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Crítica | Galeria do Terror – 1X00: O Cemitério, Olhos e A Rota de Fuga

por Luiz Santiago
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Criada e apresentada por Rod Serling, a série Galeria do Terror (Night Gallery) estreou na NBC em 8 de novembro de 1969. Embora estivesse à frente da série e escrevesse muitos de seus roteiros (o show era uma antologia de histórias de terror, envolvendo algum elemento macabro e/ou sobrenatural), Serling não tinha aqui o mesmo controle dado a ele sobre The Twilight Zone, sua famosa série anterior. Night Gallery ficou no ar por três temporadas, com um total de 50 episódios produzidos, o último deles indo ao ar em meados de 1973.

No presente compilado, trago as críticas para os três segmentos do episódio 1X00 de Night Gallery: The Cemetery, dirigido por Boris Sagal; Eyes, dirigido por Steven Spielberg e Escape Route, dirigido por Barry Shear. Os três segmentos foram roteirizados por Rod Serling.

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O Cemitério

Night Gallery 1X00 (A)

Exibido em 8 de novembro de 1969, O Cemitério é o primeiro dos três segmentos que formam o episódio piloto (também indexado como episódio zero) da série Galeria do Terror. A proposta geral de apresentação aqui vem a partir de um curador ou guia artístico, interpretado por Rod Serling. Nos três casos, ele nos entrega uma visão geral e muito breve da pintura que vai nos apresentar e então a câmera se aproxima e “entra” nessa realidade, onde presenciamos algo diretamente ligado ao que foi retratado na tela. A proposta é ótima e conta, nesse primeiro ato, com uma trama de forte teor psicológico, resumida oficialmente da seguinte forma: após matar o seu tio, um homem (Roddy McDowall) é assombrado por uma pintura na mansão da família. Uma pintura que está constantemente mudando.

Inicialmente o roteirista (nos três casos, o texto é de Rod Serling, como indiquei na introdução) e o diretor Boris Sagal se aproveitam de um conflituoso caso familiar para trazer ao espectar um sentimento de injustiça e desejo de vingança. A atuação propositalmente afetada de Roddy McDowall e a calmaria de Ossie Davis, que vive Osmund Portifoy, são o contraste que nos faz criar uma porção de juízos de valor em relação aos dois e, a partir daí, apreciar ou se enraivecer com as ações deles. Até certo ponto do episódio as coisas vão “normais até demais”, mas quando a reviravolta acontece, é algo que realmente nos agrada. A edição, nesse aspecto, funciona a favor do suspense e do elemento de terror, embora não nos convença de todo. A saga ainda é ajudada pela boa trilha sonora e pela forma cínica com que o roteiro trata o tema sobrenatural, vendo-o como parte integrante, mas não comumente percebida, desse Universo.

Existem alguns furos de adequação do sobrinho avarento na casa do tio e dos momentos posteriores à morte do velho, mas como a partir daí o mistério e o medo do quadro na parede é o que realmente ganham destaque, o espectador tem um tipo imediato — e bem medonho — de compensação, com um final realmente tenebroso, resultado que a contrastante direção de fotografia também compartilha (a brincadeira com o vermelho versus uma paleta de cores bem mais escuras aqui é sensacional). De certa forma, nos faz lembrar as histórias de loucura de Lovecraft, onde a forte razão é engolfada pelo elemento sobrenatural inicialmente renegado.

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Olhos

Night Gallery 1X00 (B)

A primeira reação da grande Joan Crawford ao descobrir que seria dirigida por um jovem de 21 anos de idade chamado Steven Spielberg, não foi das melhores. Ela se sentiu um tanto rebaixada e descontável em não ter um grande diretor para guiá-la ao longo desse segundo segmento para o Piloto de Galeria do Terror, onde interpreta uma infame mulher cega que faz de tudo para que consiga ver, mesmo que por algumas horas. Spielberg conta que no primeiro encontro deles, na casa da atriz, ele a encontrou de olhos vendados, preparando-se para o pequeno papel, andando pela casa como se estivesse realmente cega. Ao tirar a venda dos olhos e encontrar pela primeira vez o diretor, a atriz quase gritou de espanto.

