Home FilmesCríticas Crítica | Garra de Ferro (2023)

Crítica | Garra de Ferro (2023)

Os bastidores da luta.

por Felipe Oliveira
3,K views

Das muitas abordagens que Sean Durkin poderia trazer ao contar as tragédias que acometeram os Von Erich, famosa família no esporte da luta livre, é interessante a sua escolha em focar num recorte dramático denso que consegue extrair boas performances do seu elenco. Temos um filme que aposta na caracterização física – como um símbolo – dos personagens mas que deixa o ringue em segundo plano, quase em um tom teatral e caricato, sem urgências para as lutas que sucedem. Embora não traga com intensidade os acontecimentos da história real, Durkin opta por um olhar sutil para discorrer os sentimentos que ruíam qualquer mérito vindo do wrestling na família Von Erich.

Essa sutileza parte bastante da cena que abre Garra de Ferro, como se fosse um filme protocolar de esporte do ponto de vista da superação com um pai realizando suas metas e paixão pelo ringue através dos filhos. Chega a ser quase inofensivo por um momento antes dessa impressão se revelar uma obsessão que se projeta na masculinidade. Ainda que não se conheça a história a qual o filme é baseado, o telespectador é colocado na narrativa sufocante de Durkin tal como seu protagonista Kevin (Zac Efron) que sofre junto aos seus irmãos com a rígida tirania do pai, Fritz Von Erich (Holt McCallany) mas que também se torna um observador que não consegue se opor a esse ringue familiar com regras próprias.

Partindo desse ponto, essa percepção coloca uma carga a mais ao papel de protagonista de Efron que se torna a linha tênue entre consciência e a loucura absurda que o líder de família dita. O primeiro exemplo da observação de Kevin é quando o pai é duro com um dos irmãos e ele tenta ajudar pedindo a intervenção da mãe, o que mostra que todos foram se moldando conforme a figura paterna projeta, requerendo uma masculinidade inabalável que se disfarça na ideia de conquistar os maiores títulos no esporte que acompanha os Von Erich. É interessante como a sutileza na direção faz encarar – mesmo que brevemente – a masculinidade muito mais pelo companheirismo dos irmãos do que um fardo, enquanto que é pelo telespectador observar também o protagonista – em como ele se sente a cada tragédia que surge – que a ideia da masculinidade assume seu posto de “maldição”, sentença que é tanto falada como um mal no sobrenome da família. 

Para os Von Erich, a masculinidade precisa ser sinônimo de dever, de negação ao fracasso e de força acima de qualquer coisa – até em frente ao luto que passa a ser um sentimento recorrente. Quando a direção passa a desviar dessa sutileza e mostrar que cada luta se converte em derrota para a família – é só olhar para Efron, responsável por sentir o peso das projeções do pai – um tom angustiante, que também chega aos poucos, vai assumindo a narrativa. A primeira perda chega em forma de notícia, mas é por lembrarmos da conversa com Kevin e seu irmão no banheiro tentando minimizar as consequências que seu corpo vem sofrendo para ganhar outra luta é que olhar para essa história vai de encontro a um incômodo sufocante. 

Conhecendo a filmografia de Durkin, era de esperar que Garra de Ferro não se trataria de um cinebiografia bem humorada sobre uma família importante do WWE – o recorte da amizade dos irmãos e a caracterização musculosa quase fez parecer um indie de feiosos do wrestling com masculinidade inofensiva – e o resultado são bastidores das figuras que destacaram no esporte na década de 80. Se pretendia ser um drama comovente ou não, o longa tem seu peso, principalmente ao contar com uma performance de destaque para Efron e seu Kevin chegando no limite que toda projeção paterna causou. Durkin prepara um desfecho inesperado que mantém a sacada de tocar a história com uma abordagem diferente do que se imagina ao falar de luta livre, com uma linha de diálogo final certeira enquanto conversa sobre luto e masculinidade.

Garra de Ferro (The Iron Claw – Reino Unido – EUA, 2023)
Direção: Sean Durkin
Roteiro: Sean Durkin
Elenco: Zac Efron, Jeremy Allen White, Harris Dickinson, Maura Tierney, Stanley Simons, Holt McCallany, Lily James
Duração: 137 min.

Você Também pode curtir

Este site usa cookies para melhorar sua experiência. Presumimos que esteja de acordo com a prática, mas você poderá eleger não permitir esse uso. Aceito Leia Mais