Home FilmesCríticas Crítica | Garota Sombria Caminha pela Noite (2014)

Crítica | Garota Sombria Caminha pela Noite (2014)

por Lucas Borba
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Garota Sombria Caminha pela Noite é o típico “filme de arte”, como se diz levianamente. Proporciona uma viagem por uma experiência sensorial muito particular, experiência essa definida pela identidade, formação e estado de espírito de quem conseguir ou não se prender à narrativa caótica, em termos de roteiro, proposta pelo longa.

Trata-se de uma produção em preto e branco, filmada nos EUA – pasmem, em apenas vinte e quatro horas -, mas por imigrantes iranianos. Baseada em um curta de 2011 da mesma diretora – que também tem uma participação bizarra como atriz na trama -, conquistou os prêmios de Revelação em Deauville, Gotham e Havai. Também foi indicada ao Independent Spirit Award de Diretor Revelação, Fotografia e Filme de Estreante, e no Festival Fantástico de Sitges Espanha, por Diretora Revelação e Filme Jovem.

A trama se passa na fictícia Bad City (Cidade do Mal, em tradução livre), na verdade rodada na cidade de Taft, Califórnia. Típico nome que tem como única função explicitar o que o estado da cidade – um espaço urbano no qual a indústria, drogas e prostituição se destacam – já deixa claro. Nesse familiar cenário de desolação e degradação humana, transitam pela tela e pelas ruas escuras uma vampira (Sheila Vand) impiedosa com traficantes e viciados, uma prostituta expressiva, um menino arteiro e o jovem filho do viúvo drogado interpretado por Marshall Manesh; rapaz que a chupadora de sangue encontra vestido de Drácula quando este sai de uma festa a fantasia e com o qual inicia uma relação com ares de romance.

De fato, é o tipo de roteiro que deixa qualquer didatismo ou dinamismo de lado. Com poucos diálogos, prende-se a momentos, atmosferas e ambientes por longos minutos, desde uma festa à perspectiva de um viciado sob o efeito da droga, exigindo pura e somente nossa contemplação. Tudo regado a uma trilha que vai do rock persa à música eletrônica e erudita com soberba naturalidade, talvez até a experiência mais marcante de toda a produção.

O real problema do longa acaba sendo a demasiada dependência do roteiro na expressividade do elenco, sem investir em mais recursos narrativos que possibilitem uma construção identitária mais forte para os personagens, dificultando, assim, que nos identifiquemos com eles. Apesar disso, é aquela obra com o tipo de estrutura narrativa que parece mais propor ao expectador que se coloque no lugar das figuras em tela, preenchendo-as com seu próprio eu, ao invés de querer que ele se deixe absorver por suas histórias. Ainda assim, o diálogo do hambúrguer merece destaque, por dizer muito acerca da posição de cada uma das partes do referido casal em seu relacionamento e talvez representar o auge do teor contemplativo do filme – se o trecho prender sua atenção, é fácil começar a assistir a ele com um estado de espírito e terminá-lo com outro totalmente diferente.

Infelizmente, é um trabalho que tende a logo ser esquecido, exceto se, como acontece em casos bem específicos – mas não creio que seja o caso aqui -, passar por uma revisão crítica e começar a ser cultuado por uma minoria. No melhor ou pior sentido, porém, ele com certeza deixará uma marca em você, mesmo que nem a perceba.

Garota Sombria Caminha pela Noite (A Girl Walks Home Alone at Night, EUA – 2014)
Direção: Ana Lily Amirpour
Roteiro: Ana Lily Amirpour
Elenco: Sheila Vand, Arash Marandi, Marshall Manesh, Mozhan Marnò, Dominic Rains, Rome Shadanloo, Milad Eghbali, Reza Sixo Safai, Ray Haratian, Ana Lily Amirpour
Duração: 101 min

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