- SEM spoilers. Leia aqui, as críticas das demais temporadas.
Game of Thrones começou com grandes pretensões quando lançou o seu fantástico episódio piloto. Dizem que as grandes séries sempre demonstram seu potencial assim, logo de cara. E são poucas as que conseguem, em pouco mais de 1 hora, resumir tão bem sua essência: o jogo de intrigas, a complexidade dos personagens e a mitologia política a ser desenvolvida. É claro que manter a energia durante todo o percurso é algo muito arriscado para uma série, ainda com orçamento reduzido e tantas possibilidades a serem exploradas.
Com isso, a 1ª temporada fisgava bem a atenção no início, para depois ir testando suas possíveis identidades e marcando a possível transfusão de estilos. Talvez por isso, ela juntamente com esta 2ª temporada não tenha tanto apelo popular, pois o elemento fantástico é um mero pano de fundo, uma lenda dentro de um universo que ainda está sendo concebido. A segunda faz esse papel de expandi-lo com sutileza através das interações cotidianas dos demais personagens. Diferente da anterior, o senso de urgência é um mero pano de fundo, quem já gostou do que viu certamente iria continuar após a série mostrar do que é capaz, então agora é preciso criar o costume para com os personagens e desenvolvê-los.
O enfoque ainda está nas regras políticas e geográficas daquele mundo, e nesse sentido, a adaptação literal da saga As Crônicas de Gelo e Fogo, de George R.R Martin, no início é muito detalhista e didática, sem parecer apelativa. Ela não é óbvia, então há sim quem fique confuso com a quantidade de informações apresentadas, mas o roteiro sempre busca uma dosagem certa para criar uma gradativa curiosidade no público, em um ritmo próprio não estafante à medida que desenvolve os personagens. Esta temporada sacramenta o momento em que o telespectador vai começar a decorar nomes, identificar as diferentes famílias, os artefatos, os ambientes. É como um bom livro que nos traz todos os detalhes importantes para o futuro depois que as regras foram estabelecidas, a expansão feita é gradual com o orçamento ainda limitado, mas marca o início da transição para o fantástico, na inserção sutil de elementos mágicos e em jornadas individuais para conhecer lendas.
As subtramas são muito bem organizadas e distribuídas para além do tabuleiro de intrigas principais. Pode até parecer que elas quebram o ritmo, de fato o mais ameno da série como um todo, mas são de fundamental importância para o escopo principal funcionar. A trivialidade captura o espírito de que ninguém está a salvo, todos são reféns do jogo de poder, direta ou indiretamente. Quando se tem noção dos entornos de cada núcleo, o roteiro acinzenta e cria uma perspectiva cada vez menos maniqueísta. Sem o maniqueísmo mais claro, podemos empatizar com cada lado e ficar mais intrigados em como eles irão se resolver, e quem vai levar vantagem sobre quem na busca pelo trono.
Contudo, a objetividade mais acentuada do primeiro ano era mais estimulante para a quebra de expectativa, algo mais passivo no segundo. O clímax na “Batalha de Blackwater” é impressionante visualmente para a época que a TV estava vivenciando, mas não passa de uma constância de toda a temporada, não é tão decisivo como outros grandes momentos da série. O objetivo talvez fosse, mas faltou dar um tira-gosto mais saboroso da caráter épico do universo medieval. Ao menos, ainda dentro de um tom introdutório, a segunda temporada cumpre seu objetivo e aproveita-se bem de suas limitações, entrega algo bem conciso dentro do que pode para a sensação de “quero mais” ser entregue e recompensada no futuro.
Game of Thrones – 2ª Temporada | EUA, 2012
Criação: David Benioff, D.B. Weiss (baseado em obra de George R. R. Martin)
Direção: Alan Taylor, Alik Sakharov, David Petrarca, David Nutter, Neil Marshall
Roteiro: David Benioff, D.B. Weiss, Bryan Cogman, Vanessa Taylor, George R. R. Martin
Elenco: Peter Dinklage, Lena Headey, Nikolaj Coster-Waldau, Michelle Fairley, Emilia Clarke, Aidan Gillen, Iain Glen, Kit Harington, Charles Dance, Liam Cunningham, Isaac Hempstead Wright, Richard Madden, Sophie Turner, Maisie Williams, Alfie Allen, John Bradley, Jack Gleeson, Rory McCann, Natalie Dormer, Stephen Dillane, Carice van Houten, James Cosmo, Jerome Flynn, Conleth Hill, Sibel Kekilli, Rose Leslie, Jason Momoa, Hannah Murray, Daniel Portman, Gwendoline Christie, Joe Dempsie
Duração: 10 episódios – 50 minutos em média cada episódio