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Crítica | Gabriel e a Montanha

por Guilherme Coral
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Realizar um filme sobre viagem ao redor do mundo já tem como dificuldade inicial as locações a serem retratadas na obra, requisitando um investimento muito maior que o normal a fim de custear as viagens do elenco e equipe de produção. Além disso é importante ter em mente, quando estamos falando de países com fortes problemas sociais, de baixa qualidade de vida e, claro, alto índice de miséria, que tais questões não podem ser tratadas de forma leviana. Gabriel e a Montanha, exibido nos Festivais do Rio, Cannes, além de outros ao redor do mundo, tem como grande tarefa mostrar os últimos dias da viagem do protagonista na África.

Dirigido por seu colega de faculdade e escola, Fellipe Barbosa, a obra nos conta a história de Gabriel Buchmann, um estudante de economia, que antes de entrar em seu mestrado no exterior, decide viajar pelo mundo a fim de entender a pobreza, que é justamente o foco de seus estudos. O longa tem início nos mostrando o corpo do viajante sendo encontrado na encosta do monte Mulanje, no Maláui, pela população local. A partir daí, voltamos alguns dias no tempo a fim de testemunhar os estágios finais de sua jornada, que foi encerrada tragicamente pouco tempo antes de seu retorno ao Brasil.

Uma mistura de reprodução e documentário, Gabriel e a Montanha é formado quase que exclusivamente por não-atores, com as pessoas que Gabriel encontrou ao longo de sua viagem sendo interpretadas por si mesmos, enquanto que  João Pedro Zappa e  Caroline Abras, de fato, atuam em outros papéis, como protagonista e sua namorada, respectivamente. A presença de curtos trechos de entrevistas com essas pessoas que o estudante encontrou nos países africanos jamais nos deixa esquecer qual será o destino final do viajante, aspecto que garante o tom mais trágico da narrativa, enquanto que prejudica um tanto nossa imersão, nos colocando como elementos externos ao filme, impossibilitando que mergulhemos nessa jornada, de fato, ao lado do jovem.

Felizmente, o longa acerta no tratamento da viagem em si. Focando na relação entre o protagonista e a população local, porém evidenciando as diferenças culturais e o ambiente mais humilde que muitos deles (se não todos) vivem, a obra funciona como um olhar que não busca chocar, mas sim mostrar como, na essência, não somos tão diferentes assim daqueles a um oceano de distância – questão que atua como problematizadora dessa disparidade social e econômica. Além disso, é importante notar como Gabriel sempre busca respeitar os costumes dos países estrangeiros, fugindo da abordagem turística, portando-se mais como local, aspecto que entra de acordo com a intenção dessa sua viagem e que João Pedro Zappa consegue capturar de maneira singular através de sua atuação.

Mesmo já sabendo do desfecho, a direção de Fellipe Barbosa consegue captar o sentimento do espectador nos minutos finais, fazendo dessa uma jornada que verdadeiramente nos toca, além de servir como belo olhar sobre culturas diferentes da nossa. Nessa mistura de documentário e filme baseado em fatos, mesmo com alguns deslizes, não conseguimos deixar de verdadeiramente nos importar com o que é mostrado em tela, o que já faz de Gabriel e a Montanha um obrigatório filme brasileiro.

Gabriel e a Montanha — Brasil, 2017
Direção:
 Fellipe Barbosa
Roteiro: Fellipe Barbosa, Kirill Mikhanovsky, Lucas Paraizo
Elenco: João Pedro Zappa, Caroline Abras, Alex Alembe,  Rashidi Athuman, John Goodluck, Luke Mpata
Duração: 131 min.

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