Número de temporadas: 07
Número de episódios: 140 + três longas animados
Período de exibição: 28 de março de 1999 a 10 de agosto de 2003 (período original pela Fox – quatro temporadas); 23 de março de 2008 a 04 de setembro de 2013 (segundo período pela Comedy Central – três temporadas); a partir de 2023 pela Hulu
Há continuação ou reboot?: Não. Apenas duas “renovações” tardias.
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Dez anos depois de criar a incrivelmente bem-sucedida série animada Os Simpsons, Matt Groening voltou à prancheta para imaginar um futuro mil anos à frente em que o entregador de pizza Fry (Billy West), desgosto com seu trabalho, com sua namorada e com a vida em geral, vai parar depois de cair dentro de um tubo de criogenia de um laboratório. A série, apesar de não tão bem sucedida em termos de audiência como a criação original do autor, marcou sua época a ponto de ser resgatada do cancelamento duas vezes, a segunda prestes a acontecer pela Hulu, em 2023.
O episódio piloto, Fry no Ano 3000, é um perfeito exercício de concisão narrativa. Em apenas 22 minutos, Groening e David X. Cohen, que co-escreveram o roteiro, nos apresentam a Fry e sua visão pessimista de sua vida, seu “transporte” para o futuro em uma genial sequência de time lapse em que, com seu rosto congelado em primeiro plano, vemos o que aconteceu com Nova York ao fundo (e, em tese, com a Terra inteira) ao longo desses mil anos, com direito a duas invasões alienígenas. Quando ele acorda, em 31 de dezembro de 2999, tudo mudou em aparência, mas nada mudou na prática, já que ele é imediatamente levado à “oficial de destino” Leela (Katey Sagal), uma alienígena ciclópica de cabelo roxo, que determina, para seu horror, que ele só pode ser um “entregador” na vida.
Quando Leela tenta implantar um chip que marcará Fry para sempre com esse ofício, ele foge pela cidade, com a oficial ao encalço até que ela mesmo percebe que esse dirigismo e inevitabilidade é algo de que ela sempre tentou fugir. Entre uma coisa e outra, tentando conectar-se com seu único parente vivo, o Professor Farnsworth (também West), Fry conhece o depressivamente hilário robô alcóolatra e suicida Bender (John DiMaggio), com quem logo estabelece uma conexão por basicamente serem almas gêmeas e por sobreviverem a uma cabine de suicídio(!!!) que o viajante no tempo acha que é uma cabine telefônica. Ao final, Farnsworth é localizado e os ajuda a fugir em sua nave espacial, entregando a cada um um chip de profissão que, claro, é a de “entregador”, o que cria o perfeito círculo narrativo.
E, quando digo perfeito, quero dizer exatamente isso, pois Fry no Ano 3000 é um daqueles raríssimos episódios pilotos que se fecha em si mesmo, contando uma história completa, com começo, meio e fim, sem “exigir” continuações, ainda que muitos detalhes que vemos nesse começo sejam naturalmente usados para alimentar a série, havendo inclusive relevantes easter-eggs que são posteriormente desenvolvidos. Ou seja, era óbvio que a intenção original era continuar a história, mas, mesmo assim, o que Groening e Cohen ofereceram a seus espectadores foi um episódio que fica de pé sozinho, sem precisar de artifícios que vão além do que aprendemos ao longo de seus 22 curtos minutos.
As vozes originais são no ponto, valendo especial destaque para a então já experiente atriz Katey Sagal dois anos depois do fim da também clássica série Um Amor de Família, com ela emprestando uma vivência e uma inteligência ímpar para sua inesquecível personagem. Claro que não há como elogiar West e DiMaggio, cada um também criando as versões definitivas de seus personagens, mas os dois, diferentes de Sagal, já eram atores de voz quando ingressaram na série, o que automaticamente lhes deu vantagem.
A animação mescla à perfeição o estilo clássico com computação gráfica (menos na abertura, que desde o começo foi toda em CGI), resultando em movimentos fluidos e um detalhamento grande para as feições e reações dos personagens, incluindo aí Bender que é mais humano que muitos humanos que vemos na série. Claro que afirmo isso em termos comparativos para obras animadas feitas para a TV, que exigem mais velocidade de produção do que longas-metragens.
Fry no Ano 3000 é uma aula de como se fazer um piloto de série animada. Uma premissa simples, mas genial que é executada sem soluços de maneira inteligente e autossuficiente que conta com humor ácido e, diria, diversos aspectos que talvez possam afetar muita gente no lado psicológico em razão dos gatilhos que ele aborda de maneira consideravelmente gráfica e direta, ainda que sempre com muito bom humor.
Futurama – 1X01: Fry no Ano 3000 (Futurama – 1X01: Space Pilot 3000 – EUA, 28 de março de 1999)
Criação: Matt Groening
Direção: Rich Moore, Gregg Vanzo
Roteiro: Matt Groening, David X. Cohen
Elenco: Billy West, Katey Sagal, John DiMaggio, Dick Clark, Leonard Nimoy
Duração: 22 min.