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Crítica | G.I. Joe: Comandos em Ação (2023) – Vols. 1 e 2

Continuando uma história única e infinita.

por Ritter Fan
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Como expliquei em (bem) mais detalhes neste Entenda Melhor, a licença para publicação de quadrinhos de G.I. Joe passaram para a Skybound Entertainment, empresa de Robert Kirkman conectada à Image Comics e a estratégia editorial foi dupla, com o próprio Kirkman capitaneando o recém-criado Universo Energon, em que as histórias dos Transformers e de G.I. Joe começaram do zero compartilhando um mesmo universo de forma a angariar novos leitores e com Larry Hama continuando a escrever a clássica HQ G.I. Joe: A Real American Hero em direta continuidade ao mesmo título da IDW Publishing, imediatamente editora anterior que, por sua vez, continuou de onde a Marvel Comics parou em 1994, sem nenhuma conexão com o Universo Energon. Com isso, a primeira edição da referida HQ é a #301, publicada em 15 de novembro de 2023, que pega a história a partir do cliffhanger da edição #300, publicada pela IDW em novembro de 2022.

O encadernado contendo o Volume 1 da publicação pela Skybound/Image contendo as edições #301 a 305 foi lançado no mesmo dia em que a edição #310, que encerra o Volume 2, chegou às bancas nos EUA, pelo que as críticas abaixo abordarão cada volume separadamente. Vamos lá?

G.I. Joe: Comandos em Ação (2023) – Vol. 1

Apesar de a edição #301 de G.I. Joe: A Real American Hero ser, para todos os efeitos, uma continuação direta da edição anterior por outra editora, edição essa que acabou em um cliffhanger enorme com um avião tripulado pelos Joes sendo atingido por um drone Cobra quando sobrevoava a Ilha Cobra, ela funciona também como um “ponto de entrada” para leitores novos, ou seja, uma HQ que pode ser lida por quem não conhece nada de G.I. Joe. Na verdade, deixe-me reformular o que disse: ela pode ser lida por quem não conhece nada de G.I. Joe e não se importa se não entender, logo de início, cada detalhe do que está acontecendo.

Afinal, mesmo que Larry Hama, roteirista que escreve essa mesma HQ há mais de 40 anos, tenha dedicado duas – e apenas duas! – páginas para explicar o que é G.I. Joe, ou seja, uma força-tarefa secreta antiterrorismo localizada em um quartel-general subterrâneo em Utah batizada de The Pit sob comando geral do Tenente-General Clayton “Hawk” Abernathy e comando operacional do Primeiro Sargento Conrad “Duke” Hauser e o que é Comando Cobra, ou seja, um grupo terrorista que tem como objetivo desequilibrar a ordem mundial para vender armamentos às nações e que é comandando pelo Comandante Cobra, contando, ainda, com outros ex-integrantes que se voltaram contra o líder em dois grupos distintos, o primeiro formado pelo Dr. Mindbender e sua criação, Serpentor Kahn (um clone de Gengis Khan…), e o segundo o casal Destro, presidente da fabricante de armas M.A.R.S., e a espiã Baronesa, quase todo o restante fica de fora e o leitor precisa respirar fundo e simplesmente mergulhar na história, pois tudo – ou quase tudo – vai sendo explicado na medida em que ela avança.

O estilo de Hama é, diria, único nos dias atuais em publicações de grandes editoras de quadrinhos ocidentais. Ele não liga para a estrutura de arcos e realmente escreve uma história só que vai sendo desenvolvida edição por edição. A separação em Volume 1 e 2 foi feita pela Skybound unicamente com base no número de edições que comumente compõe os encadernados publicados nos EUA, pois não há nenhum tipo de fechamento da história e, aqui, nesse começo, não há nem início propriamente dito, já que, depois das duas páginas introdutórias gerais, o roteirista parte direto para o momento seguinte à edição anterior, de outra editora, publicada no final de 2022, como expliquei logo no começo. E todas as cinco edições lidam com os eventos que decorrem desse combate aéreo inicial que é pareado com um combate também no mar, no hovercraft dos Joes que leva o Comandante Cobra prisioneiro e que escapa ao ceifar a vida de um “bonzinhos” e com a explosão proposital, por Serpentor Kahn, de uma bomba com vírus mutante capaz de alterar o DNA dos humanos para transformá-los em monstros canibais, eventos bem dramáticos para marcar esse “começo”.

