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Crítica | Godzilla 2000: Millennium

Uma nova Era para o lagartão atômico.

por Luiz Santiago
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Godzilla 2000: Millennium, lançado em 1999, foi uma resposta rápida da Toho ao longa dirigido por Roland Emmerich e produzido pela TriStar (Godzilla, 1998), cuja abordagem desagradou público, crítica, investidores e donos dos direitos do lagartão atômico. A proposta, aqui, era trazer a besta radiativa para uma nova série cinematográfica, a chamada Era Millennium, que procuraria colocar mais pontos de vista no núcleo humano e explorar mais questões tecnológicas na relação das pessoas com o kaiju. Este, por sua vez, não seria mais tratado como um “amigão desastrado da Terra“, mas uma força incontrolável da natureza que, por motivos não muito claros, defende o planeta de ameaças grandiosas bem piores que ele.

O roteiro da obra, escrito a 6 mãos, não faz referência aos acontecimentos de nenhum dos filmes anteriores, ou seja, a linha de produção de Millennium está unicamente em aproveitar o imaginário do público sobre Godzilla, mas não o seu legado cinematográfico. Tudo o que está estabelecido nessa trama é que o gigante já atacava o Japão há algum tempo, ou seja, seu poder de destruição e comportamento às vezes inexplicavelmente destrutivo (como na rajada de fogo que expele na cena final deste filme, destruindo metade da cidade sem nenhum motivo justificável) já era conhecido e temido pelos japoneses. O interessante é que nas informações cedidas pela Toho em seu antigo site “godzilla.jp” (hoje, incorporado ao “godzilla store“), havia a explicação de que esta versão do kaiju é a “sequência direta do Godzilla original“, do filme de 1954.

De certa forma, é possível notar o trabalho que a equipe fez para dar suporte a essa intenção representativa. O tamanho do titã é diferente, de fato, se comparado aos colossos das películas anteriores, e está próximo da versão de Ishirô Honda, inclusive no formato do rosto e nos espinhos dorsais. É, portanto, um trabalho de múltiplos lados de criação: retorna à estética cinquentista; lança mão de um desenvolvimento dramático parecido com o da Era Heisei; e faz uma costura narrativa e tecnológica típicas da década de 1990. Tal mistura dá à fita uma aparência de falta de identidade. No entanto, isso não impede que tenhamos momentos bem chamativos na obra, como a trajetória até a aparição dos devastadores; os ataques feitos pelo Exército ao Godzilla; e a batalha contra Orga, o alien em forma de rocha/nave espacial (Millennian UFO) encontrado numa fossa marítima — aliás, o momento em que o “visitante” copia o DNA do Godzilla e se transforma parcialmente é uma cena incrível da luta entre as duas feras, finalizada com perfeição, num sopro atômico do lagarto.

Tanto nos efeitos especiais pouco atraentes quanto na dinâmica de passagem destruidora das criaturas pela cidade, o filme é muito similar a diversas obras do gênero, e talvez por isso mesmo não consiga empolgar tanto quanto deveria. A pior coisa da fita, contudo, em referência ao núcleo humano, é a configuração de “vilão canastrão” dada a Mitsuo Katagiri (Hiroshi Abe), chefe da agência governamental Crisis Control Intelligence (CCI). A birra travada entre ele e Godzilla, com direito a uma cena de “vingança” do bichão, no desfecho da obra, foi uma opção dos roteiristas para colocar mais força sentimental no enredo, mas isso acabou deixando Katagiri com cara de “antagonista barato“, fazendo-o protagonizar uma cena ridícula, num momento muito importante do filme. No restante do tempo, porém, salvo as atitudes estúpidas de alguns personagens (como as de uma certa fotógrafa provocando Godzilla com o flash da câmera, ou de um homem deslizando por um cabo de elevador, com as mãos nuas), o núcleo humano funciona de maneira mais ou menos aceitável.

Millennium é um início mediano para uma Era que tentaria dar uma cara mais cheia de implicações geográficas e ao mesmo tempo mais realista aos filmes de Godzilla, atualizando, simultaneamente, os debates em torno da segurança do planeta e o questionamento derradeiro a respeito do mítico rugidor: afinal, nós precisamos ou não da atuação do Rei dos Monstros para nos salvar de outros candidatos a “rei dos monstros”?

Godzilla 2000: Millennium (ゴジラ 2000 MILLENNIUM / Gojira ni-sen mireniamu) — Japão, 1999
Direção: Takao Okawara
Roteiro: Hiroshi Kashiwabara, Wataru Mimura, Takao Okawara
Elenco: Takehiro Murata, Hiroshi Abe, Naomi Nishida, Mayu Suzuki, Shirô Sano, Takeshi Ôbayashi, Shirô Namiki, Sakae Kimura, Bengal, Ken’ichi Nagira, Kenichi Ishii, Yoshimasa Kondô, Kôichi Ueda, Yoshiyuki Ômori, Masahiko Nishimura, Satomi Achiwa, Denden, Atsuko Kohata, Yutaka Matsushige
Duração: 99 min.

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