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Crítica | Godzilla: Aqui Há Dragões (Here There Be Dragons)

Aqui não há um roteiro bom...

por Ritter Fan
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Tenho para mim que o conceito por trás da existência de Godzilla não funciona muito bem em qualquer período antes da era atômica, pelo que é necessário afastar esse preconceito eventualmente compartilhado por mais pessoas para se ter alguma chance de apreciar Godzilla: Aqui Há Dragões (minha tradução direta de Here There Be Dragons), minissérie em quadrinhos da IDW escrita por Frank Tieri e desenhada por Inaki Miranda, que se passa no século XVI e lida com o lagarto atômico e diversos outros monstros de sua mitologia em meio a espanhóis e britânicos lutando pela hegemonia marítima do mundo. Essa premissa foi, ironicamente, o que me atraiu para a publicação, além da arte de Miranda, pois fiquei curioso para entender como é que Tieri justificaria essa salada narrativa.

Ao terminar de ler, porém, fiquei com dúvidas se ele realmente havia conseguido justificar Godzilla dizimando a Armada Espanhola e Sir Francis Drake atrás de um tesouro escondido 200 anos antes na Ilha Monstro, pois tudo me pareceu escrito na base do “senta aí, leiam e aceite sem discutir muito a lógica dessa coisa toda”. Ainda que haja tentativas de se criar uma misteriosa conspiração “godzilliana” que chega até a Rainha Elizabeth I, a costura é fraca e faltou estofo para sustentar a história para além do que coloquei entre aspas logo antes. E sequer reputo injusto caninamente aceitar qualquer coisa colocada no papel, pois, no final das contas, a culpa recai em meu colo por ter escolhido ler essa minissérie. Tieri não tem a menor intenção de fazer algo mais do que a premissa estabelece, ou seja, o lagartão enfrentando caravelas e outros monstrengos, com uma narração a partir de um dos marujos no célebre navio de Sir Francis Drake, o Golden Hind.

Aliás, se é decepcionante que Tieri não tenha tentado algo mais sofisticado para fazer esse casamento entre Godzilla e exploração marítima europeia no século XVI, não posso dizer o mesmo da forma como a história é contada, com o pirata caolho Henry Hull sendo interrogado por um capitão britânico em uma prisão no território britânico no Caribe e usando suas desventuras com Drake e Godzilla para adiar seu enforcamento. Tieri começa com Hull e intercala passado e presente, revelando vagarosamente os mistérios do que Hull conta e também não dando muitas pistas sobre o interesse das autoridades sobre o que ele tem a dizer. Com esse artifício, o ritmo narrativo funciona muito bem e torna a leitura agradável, algo ajudado por um Hull debochado, beberrão e que cada vez mais parece se aproximar de um efetivo acordo para sair livre de suas correntes.

Ajuda muito que a arte de Inaki Miranda seja lindíssima, especialmente quando ele trabalha páginas duplas que lidam com os monstros em toda sua gloriosa e gigantesca escala. Como o texto de Tieri é ambicioso, ainda que razoavelmente ilógico considerando que Hull chama Godzilla de Godzilla e os demais monstros também por seus nomes, tudo ter achado um templo em que tudo era aparentemente escrito de forma que ele pudesse entender, o que abre espaço para uma variedade grande de criaturas e de pancadaria entre elas, além de ataques aos humanos que estão ali para serem pisoteados, queimados e arremessados para todos os lados, menos Hull, o único personagem mais completo e Drake, que é, basicamente, um não-personagem que vive só de sua lenda e de toda a deferência que Hull tem em relação a ele. Não gosto muito das cores digitais de Eva de la Cruz, por serem muito “limpinhas” demais, mas admito que elas combinam com os figurinos das autoridades britânicas e de Drake, além de também quando vemos os navios espanhóis e britânicos enfrentando-se.

Aqui Há Dragões é uma história que chama atenção pelo inusitado da premissa e prende pela narração de Hull, mesmo que a história de fundo seja fraca demais e bastante preguiçosa. O que vale mesmo é a arte majestosa de Miranda tanto nas capas quanto no interior, algumas delas dignas de serem enquadradas e colocadas na parede. Tirando isso, o que temos é, apenas, uma pequena curiosidade na vasta mitologia do Lagarto Atômico.

Godzilla: Aqui Há Dragões (Godzilla: Here There Be Dragons – EUA, 2023)
Contendo: Godzilla: Here There Be Dragons #1 a 5
Roteiro: Frank Tieri
Arte: Inaki Miranda
Cores: Eva de la Cruz
Letras: Nathan Widick
Editoria: Jamie S. Rich
Editora original: IDW Publishing
Datas originais de publicação: junho a novembro de 2023
Páginas: 139

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