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Crítica | Godzilla e Kong: O Novo Império

Kong e Mini Kong no NeoKongstão ou... "eu tenho amigos poderosos, e você"?

por Luiz Santiago
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O fato de Godzilla vs. Kong (2021) ter performado bem diante da maior parte do público e tido um resultado crítico aceitável — é verdade que se trata de um filme ok — deu munição para a Legendary Pictures inventar de seguir adiante com o seu Universo compartilhado de King Kong, Godzilla e companhia formando timinho para combater kaijus do mal. Sim, porque se Hollywood já tinha dificuldade de produzir um filme bom com um único monstro gigante, por que não construir uma franquia com uma dezena deles para ver o resultado, não é mesmo? Aqui em Godzilla e Kong: O Novo Império, o problema de coesão já começa no título, uma vez que não existe um “Novo Império” envolvendo os dois titãs mencionados. Quem reina absoluto é Kong. Tudo no filme está voltado para o gorilão e sua presença na Terra Oca, estando o Godzilla em estilo fofucho, fazendo sua caminha no Coliseu, posando de coadjuvante luxuoso. Triste fim.

Os caminhos problemáticos aqui são muitos, e devo dizer que o filme não é uma perdição completa apenas porque não nos deixa órfãos daquilo que uma obra do gênero deveria ter em doses cavalares: kaiju coringando pela cidade, exibindo poderes apelativos e/ou se digladiando constantemente. Por outro lado, essa parte boa da obra é massacrada pelo imbecilizante núcleo humano, que desta vez não é apenas inconveniente, mas realmente não tem nenhuma razão de existir. Para não ter que fazer um tratado colossal sobre a relação dos núcleos humanos em filme de bichão nervoso, vamos trabalhar apenas com o material do Monsterverse — até para que o padrão de comparação não seja ainda mais humilhante para os Estados Unidos. Em Godzilla (2014), Kong: A Ilha da Caveira (2017) e Godzilla vs. Kong (2021), apesar de didáticos e problemáticos, os núcleos humanos mostraram pelo menos uma função narrativa. Até aí, nada de novo. E pelo menos os filmes eram minimamente bons.

Já no único filme memorável da franquia até o momento, Godzilla II: Rei dos Monstros (2019), o núcleo humano serve de suporte para os titãs e possui uma aplicação genericamente coerente com a trama, o que o faz ser aceitável ou, pelo menos, não atrapalhar a melhor parte da película. Aqui em O Novo Império, porém, esse núcleo tem uma participação comparativamente menor (o que é algo positivo), mas surge de um roteiro repetitivo, sem foco e paradoxalmente didático e confuso. Num enredo cheio monstrões tão expressivos e com um caminho de comunicação tão palpável para qualquer espectador, fica a pergunta: por que colocar humanos em tantos blocos dramáticos? Para revirar os olhos com piadinhas ao som de uma boa trilha sonora? Para ver um veterinário de kaiju, um blogueiro ativista e dois reais ou uma adolescente misteriosa integrarem uma equipe de expedição emergencial à Terra Oca? Para aturar especialistas em ciência falsa dialogando sobre o equivalente a rebimbocas de parafuseta, molas de grampola e arruelas de grapeta? O filme responde “sim!” a todas essas perguntas, infelizmente. E com isso, todos saem perdendo, claro.

SPOILERS!

Visualmente, a obra consegue impressionar em suas representações da Terra Oca ou até mesmo das batalhas, todas minimamente engajantes (ou é o meu fascínio por ver kaiju se arrebentando ou arrebentando coisas, vai saber). No entanto, sobra espaço demais para questionar as consequências da destruição causada nas cidades, e isso é ainda mais intenso porque temos diversos lugares do mundo arrebentados pelos monstros, do Cairo ao Rio de Janeiro! Sem um impacto bem trabalhado na Terra e com o Skar King sem apresentar cinco minutos de verdadeiro perigo, o que sobra? Muita gente vai apontar o mini Kong (ignorando o seu questionável efeito de animação, design e movimentos), inserido para completar o “fator fofura“, igualmente replicado no núcleo humano com a adolescente Jia (Kaylee Hottle) e, obviamente, a icônica Mosura, outra coadjuvante de luxo, infelizmente servindo de Deus Ex Machina para o roteiro. Nenhum desses personagens, porém, supre aquilo que o protagonista e o enredo deveriam trazer. Nem Godzilla se salva, em termos de colocação na história. Só o sensacional Shimo, que é escravizado por Skar King, parece ter sua presença bem ancorada em justificativa, ação, desenvolvimento e conclusão de seu arco narrativo.

Dá a impressão que o filme foi produzido como um agrupamento de episódios inéditos da série Monarch, editados num bololô ensandecido de fotografia deslumbrante e lutas que impressionam, só que embrulhados num enredo que nada faz para parecer escrito por pessoas em pleno domínio de suas faculdades mentais, deixando-nos com um daqueles exemplares que até certo ponto diverte, até certo ponto é bonitinho, mas no todo é absolutamente ordinário.

Godzilla e Kong: O Novo Império (Godzilla x Kong: The New Empire) — EUA, 2024
Direção: Adam Wingard
Roteiro: Terry Rossio, Simon Barrett, Jeremy Slater
Elenco: Rebecca Hall, Brian Tyree Henry, Dan Stevens, Kaylee Hottle, Alex Ferns, Fala Chen, Rachel House, Ron Smyck, Chantelle Jamieson, Greg Hatton, Kevin Copeland, Tess Dobré, Tim Carroll, Anthony Brandon Wong, Sophia Emberson-Bain, Chika Ikogwe, Vincent B. Gorce, Yeye Zhou, Jamaliah Othman, Nick Lawler, Robert Clavero, Patrick Moroney
Duração: 115 min.

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