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Crítica | Francis na Marinha

por Guilherme Rodrigues
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Os estilos dos diretores se tornam marcantes pelos mais variados motivos, Hitchcock sabia construir momentos tensos como ninguém, Tarkovsky era o cineasta da lentidão, da filosofia, de “esculpir o tempo”. Outros ficam marcados por motivos menos, digamos, interessantes, como o cineasta Arthur Lubin, responsável pela direção de 69 filmes ao longo de sua carreira, cujo estilo é melhor definido como “algodão doce”, distrai, mas nada mais que isso.

Focando mais em quantidade do que qualidade, mas alcançando sempre grande sucesso financeiro, Lubin teve como ponto alto na carreira a franquia Francis, uma mula falante que trabalhava no exército americano, que resultou em sete filmes, e Francis na Marinha é o penúltimo da saga.

Na produção, o companheiro de longa data de Francis, o tenente do Exército Peter Sterling (Donald O’Connor), vai ao resgate de seu companheiro animal após descobrir que ele será vendido em um leilão da Marinha. Na sua jornada até o leilão, no entanto, um obstáculo inesperado atravessa seu caminho: sua incrível semelhança com Slicker Donovan, um marinheiro herói de guerra e mulherengo. Ao cruzar caminhos com os amigos de Donovan, estes não acreditam que Sterling é quem diz que ser, achando ser mais um dos surtos do amigo, e o arrastam para a Marinha. Sterling precisará aprender a navegar nesse novo cenário, enquanto tenta fazer com que Donovan volte para seu lugar, isso tudo, é claro, com a ajuda de Francis.

Surpreende o tom de propaganda da abertura do filme, exaltando abertamente o poderoso arsenal bélico do exército americano, cujas imagens se assemelha mais aos documentários propagandistas do período de guerras do que a leve comédia que de fato é. Mesmo sendo uma comédia de erros, o exército nunca é nada menos que organizado e eficiente.

O humor do filme fica por conta mesmo das trapalhadas que resultam da confusão da identidade entre Slicker e Sterling, mas essa situação é pouquíssimo trabalhada, e quase todas as cenas cômicas são um repeteco da primeira. Nela, Sterling é visto pela irmã de Donovan, Betsy (Martha Hyer), e pede que ele pare de fingir que é outra pessoa e que retire o uniforme. A irmã o leva para outro cômodo e passa a retirar sua roupa, enquanto Sterling exclama “eu não sou ele, ele não sou eu!” até ficar somente com as roupas de baixo. Acostume-se a ver O’Connor assim, essa situação se repete vezes demais para um filme que nem 90 minutos tem. Somente em um momento a semelhança entre os dois personagens é usada de modo interessante, quando eles precisam fingir que estão usando um espelho, um efeito especial banal hoje, mas que para um filme da época deveria ser extremamente complicado.

Curioso observar que o personagem titular, a mula Francis, dublada por Chill Wills, está estranhamente ausente do filme que deveria estrelar, e quando aparece pouco faz ou agrega a narrativa, só aparecendo para justificar o título mesmo. 

Francis na Marinha foi o último filme do principal trio responsável pela franquia, o do diretor Arthur Lubin e das estrelas O’Connor e Chill Wills. Mesmo sem ver os cinco filmes prévios de Francis, dá para reconhecer uma fórmula que se esgotou. Vale mais pela curiosidade de ver um jovem Clint Eastwood em seu primeiro papel creditado, de um dos amigos de Donovan, o marinheiro Jonesy, um tanto engessado e bem distante da postura rústica que marcaria o ator futuramente.

Francis na Marinha (Francis in The Navy – 1955)
Direção: Arthur Lubin
Roteiro: Devery Freeman, David Stern
Elenco:  Donald O’Connor, Chill Wills, Martha Hyer, Richard Erdman, Jim Backus, David Janssen, Clint Eastwood.
Duração: 80 min.

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