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Crítica | Gen V – 1X07: Sick

Vidas de supers importam!

por Ritter Fan
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  • Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos demais episódios e séries do universo e, aqui, dos quadrinhos.

Confesso que comecei a assistir Sick com receio de que o penúltimo episódio fosse esfriar um pouco a temporada seja para deixar as reviravoltas para o final, seja porque algo me dizia que a estratégia da produção seria andar levemente de lado para permitir que as peças assentassem no jogo. Ledo engano. O episódio até começou de forma pouco promissora, ensaiando mais do romance adolescente entre Emma e Sam que vimos em Jumanji – e que eu gosto muito, só que seria talvez mais do mesmo muito cedo aqui -, somente para as críticas sociais, revelações, twists e participações especiais que amarram de vez o derivado à série principal começarem a vir em um fluxo tão constante que, quando tudo acabou, eu tinha certeza de que esse simplesmente tinha que ser o final de temporada e que eu havia erroneamente suposto que seriam oito episódios.

Mas são oito episódios e eu não sei o que mais pode acontecer agora, já que as portas estão abertas para absolutamente qualquer coisa.

Seja como for, Sick foi de uma riqueza tão impressionante que chega a ser surreal notar que todas as situações conseguiram ser trabalhadas de maneiras mais do que satisfatórias em menos do que 50 minutos, em uma demonstração do quanto a equipe de produção está azeitada, especialmente Eric Kripke no comando geral e a diretora Shana Stein e a roteirista Chelsea Grate no timão deste episódio em particular. Aqui, mais do que em qualquer outro episódio da série, é que notamos como o corpo discente da God U. é uma perfeita massa de manobra da Vought que, das mais diversas maneiras, o corrompe e o molda à sua imagem. Olhamos para os super-adolescentes dali e vemos muito claramente os super-adultos na Torre dos Sete e em outros supergrupos desse universo retorcido, mas que infelizmente guarda tantos paralelos com o nosso.

A manipulação de mentes frágeis é um dos mais evidentes motes da série, mas ver a inocência de Sam ser basicamente exterminada por frases de efeito cujo significado real sequer quem as fala realmente conhece e por atitudes defensivas próximas da violência é como olhar em um espelho da nossa realidade. A presença de Victoria Neuman (Claudia Doumit), uma humana que esconde seus terríveis superpoderes do público em geral e que está no bolso da Vought como candidata à vice-presidência dos EUA com uma plataforma insidiosa que parece ser anti-supers, mas que não é, foi uma escolha acertadíssima da produção para gerar esse efeito em Sam. E não, não foi rápido demais e não foi inverossímil. Palavras certas em momentos certos (ou palavras erradas em momentos errados, lógico) e pensamento de manada não são lendas urbanas e isso é particularmente verdadeiro em uma mente frágil como a do rapaz.

E, para mostrar que a participação de Neuman em Gen V não foi apenas algo de momento, temos a revelação de que a natureza de seus poderes é a mesma de Marie Moureau em uma sequência que pode ter sido imaginada lá atrás por Kripke ou que pode ter sido apenas um retcon, mas que não deixa de ser muito bem bolada e que faz todo sentido, exatamente para transformar a personagem na sereia cujo canto pode levar a protagonista da série derivada a corromper-se, ainda que eu ache que ela seja mais resistente a essas manipulações do que a média de seus colegas. Há muito o que pode ser feito em termos narrativos com essa conexão entre a traumatizada Moreau e uma velhaca instrumento da Vought – e provável futura vice-presidente – como Neuman.

Mas o que dizer do fantástico desenvolvimento do arco de Cate? De uma namorada troféu do mais popular aluno da God U. que foi espertamente enquadrada como a arquetípica “loira burra” no começo da temporada, ela tornou-se uma justiceira que acha que matar aqueles que fizeram mal a ela e a seus amigos é a solução para tudo. O paralelo com a conversão de Sam é evidente e, para que não haja dúvida alguma disso, essa correlação acontece na própria sequência em que ela faz com que a reitora Shetty corte seu próprio pescoço depois de confessar tudo a todos ali, com o jovem afirmando que os supers são melhores do que humanos e que o que Cate fez foi justiça. Corrupção pelo efeito de manada e corrupção pela dor, com Cate criando um arco que nem mesmo Chris Claremont conseguiu construir com tanta eficiência para transformar Jean Grey na Fênix Negra na clássica saga oitentista dos quadrinhos. Escrevi alguma heresia? Pode ser, mas acho que não, pois aquela sugestão psíquica para Marie não ajudar Shetty com seus poderes foi de arrepiar os cabelos da nuca…

Agora que nosso Marco Pigossi tenha tido sua participação explosivamente encerrada na série (convenhamos que há poucas maneiras melhores de sair de uma série do que ter a cabeça de seu personagem explodida, não é mesmo?), deixando o vírus letal nas mãos de Neuman, mas com Grace Mallory (Laila Robins) amplamente ciente de sua existência, a barreira que existia entre Gen V e The Boys parece não mais existir. Isso pode ser ótimo para esse universo da mesma maneira que pode facilmente descambar para interconexões que tenderão a diminuir o impacto de cada uma das séries. Só o tempo dirá como a banda tocará, e, pelo menos no que se refere a Gen V, Kripke e companhia ainda não conseguiram chegar próximos de errar. Que continue assim e que venha o episódio final!

Gen V – 1X07: Sick (EUA, 27 de outubro de 2023)
Desenvolvimento: Craig Rosenberg, Evan Goldberg, Eric Kripke
Direção: Shana Stein
Roteiro: Chelsea Grate
Elenco: Jaz Sinclair, Chance Perdomo, Lizze Broadway, Maddie Phillips, London Thor, Derek Luh, Asa Germann, Shelley Conn, Alexander Calvert, Sean Patrick Thomas, Marco Pigossi, Claudia Doumit, Laila Robins
Duração: 48 min.

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