Se alguém torceu o nariz para a tal bomba – que acaba apenas fazendo com que todos na Ilha Cobra, incluindo Serpentor e Dr. Mindbender, fiquem mais fortes e sedentos por carne humana, mas ainda mantendo suas faculdades mentais – é porque essa é outra característica de Hama: ele escreve como se estivesse ainda nos anos 80 criando histórias para um público pré-adolescente e adolescente sem se preocupar que seu público de priscas eras é, hoje, formado de senhores e senhoras de meia idade com filhos e até netos. E eu não afirmo isso para desmerecer Larry Hama, muito ao contrário, já que o roteirista simplesmente escreve o que acha que precisa escrever, sem se curvar à demandas de mercado, estratégia essa que deu muito certo, bastando ver quantas edições ele escreveu ao longo das décadas. Claro que, ao compará-lo com roteiristas modernos, talvez mais sofisticados, o texto dele pareça sempre exagerado, quase nonsense, com uma determinação quase infinita de explicar o que o leitor muito claramente vê nas páginas, ou seja, descambando para o didatismo exagerado e de repetir os nomes de todos os personagens sempre que eles são citados por alguém. Ou seja, para gostar de G.I. Joe, o leitor precisa aceitar o estilo imutável de Larry Hama, o que não é pedir muito se o objetivo for, apenas, usar a leitura dessa HQ como um momento escapista de pura descontração bem feita entre mergulhos em obras mais sérias.

Mas, retornando à história, o que Hama faz, nessas cinco edições iniciais, portanto, é muito mais estabelecer a divisão entre os vilões. O Comandante Cobra retorna para Springfield, uma cidade em que todos os habitantes são do Comando Cobra ou simpatizantes da causa, e se prepara para se proteger de um ataque por parte de Serpentor Khan e sua força zumbi que é, nesse meio tempo, transformada em ciborgue em razão de um acordo entre ele e Alpha-001, um ser puramente cibernético que controla as Indústrias Revanche, outra entidade vilanesca razoavelmente recente na mitologia da série. Vemos muito rapidamente, também, Destro e Baronesa, no Castelo Destro, conversando com o metamorfo Zartan que tem informações sobre os planos de seus inimigos, ainda que esses personagens não interfiram diretamente na história pelo momento. O que realmente interessa é que Serpentor, talvez em uma tentativa de eliminar todos os seus inimigos de uma tacada só, parece ter tentáculos em todos os lugares, mandando uma trinca de soldados para espionar Springfield que se depara com a ninja Dawn Moreno – dos Joes – escondida por lá, outra para tentar descobrir onde é base dos Joes, tendo que, claro, enfrentar todos os Joes residentes e outra ainda para assassinar Snake Eyes e Scarlett na cabana que dividem no meio do mato (eu vou deixar vocês adivinharem se dois dos mais importantes e conhecidos personagens da série morrem…).

Chega a ser muita coisa ao mesmo tempo, mas Larry Hama até que consegue se segurar bem justamente porque ele sabe como fazer um “feijão com arroz” saboroso, que satisfaz e que dá vontade genuína de continuar consumindo até ficar estufado. Mas o acompanhamento de real sofisticação para o “feijão com arroz” de Hama é servido pela deslumbrante arte de Chris Mooneyham, com cores de Francesco Segala. Os exageros quase histriônicos de Hama magicamente ganham um verniz realista com os traços marcantes do desenhista que brinda o leitor com um belíssimo uso fluido de páginas com grandes imagens em destaque que mantêm a narrativa sempre engajante e visualmente arrebatadora. Cada personagem permanece com suas assinaturas visuais, basicamente seus icônicos uniformes, cada um bem diferente do outro, mas com uma rara impressão de estarmos vendo uma efetiva tropa única, homogênea, mais ou menos como os Joes eram desenhados em priscas eras, a maioria em tons de verde.

A continuação de G.I. Joe: Comandos em Ação mostra que Larry Hama não perdeu a mão e tem fôlego para muito mais, ainda que leitores novos tenham que galgar duas montanhas, a do desconhecimento do que veio antes, que reputo um problema menor e a do estilo peculiar e “fora do tempo” do roteirista que, neste volume inicial, é mitigado pela arte realmente excepcional de Chris Mooneyham. Nada como ler material novo que parece escrito nos anos 80, não é mesmo?

G.I. Joe: Comandos em Ação – Vol. 1 (G.I. Joe: A Real American Hero – Vol. 1, EUA – 2023/24)
Contendo: G.I. Joe: A Real American Hero #301 a 305
Roteiro: Larry Hama
Arte: Chris Mooneyham
Cores: Francesco Segala
Flats: Sabrina Del Grosso
Letras: Pat Brosseau
Editoria: Alex Antone
Editora original: Skybound (Image Comics)
Datas originais de publicação: 15 de novembro e 20 de dezembro de 2023; 17 de janeiro, 21 de fevereiro e 20 de março de 2024 (encadernado: 18 de setembro de 2024)
Páginas: 158

G.I. Joe: Comandos em Ação (2023) – Vol. 2

A primeira página da edição #306 de G.I. Joe: A Real American Hero já deixa evidente o estilo de escrita eternamente oitentista de Larry Hama: Zartan, que está sendo seguido por um míssil que detecta calor em sua “moto aquática” pelos pântanos da Louisiana, diz, com todas as letras, que está sendo seguindo por um míssil que detecta calor e explica exatamente o que planeja fazer para evitar ser alvejado. Não muitas páginas depois, na mesma edição, vemos Snake Eyes treinando no quartel-general dos Joes e, quando tudo acaba, Scarlett derrama elogios e nomes de armas de fogo e armas brancas variadas em outra característica de Hama, que é usar o máximo possível de seu conhecimento militarísticos em geral e de armamentos em particular para incrementar seus diálogos. É, sem dúvida alguma, um roteirista que está pouco se lixando para convenções modernas e escreve como quer, mesmo sob o risco de congelar-se em um estilo inegavelmente mais juvenil e datado que eu aprecio, mas com moderação.

