Home TVTemporadas Crítica | Gamera: O Renascimento – 1ª Temporada

Crítica | Gamera: O Renascimento – 1ª Temporada

O conto de uma tartaruga que voa e cospe fogo.

por Kevin Rick
1126 views

Apesar de não conhecer tanto do universo cinematográfico de Kaijus como meu colega Luiz Santiago (que tem um fantástico e gigantesco catálogo de obras desse tipo), também gosto dessas histórias. Obviamente que Godzilla é o personagem mais associado com produções sobre esses monstros, mas recebi a curiosa recomendação de assistir Gamera: Renascimento, uma nova animação que tenta reerguer a franquia de um primo distante do lagartão. Confesso que não conhecia o protagonista, tampouco assisti as produções que vieram antes da série da Netflix, mas gostei do personagem titular logo de cara: uma tartaruga gigante que cospe fogo, voa com propulsão a jato e consegue girar como se fosse uma Beyblade. Simplesmente divertido.

A história em si é extremamente simplista, como se espera de narrativas sobre monstros colossais gladiando e destruindo cidades. Em linhas gerais, uma empresa mineradora acaba encontrando uma série de ovos que eventualmente eclodem e se transformam em um enxame de criaturas voadoras. A partir disso, diversos monstros começam a atacar Tóquio e seus arredores, com Gamera, o amigão da vizinhança, sempre aparecendo para salvar o dia. A tartaruga gigante também tem uma conexão com um grupo de crianças que se veem no meio das batalhas.

A participação dos garotos é clássica: o final das férias de verão nos anos 80, crianças nerds andando de bicicleta, valentões aparecendo, cientistas surgindo e uma trama de amizade como fio condutor da ação, bem no estilo Stranger Things para ficarmos num exemplo recente. Apesar de nostalgia e referências não serem fatores preponderantes na série, o desenrolar da aventura dos garotos é extremamente genérico e estereotipado, mas contém seus momentos de fofura e o roteiro faz o possível para injetar personalidade no conto batido de coming-of-age do grupo. Nenhum deles são exatamente memoráveis, mas tampouco completamente esquecíveis, se isso faz sentido, sendo que me parece uma animação que facilmente agradará a audiência dos pequenos.

Além do desenvolvimento convencional, tenho outros dois problemas com a participação do grupinho de desajustados. Primeiro que o roteiro não sabe usar bons artifícios para colocá-los no meio da ação, principalmente depois do primeiro episódio, em que uma fundação de cientistas, militares e seus próprios pais simplesmente deixam as crianças nessas situações de perigo sem nenhuma justificativa, inclusive pedindo ajuda deles em diversos momentos da temporada. É tudo muito estranho. Segundo que os pequeninos ganham tempo demais de tela, na minha opinião. Mais da metade dos episódios, principalmente a partir do terceiro capítulo são focados nos garotos, com pouquíssimo tempo dado para o principal atrativo da produção: monstros lutando.

Esse fator humano é um problema crônico em muitas obras de kaijus, que se manifesta aqui também em forma de repetição. A partir do segundo episódio, o molde das tramas é sempre o mesmo: os garotos são levados a algum lugar pela fundação, um monstro emerge, Gamera aparece do nada e derrota ele. Isso é repetido até o final da temporada, o que deixa a experiência cansativa, ainda mais no sentido maratona da Netflix. Infelizmente, a mitologia da franquia e o leve discurso antibélico, com acenos críticos para a invasão dos EUA no Japão, não ganham muito espaço nessa repetição dos episódios.

No entanto, Gamera: Renascimento não chega a ser de todo ruim. Como falei, existe um certo carisma no relacionamento das crianças que não deixa a história ficar morosa e a produção é divertida quando os kaijus estão lutando, por mais que a impressão geral é de que a tartaruga ganha menos tempo de tela do que deveria e que a variedade dos combates poderia ter sido maior. Ainda assim, os designs das criaturas são incríveis; existe um certo nível de violência (sem gore) e leve horror que funciona; e animação, por mais que seja estranha e estática quando os humanos estão em tela, funciona muito bem quando os monstros estão no seu palco de batalha. No fim, esta temporada consegue entregar um entretenimento minimamente razoável, mas acaba ficando ali no grupo de mais uma produção genérica de kaijus e crianças. Talvez para quem tenha um certo carinho pela franquia, seja efetivamente um bom recomeço. Veremos.

Gamera: Renascimento (Gamera Rebirth) — Japão, EUA, 2023
Direção: Hiroyuki Seshita
Roteiro: Hiroyuki Seshita, Kenta Ihara, Hiroshi Seko, Tetsuya Yamada
Elenco: Hisako Kanemoto, Aki Toyosaki, Yoshitsugu Matsuoka, Subaru Kimura, Kazuya Nakai, Mamoru Miyano, Saori Hayami, Marie Ōi, Wataru Hatano
Duração: 06 episódios de aprox. 40 min. cada um

Você Também pode curtir

Este site usa cookies para melhorar sua experiência. Presumimos que esteja de acordo com a prática, mas você poderá eleger não permitir esse uso. Aceito Leia Mais