- Há spoilers! Confira aqui a crítica dos outros episódios!
A única diferença entre esse episódio e os anteriores da temporada é que temos os todos quatro principais núcleos dramáticos da série em ação, mas quando eu digo “ação”, quero dizer apenas que eles existem mesmo, não é como se a trama tivesse seguido em frente de alguma maneira. Tudo bem, é injusto dizer que a trama não andou dessa vez, mas para o sétimo episódio de uma temporada com dez, o que foi feito aqui não é o suficiente para representar algum tipo de mudança real. Salvor Hardin (Leah Harvey) continua em um impasse com os anacreanos, Gaal Dornick (Lol Llobell) tenta se comunicar com a nave e o holograma de Hari Seldon (Jared Harris), Irmão Dia (Lee Pace) começa a bater de frente com Zephyr Halima (T’Nia Miller) e o núcleo imperial de Trantor continua questionando sua existência, tanto quando eu questiono porque continuo assistindo essa série.
Mysteries and Martyrs também confirma o que tem sido o padrão da série até o momento, que Cleon, ou Irmão Dia, tem carregado essa série inteira nas costas. Ela já não está boa, e sem ele seria insuportável, porque o seu arco, lentamente percebendo como sua influência na galáxia pode estar ficando cada vez menor, tem sido de longe a única parte envolvente dessa série toda. Parte disso é mérito do próprio Lee Pace, que é um excelente ator, e seu Irmão Dia consegue continuar com a aura intimidadora, mas também passa a assumir um comportamento mais preocupado com sua identidade e poder. O arco de Trantor tem um debate sobre livre arbítrio que está muito bom, com o Irmão Alvorada lidando com os dilemas de querer a liberdade, enquanto precisa aceitar seu papel no sistema de linhagem genética, a qual não permite erros, e ele é claramente uma versão “falha” dessa “linha de produção”, mas (e esse é um grande “mas”), não adianta uma proposta intrigante como essa se a execução é preguiçosa e a personagem que a protagoniza é fraquíssimo. Mesmo não sendo o suficiente para salvar o episódio, esses dois núcleos são os que sustentam a série até agora, quase como uma… Fundação?!
Mas agora ficamos com Gaal e Hardin, duas personagens que eu queria muito ter gostado (considerando como Hardin é uma das melhores partes do livro original de Asimov) e torci por uma delas por um bom tempo, mas só até esse episódio, pelo simples fato dos roteiristas não terem a menor ideia do que fazer com as personagens. Hardin continua na mesma, aquele embate sem graça com o povo de Anacreon, que é o típico grupo genérico impaciente e violento de toda série de ação, e aqui eles têm uma missão na nave Invictus, mas se metem em altas confusões, com pessoas levando tiro gratuitamente e até uma delas “desaparecendo” (pode ter morrido, mas não vemos acontecendo de verdade) da série por conta de um acidente tão estúpido que parecia uma desculpa dos roteiristas se livrarem de uma personagem que não tinha muito peso ou propósito mesmo, só servia de par romântico.
Quando voltamos para Gaal Dornick, há uma grande expectativa, principalmente porque ela tem sido a personagem menos estúpida dos núcleos principais, e tivemos o retorno de Hari Seldon no fim do episódio anterior. Ao lado de Lee Pace e T’Nia Miller, Jared Harris é o outro nome do elenco que eleva qualquer cena só com a atuação (se colocarmos em contraste com o resto do elenco, fica ainda melhor, o que não é tão difícil), e o roteiro deu uma desculpa esfarrapada pra trazê-lo de volta, com aquele conceito batido (padrão dessa série) de digitalizar a consciência de uma personagem no computador de uma nave. Dá pra perdoar se o resultado for mais Jared Harris em tela, mas o enredo de Fundação não deixa de me surpreender negativamente e comete com Gaal o mesmo erro de Hardin, transformando-a em um tipo de figura messiânica ou superpoderosa. Enquanto Hardin parece seguir a jornada batida e genérica – quero dizer, clássica – do “escolhido”, é revelado que Gaal consegue “sentir o futuro”.
Esse foi o episódio mais engraçado de Fundação até agora, ainda que involuntariamente. Ele continua com os mesmos erros e mantém o interesse do espectador no seu único núcleo dramático envolvente, mas agora abandona qualquer pretensão de criar algo novo e faz questão de deixar clara a sua intenção de emular uma intriga no estilo Game of Thrones e cenas de ação que parecem erros de gravação ou uma paródia de um episódio de The Expanse ou um dos filmes de Jornada nas Estrelas de J.J.Abrams; pra ser mais exato, Além da Escuridão, aquele que o Benedict Cumberbatch faz o Khan, mas Abrams achou que conseguiria criar uma reviravolta em cima disso. Aproveito esse texto para indicar outra série disponível no catálogo da Apple TV +, a ótima Invasão, que também tem uma narrativa mais lenta e contemplativa, mas desenvolve as personagens e o drama tem mais peso. Dá tempo de se atualizar nela, ou se quiser continuar no universo de Fundação, melhor ficar nos livros mesmo. Não são perfeitos, mas não são um desastre, como essa série.
Fundação (Foundation) – 1X07: Mysteries and Martys (EUA, 29 de Outubro de 2021)
Criação: Josh Friedman e David S. Goyer
Direção: Jennifer Phang
Roteiro: Josh Friedman, David S. Goyer e Caitlin Saunders, baseado na obra de Isaac Asimov
Elenco: Lee Pace, T’Nia Miller, Chipo Hung, Laura Birn, Terrence Mann, Alfred Enoch, Leah Harvey, Cassian Bilton, Teyarnie Galea, Daniel MacPherson, T’Nia Miller, Pravessh Rana, Kubbra Sait, Clarke Peters, Buddy Skelton.
Duração: 48 min.