Mas, em termos narrativos, o segundo arco (se é que podemos chamar de arco) da continuação de G.I. Joe pela Skybound tem a vantagem de não precisar reorganizar as peças e introduzir o novo status quo. Tudo já está posto quando a ação começa, com as cinco edições, então, fazendo os núcleos convergirem pesadamente para Springfield, com apenas um – uma equipe de quatro Joes que tentam se infiltrar na Ilha Cobra – ganhando uma história em princípio paralela, mas que oferece munição interessante para o terceiro volume da história. O que não funciona muito bem é o quanto Serpentor Kahn fala as mil maravilhas de seus soldados mutantes ciberneticamente alterados pela Revanche se eles não são muito mais do que buchas de canhão tão fáceis de eliminar quanto suas versões pré-mutação e pré-“ciborguização”. Na verdade, chega a ser um pouco ridículo que soldados que podem pular sem paraquedas de cinco mil pés de altura morram com tiros na cabeça e possam ser facilmente cortados pelas katanas da Equipe Ninja – facilmente a mais bacana de todos os tempos na mitologia dos Joes – liderada por Scarlett que Duke manda para a cidade em uma missão de reconhecimento que vai muito além de apenas isso.

Por outro lado, se o leitor não parar para raciocinar muito e exigir realismo de uma proposta que de realista não tem lá muita coisa e nunca teve, a pancadaria que segue é muito divertida, seja pela estratégia inteligente, mas covarde do Comandante Cobra de colocar um de seus melhores soldados em sua armadura de combate para animar seus combates, seja pela entrada de Zartan e seus Dreadnocks, agora aliados a Destro e Baronesa, seja, claro, pela ação da Equipe Ninja que ganha um tempero de crítica social com o que ocorre com a família de Dawn Moreno no início do arco e que deixa em dúvida as intenções da mais nova integrante do clã Arashikage. Claro que os diálogos explicativos em meio ao tiroteio não fazem sentido algum e é claro que as estratégias supostamente militares que são postas em andamento prezam pela conveniência narrativa e pelo espetáculo no lugar da verdadeira eficiência, mas tudo fazer parte do jogo bem jogado de Larry Hama de dar a impressão de estar escrevendo algo mais do que HQs para vender bonequi… ops, figura de ação.

A grande novidade em termos artísticos é a saída temporária – conforme os editores fizeram questão de afirmar – de Chris Mooneyham da arte e a entrada de Paul Pelletier em seu lugar, com arte-final de Tony Kordos. Mooneyham oferecia algo a mais, algo especial à HQ, mas Pelletier e Kordos, apesar de traços e tintas muito bons, estão mais próximos do “comum”, por assim dizer. Pelletier comanda bem a sucessão de quadros e de páginas, mas não ousa como Mooneyham e desenha os personagens de maneira mais básica, sem os traços infinitamente mais bonitos do desenhista anterior que eu espero mesmo que retorne. E eu destaco a arte como um elemento particularmente importante de G.I. Joe: A Real American Hero simplesmente porque Larry Hama oferece roteiros na linha mais infanto-juvenil que mencionei acima. No primeiro arco, o texto era realçado pela arte e, agora, ele é, apenas, equiparado à arte, se é que me faço entender. Continua sendo uma jornada bacana se o leitor compreender e aceitar o que Hama faz, mas não muito mais do que isso sem desenhos que saltem aos olhos.

Seja como for, a promessa, para o próximo arco, é de intensificação da pancadaria com Destro efetivamente entrando na história como combatente e não apenas como observador a partir de seu castelo na Escócia. Se Mooneyham retornar, será puro deleite visual. Se ele não retornar, será ainda interessante, mas sem aquele famoso “plus a mais” que essa HQ eterna precisa para ser mais do que Hama fazendo “hamices” para a Hasbro.

G.I. Joe: Comandos em Ação – Vol. 2 (G.I. Joe: A Real American Hero – Vol. 2, EUA – 2024)
Contendo: G.I. Joe: A Real American Hero #306 a 310
Roteiro: Larry Hama
Arte: Paul Pelletier
Arte-final: Tony Kordos
Cores: Francesco Segala
Flats: Sabrina Del Grosso
Letras: Pat Brosseau
Editoria: Alex Antone
Editora original: Skybound (Image Comics)
Datas originais de publicação: 15 de maio, 19 de junho, 17 de julho, 21 de agosto e 18 de setembro de 2024
Páginas: 160

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