O cineasta ainda conta que a atriz contatou o estúdio, perguntando se não tinha ninguém que não parecesse filho dela para ocupar o cargo de diretor. Não tinha. Meia hora de conversa entre o novato e a veterana, porém, mudou completamente a visão da diva, que no primeiro dia de filmagens fez um discurso para toda a equipe (com direito a uma pequena mentira de que “já tinha trabalhado com aquele jovem“) pedindo que todos o tratassem com respeito. E assim foi. Ao longo das filmagens, Spielberg a presenteou com uma rosa dentro de uma garrafa de Pepsi (empresa da qual Crawford era acionista majoritária), o que a deixou muito feliz e estreitou laços entre eles, que permaneceram amigos até a morte da atriz, em 1977.

Neste episódio de Galeria do Terror, Crawford interpreta muito bem uma mulher sem escrúpulos e muito ambiciosa. Seu imenso egoísmo é colocado no roteiro como uma questão de humanidade e ética, que pode ser visto também por uma camada emotiva. A ideia de que “todo mundo tem um preço” é levada às últimas consequências pela personagem, e com resultados tenebrosos. A afirmação do preço, contudo, é verdadeira, e o Universo acaba cobrando o preço dele também.

A direção de Spielberg aqui tem apenas alguns bons momentos. Ele é bastante burocrático na forma como apresenta os personagens, com movimentos de câmera e aproveitamento do espaço que não se eleva muito além do básico. Em alguns planos, contudo, o diretor consegue formar ótimas composições ao considerar a posição de um ator ou da própria Joan Crawford — em excelente atuação — diante de algum objeto, mas nada além disso. O roteiro de Rod Serling também não se aprofunda muito. A composição da protagonista é interessante e o dilema de seus olhos, idem, mas o final ganha um tom fantasioso, mais ou menos perturbador e um pouco forçado, que não combinam com o bom e racional ritmo do restante do episódio. O episódio serve, todavia, como um grande documento histórico da TV americana, mostrando o trabalho de um jovem diretor que se tornaria um dos grandes da História e um dos últimos papéis de uma lendária atriz da Era de Ouro de Hollywood.

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A Rota de Fuga

Night Gallery 1X00 (C)

Último segmento do Piloto de Galeria do Terror, A Rota de Fuga conta a história de um fugitivo nazista (vivido por Richard Kiley, numa baita interpretação) que está vivendo na Argentina, procurando fugir das pessoas que ele sabe que estão procurando por ele. Existe toda uma base política no roteiro que nos faz ver esse homem de maneira hostil desde o começo, seja pela forma como ele trata os outros, seja pelo seu olhar repleto de maldade ou pelos atos terríveis que sabemos que ele cometeu no passado. Esses elementos de construção do personagem realmente são muito bons. Mas infelizmente nem só disso vive o episódio.

A execução dessa crônica de fuga de um nazista realmente não emplaca. O diretor Barry Shear até tenta criar uma linha mais ágil de ação, misturando o tormento ético-moral e o terror em um mesmo núcleo narrativo, mas isso acaba não funcionando, porque as justificativas visuais ou literais para as ações do nazista se perdem pouco a pouco. Parece que a via crucis da culpa não consegue se completar de jeito nenhum, então o roteiro adiciona pequenos sofrimentos, algum isolamento e uma sensação de que algo muito ruim está para acontecer… só para deixar o enredo ainda mais tenso. No entanto, esta tensão não se completa.

A observação do protagonista para os quadros do museu é um tipo de desvio que me incomodou demais durante a sessão. Claro que seria necessário a inclusão de um quadro ou uma peça artística para marcar a temática do episódio, mas a maneira como foi feita aqui não funcionou. A trilha sonora e a atuação de Richard Kiley valem a pena, assim como o tema politicamente muito forte. Todavia, a fuga e a maldade meio soltas no episódio não fazem jus à temática. Uma pena.

Night Gallery 1X00: The Cemetery/Eyes/The Escape Route (EUA, 8 de novembro de 1969)
Direção: 
Boris Sagal (O Cemitério), Barry Shear (A Rota de Fuga), Steven Spielberg (Olhos)
Roteiro: Rod Serling
Elenco: Joan Crawford, Ossie Davis, Richard Kiley, Roddy McDowall, Barry Sullivan, Tom Bosley, George Macready, Sam Jaffe, Norma Crane, Barry Atwater, George Murdock, Tom Basham, Byron Morrow, Garry Goodrow, Shannon Farnon
Duração: 30 min.

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