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Crítica | FUBAR – 1ª Temporada

Tentando ser FUBAR...

por Ritter Fan
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FUBAR é uma sigla popularizada por soldados americanos durante a Segunda Guerra Mundial que significa fucked up beyond all recognition ou fucked up beyond all repair, ou seja, algo tão ferrado que não tem conserto ou reparação. Afirmar que a série do Netflix estrelada por Arnold Schwarzenegger em seu primeiro trabalho serializado é exatamente o que seu título designa é certamente um exagero, mas é inacreditável como ela se esforça para merecer essa alcunha ao longo de seus oito episódios em que o fisiculturista austríaco transformado em ícone oitentista hollywoodiano faz uma variação de seu espião em True Lies, sua terceira e até agora última parceira com James Cameron.

No lugar de um marido e pai que esconde de sua família que é um agente secreto do Setor Ômega fingindo ser um vendedor de software, agora Schwarzenegger vive Luke Brunner, um ex-marido e pai que passou a vida toda escondendo de sua família que é um agente da CIA fingindo ser um comerciante de equipamentos de academia. As diferenças ficam com o fato de o protagonista viver sua idade, ou seja, estar no final de sua carreira na agência de espionagem americana e por sua própria filha certinha e obediente, Emma Bartholomina Brunner (Monica Barbaro), também esconder que é uma agente da CIA de sua família, inclusive do próprio pai. Já no primeiro episódio, em razão de uma missão em que Emma está infiltrada no quartel-general do traficante de armas Boro Polonia (Gabriel Luna), os segredos são desfeitos e pai e filha precisam deixar suas diferenças de lado para, ao lado de uma heterogênea equipe, derrotar o vilão.

Essa variação de True Lies é, admito, interessante como premissa básica e Schwarzenegger e Barbaro até que funcionam bem juntos, seja com seus personagens se bicando, o que é a regra, sejam com eles se amando, algo que vai aos poucos sendo (re)construído, mas agora sem o véu das mentiras. O grande problema é que a criação de Nick Santora, da recente Reacher, é, no final das contas, um samba de uma nota só que esgota sua suposta inventividade já pela metade de seu segundo episódio, quiçá, com boa vontade, no terceiro. Não ajuda em nada que, mesmo contando uma história única, que é a perseguição ao escorregadio Polonia cujo pai Luke matara anos atrás, a estrutura da temporada é a de caso da semana, com a equipe de Luke tendo que, a cada episódio, cumprir uma missão como parte de um quebra-cabeças maior, o que apenas serve ao propósito de criar conflitos entre pai e filha que, lógico, contamina todo o restante, seja no lado profissional da dupla, seja no lado pessoal. Em outras palavras, talvez até existisse um bom longa-metragem em FUBAR, mas certamente não sete horas com essa base narrativa.

O que resgata FUBAR do desastre total, porém, são os personagens que compõem a equipe de Luke. O mais próximo do agente veterano é seu parceiro tático Bartholomew Tiberius “Barry” Putt (Milan Carter) – ou Tio Barry, já que ele, na vida civil de Luke, é seu sócio no negócio de venda de equipamento de academia – que é muito eficiente quando está no conforto de suas telas de computador passando informações para seu chefe com o ponto no ouvido, mas que é um desastre em campo, com sua vida particular de “virgem de 40 anos” funcionando bem para florear o personagem. Além dele, há o estereótipo do agente bonitão e sedutor Aldon C. Reese (Travis Van Winkle) que, clichê ou não, pouco importa, aos poucos vai sendo revelado como alguém com mais camadas do que só sua superfície arrogante e malhada.

No entanto, eu propositalmente deixei a melhor coadjuvante por último: a desbocada e extremamente sincera Ruth “Roo” Russell (Fortune Feimster), que é uma metralhadora de observações ferinas sobre toda a dinâmica do grupo e também de fora dele, considerando que Luke deseja mais do que tudo voltar para sua esposa e mãe de seus filhos Tallulah “Tally” Brunner (Fabiana Udenio) que, por sua vez, está em um relacionamento sério com o simpático Donatello “Donnie” Luna (Andy Buckley). Não sei se foi proposital ou se foi fruto da completa falta de material bom para os protagonistas, mas Feimster canaliza praticamente todos os diálogos genuinamente engraçados da série, sem por um momento sequer depender de momentos físicos ou espalhafatosos. A atriz, com uma naturalidade desconcertante e um timing cômico excelente, praticamente salva sozinha a série de efetivamente ser FUBAR. Já muito cedo na temporada, fica patente que Feimster é o que realmente interessa e o que sustenta o lado cômico da série de maneira consistente, ainda que, obviamente, isso não seja suficiente para elevar a obra para além do que ela acaba sendo, ou seja, uma tentativa falha de Schwarzenegger de retornar à comédia, gênero que, como brucutu dos anos 80, ele desbravou com sucesso, e/ou, talvez, sua vontade de continuar competindo com seu colega e arquirrival Sylvester Stallone que, recentemente, também ingressou no mundo da televisão com Tulsa King).

FUBAR poderia ter sido um bom filme ou, talvez, uma boa minissérie de três episódios. No formato de série que, ainda por cima, recorre à batida estrutura de missão da semana, ela perde sua não muito grande força rapidamente demais, embarcando na repetição da mesma gag por intermináveis vezes e cansando antes de engrenar de verdade, se é que isso alguma hora acontece. Não fossem os simpáticos e divertidos coadjuvantes, com especial destaque para a Roo de Fortune Feimster, o título descreveria perfeitamente o que é a série.

FUBAR – 1ª Temporada (Idem – EUA, 25 de maio de 2023)
Criação e desenvolvimento: Nick Santora
Direção: Phil Abraham, Holly Dale, Steven A. Adelson, Stephen Surjik
Roteiro: Nick Santora, Scott Sullivan, Adam Higgs, Penny Cox, Cait Duffy, Lillian Wang, Michael J. Gutierrez
Elenco: Arnold Schwarzenegger, Monica Barbaro, Milan Carter, Gabriel Luna, Fortune Feimster, Travis Van Winkle, Fabiana Udenio, Jay Baruchel, Barbara Eve Harris, Aparna Brielle, Andy Buckley, Devon Bostick, David Chinchilla, Stephanie Sy, Scott Thompson, Rachel Lynch
Duração: 425 min.

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