A proposta narrativa de Fúria Sangrenta é similar aos irregulares Perseguidos e Sobreviventes, ambos filmes com ursos em posições algozes, monstros da natureza guiados por um animalesco instinto assassino que encontram nestas produções uma das estruturas dramáticas basilares do horror ecológico, isto é, a vingança animal após a chegada dos humanos em ambientes selvagens, geralmente uma visita tomada por destruição e morte. É o que ocorre depois que um grupo de jovens atropela acidentalmente um filhote de urso e causa a fúria da “mamãe”, criatura que redobra o seu potencial predatório e se torna uma autêntica assassina slasher. O grande problema, dentre tantos apresentados pelo filme, é o desenvolvimento da história, a falha na construção dos personagens, os diálogos ruins, a ausência do urso para compensar o drama barato e a direção que recebe material demasiadamente tosco para gerenciar, não tendo muito o que fazer para salvar este horror ecológico do marasmo que dura um tortuoso percurso de 86 minutos.
Lançado em 2007, Fúria Sangrenta e seu urso que é visivelmente um homem trajado com fantasia nos trechos de maior proximidade, apresenta ao público uma trama das mais genéricas. Uma floresta com placa de advertência, uma invasão, a morte de uma criatura e a vingança implacável da natureza. Um tema já batido, mas ainda interessante quando bem desenvolvido, o que não é o caso da produção em questão. Mais assustador é ler sobre os ursos da Rússia, famintos por causa da falta de oferta na natureza, criaturas que se tornaram invasoras de um cemitério na cidade industrial de Nizhny Tagil. Responsáveis por afastar pessoas de luto do local, amedrontadas diante desta ameaça selvagem, os animais recolhem partes dos corpos enterrados para se alimentar. É uma notícia bem mais assustadora e aterrorizante, arrepiante ao ser lida e imaginada, bem mais impactante que qualquer frame deste filme falho em diversos aspectos, mais especialmente, na edição bizarra de Bruce Little, um flerte com a linguagem dos games e do videoclipe em alguns trechos que tornam tudo ainda mais bizarro do que de fato o filme consegue ser.
Sob a direção de David DeCoteau, cineasta que toma como base, o texto escrito por Arne Olsen, Fúria Sangrenta se oferta como um típico telefilme ruim. Efeitos parcos, nenhuma cena com um urso e um humano no mesmo quadro, edição que jorra sangue em CGI que parece um slide de power point daqueles bem ruins e outros maneirismos tomam por completo esta narrativa arrastada e zonza. É preciso bastante empenho para levar o filme até o seu desfecho, mas como crítico de cinema brasileiro que não desiste nunca, sigamos com a análise desta pérola conferida em seus pormenores. Primeiro, vamos ao enredo: depois da comemoração em torno da formatura, os jovens Ritch (Brody Harms), Wes (Tyler Hoechlin), Sean (Graham Kosakski) e Lauren (Kate Todd) partem para uma grande aventura na estrada, mas algo inesperado acontece e o carro acaba tendo o seu radiador estragado, além de aniquilar a vida de um filhote de urso que será o catalisador da “fúria maternal” que surgirá para tomar os incautos de surpresa, grupo que precisa lidar com a falta de comunicação efetiva com os aparelhos tecnológicos e o distanciamento das zonas urbanas.
O que fazer sem arma de fogo, sem celulares, mergulhados num ambiente inóspito para humanos acostumados com privilégios e regalias? Entrar em crise, não é mesmo? Há, ainda, a fúria animal que pretende transforma-los apenas numa massa uniforme, guiada pelo ódio e instinto de vingança. Com trilha sonora bem aleatória, dispersa por sinal, uma das responsáveis por nos suavizar, ao menos, a ruindade da ação, Fúria Sangrenta segue com a sua proposta de colocar quatro pessoas num embate com um urso enorme e bastante sedento por sangue e carne humana. Os jovens precisam pagar pelos erros e se ao menos a trama fosse empolgante o suficiente e com ação eletrizante, até compensaria o argumento básico demais. Há, inclusive, material radioativo na região, abandonado por uma empresa que atua no segmento, um recorte tangencial para abordar outra temática do horror ecológico que não chega a ser desenvolvida. O que temos, ao final, é uma perseguição implacável, diante de um inimigo que não convence justamente por não aparecer o suficiente para que cause desconforto e emita a adequada sensação de periculosidade.
Roteiro: Arne Olsen
Elenco: Tyler Hoechlin, Kate Todd, Brody Harms, Graham Gosakoski
Duração: 86 minutos