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Crítica | Gen V – 1X08: Guardians of Godolkin

Um encerramento massacrante.

por Ritter Fan
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  • Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos demais episódios e séries do universo e, aqui, dos quadrinhos.

Tenho para mim que, mesmo com um excelente planejamento, escolher a forma de se acabar uma temporada de série – de qualquer série – é um grande desafio, especialmente quando os episódios anteriores são quase que uniformemente muito bons como é o caso do ano inaugural de Gen V. Há a necessidade de não só encerrar arcos, como preparar a continuidade da história e tudo levando em consideração que normalmente se espera um encerramento bombástico.

De um ponto de vista bastante cínico, portanto, a escolha de Eric Kripke, em Guardians of Godolkin, foi a mais simples possível. Afinal, nada como usar da muleta da violência explícita, da pancadaria com muito sangue e tripas, para criar um clímax em que qualquer eventual defeito pudesse ser escondido sob a pilha de corpos resultante de um massacre. No entanto, indo além do cinismo, é fácil concluir que o episódio final da temporada pode até ter sido o mais cômodo e “atraente” para quem vive na superfície e sequer coloca o rosto dentro d’água para ver o que está logo abaixo, mas ele também foi exatamente o que Gen V precisava.

Para começo de conversa, certamente não preciso me alongar muito sobre a correlação com os massacres escolares nos EUA e em alguns outros países do mundo, não é mesmo? Isso não só está no aviso anti-gatilho que abre o capítulo, como os paralelos com a realidade são óbvios e explícitos demais para alguém deixar de perceber a mensagem que a série tenta passar sobre a lavagem cerebral de mentes jovens e imaturas. E vale deixar bem claro que não considero a obviedade e a explicitação aspectos negativos aqui, pois tudo funciona de maneira fluida e lógica a partir dos eventos que culminaram com o assassinato da reitora Shetty por uma raivosa, vingativa e traumatizada Cate no episódio anterior.

O que segue, ou seja, Cate e Sam partindo para libertar os prisioneiros remanescentes da Floresta e convencê-los a juntar-se em uma cruzada anti-humanos (ou anti-seres inferiores em outro paralelo evidente) é, por todas as razões mais erradas possíveis, catártico. Afinal, mesmo com baixas inocentes, são mesmo os humanos sem Composto V nas veias os responsáveis por todas as grandes mazelas desse universo, inclusive tudo aquilo que vemos os jovens perturbados fazerem no episódio. É, para todos os efeitos, a conclusão lógica de uma jornada fascinante sobre a corrupção da juventude.

A presença de Ashley Barrett na God U. é apenas uma espécie de cereja no bolo, de forma a tornar ainda mais “justificável” a chacina, mesmo que fique claro desde o início que ela não morreria, pelo menos não na série derivada de The Boys. É como se a produção estivesse provocando seus espectadores, fazendo-nos escolher o lado errado que a série tanto critica apesar de tanta gente aqui do nosso mundo real não perceber. Tudo é servido em uma bandeja de prata em que o cinza inexiste e tudo passa a ser ou branco ou preto. Morticínio, sangue, tripas, superpoderes, computação gráfica, efeitos práticos e todo o restante formam um espetáculo para entorpecer mentes que joga em nosso colo a obrigação de entender o que realmente está sendo satirizado, um exercício de separação do joio do trigo.

Até mesmo Marie e Andre são desafiados, escolhendo, porém, lutar contra Cate e Sam seja por decência humana, seja por querer proteger os amigos e também algozes. Há, nos dois, um fiapo perfeitamente corruptível, vale dizer, de inocência super-heróica que eles usam, ao lado de Emma e Jordan, esses menos complexos em suas escolhas, para formar o supergrupo do título que foi tão mencionado ao longo da temporada. É como um último bastião de inocência e resistência em um mundo podre e sem salvação.

Isso, claro, até Homelander chegar e, em uma reviravolta que de reviravolta não tem nada, neutralizar os heróis para transformá-los em vilões e canonizar os vilões como os verdadeiros Guardiões de Godolkin, tudo para sustentar a ideia de que, no topo, só chegam aqueles que menos tiverem traços de decência e moralidade. Essa jogada, que vem depois de belos atos heróicos de Andre e Marie (aquelas adagas de sangue de pessoas já mortas foram sensacionais, não?), cria o perfeito ambiente para uma segunda temporada com um novo e aflitivo status quo em que os quatro heróis vilanizados perante a opinião pública tornam-se cobaias na versão 2.0 da Floresta ao que tudo indica.

Óbvio que, se as interconexões de Gen V com The Boys já eram consideráveis, agora então é que as duas séries parecem ser uma só, com direito até mesmo a Billy Bruto aparecer inspecionando as ruínas da Floresta original. Como Kripke lidará com isso, não faço ideia, mas esse parece ser um caminho sem volta que pode ser perigoso para o futuro de Gen V. Todavia, lógico, temos que esperar para ver o que o showrunner tem guardado na manga para lidar com esse potencial problema.

Gen V – 1X08: Guardians of Godolkin (EUA, 03 de novembro de 2023)
Desenvolvimento: Craig Rosenberg, Evan Goldberg, Eric Kripke
Direção: Sanaa Hamri
Roteiro: Brant Englestein
Elenco: Jaz Sinclair, Chance Perdomo, Lizze Broadway, Maddie Phillips, London Thor, Derek Luh, Asa Germann, Alexander Calvert, Sean Patrick Thomas, Colby Minifie, Antony Starr, Karl Urban
Duração: 39 min.

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