esses ataques realmente não importam, basta olharmos para a constituição desses animais e termos em mente que foram modificados por um fator radioativo qualquer. Isso já é motivo “biofictício” de sobra.

No início de Ataca Novamente, temos dois pilotos sobrevoando uma região da costa de Osaka. Eles trabalham para uma empresa que faz conservas de atum e ajudam os barcos a localizarem o melhor lugar para pesca, vendo de cima o movimento dos cardumes. Kobayashi, um dos pilotos, tem problemas com seu avião e é obrigado a fazer um pouso forçado em uma ilhota afastada. É nesse local que ele e seu amigo Tsukioka, que chega para resgatá-lo, veem pela primeira vez o lagartão (que julgavam morto) lutando contra um outro grande bicho, um dinossauro de carapaça espinhenta e aparente rixa mortal com o “Godzilla Mark II”. É nesse ponto que os grandes defeitos de Raids Again começam a aparecer.

Enquanto o Gojira de 1954 nos trazia uma boa linha de contexto social, sólido aparato científico, equilibrado envolvimento de instituições japonesas no “problema do monstro” e, além do espetáculo da destruição, boa reflexão moral no desfecho, esta sequência é superficial em todos os aspectos, desde a mínima linha de abordagem científica até a insossa participação humana, focada nos empresários e funcionários da companhia vista no início do filme. Nemo caráter ‘interiorano’ do espaço geográfico justifica tal abordagem.

Em par com esse lado da história, temos o enfrentamento entre os dois monstros que, por mais esforço que o diretor tenha feito animar o público, logra resultado uma única vez e por pouquíssimo tempo (falarei disso mais adiante). Aqui, poucos fatores podem ser levados em consideração.

O roteiro não emplaca porque carece de força externa, os monstros não se seguram sozinhos numa projeção de 1h28 de duração! Os autores ainda tentam conquistar a simpatia do espectador aproximando-o de Kobayashi e trazendo cenas de confraternização entre alguns personagens, mas trata-se apenas de tentativas vazias. Tais cenas sequer acrescentam algo ao filme, talvez por terem vindo tarde demais, talvez por tomarem o lugar de coisas que realmente fariam bem ao longa.

As melhores partes da obra são a luta final do Godzilla contra o Anquilossauro e o desfecho, que, apesar de ter um princípio patético, funciona muito bem na proposta dos kaiju movies e guarda uma boa emoção — e talvez pena — consigo. Não é de se espantar que todo o aparato técnico funciona melhor nesses momentos, desde a fotografia direcionada ao uso de maquetes e sobreposição de cenários (num formato bastante parecido com o que Eiji Tsuburaya, diretamente responsável pelos efeitos especiais dos 6 primeiros filmes da franquia, utilizou no ano anterior) à trilha sonora, cujos mais notáveis motivos musicais foram reservados para a destruição de Osaka e ataque final ao lagartão, cujo fim da vida é tão dramático quanto o do seu primo, afogado na Baía de Tóquio após o uso do Oxygen Destroyer, no ano anterior.

Soterrado em uma região montanhosa de uma ilha no Mar do Japão, o segundo Godzilla termina sua aventura de modo digno dentro da proposta do filme (morrendo e lutando), não a ponto de salvar a fita, mas a ponto de ajudar a construir a reputação de sua espécie como um dos mais icônicos monstros cinematográficos de todos os tempos.

Godzilla Raids Again (ゴジラの逆襲 / Gojira no gyakushû / Godzilla Raids Again) – Japão, 1955
Direção: Motoyoshi Oda
Roteiro: Shigeaki Hidaka, Takeo Murata (baseado na obra de Shigeru Kayama)
Elenco: Hiroshi Koizumi, Setsuko Wakayama, Minoru Chiaki, Takashi Shimura, Masao Shimizu, Seijirô Onda, Sonosuke Sawamura, Yoshio Tsuchiya, Mayuri Mokushô, Minosuke Yamada, Yukio Kasama
Duração: 82 min.

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