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Crítica | For All Mankind – 4X09: Brazil

Um sonho de liberdade.

por Ritter Fan
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  • Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos demais episódios.

Sonhos são perigosos. E isso é especialmente verdade quando esse sonho tende a afetar interesses políticos e econômicos relevantes. Bastou que Margo e Sergei se reconectassem e flertassem sobre a possibilidade de fugirem para o Brasil, de forma a ajudar nossa país nessa História Alternativa a desenvolver seu programa espacial, para que forças insidiosas começassem a agir de maneira a destruir essa possibilidade. O assassinato de Sergei pelas mãos da KGB a mando da traiçoeira Irina Morozova – destaco essa possibilidade forte, mas reconheço que não é a única – de maneira a manter Margo em seu lugar, não foi exatamente uma grande surpresa, mas a sequência paralela final dos dois comendo hambúrgueres separadamente, mas com exatamente os mesmos maneirismos, repetindo o tema do cotidiano repetitivo que marcou a dupla nesta temporada, foi uma singela, mas não menos brilhante maneira de se construir tensão e de encerrar o penúltimo episódio da quarta temporada com uma nota trágica e uma possibilidade cada vez mais palpável de Margo acabar ajudando, ainda que indiretamente, o plano marciano de Dev e Ed.

E esse momento forte e realmente triste que novamente estabelece Margo como uma personagem que, por culpa própria, mas também pela operação do destino, não parece ser capaz de encontrar felicidade. Se ela tem dificuldade em mostrar sentimentos, algo que faz a conta gotas como na bela e terna cena da balinha com os filhos de Aleida, para todos os efeitos sua própria filha, Margo tem uma vida marcada por tragédias que ela internaliza e não parece conseguir processar, com Wrenn Schmidt construindo uma personagem de olhar inteligente, sagaz, mas profundamente triste e melancólico, como alguém que passa pela vida consciente do amor que sente e, também, do amor que sentem por ela, mas incapaz de estabelecer uma real e duradoura conexão física. Se eu, no começo da temporada, reclamei que os showrunners não deveriam insistir no uso do elenco original em momento tão avançado no tempo, venho, agora, retirar o que disse e afirmar com todas as letras que a forma como o quarto ano de For All Mankind vem usando Margo e também Ed é magistral.

Aliás, se tem uma coisa que a série sempre fez muito bem foi trabalhar a queima lenta a fogo baixo, introduzindo novos personagens e situações inicialmente desconexos, mas que vão, aos poucos, ganhando tração e convergindo no final, como é o caso do que vemos em Brazil, uma espécie de magnífica segunda parte de Legacy, episódio que montou com precisão as peças em cima de um tabuleiro que, aqui, começaram a ser movimentadas com vigor. Tenho certeza de que muita gente pode torcer o nariz para o velho clichê do “plano ousado que começa a dar errado no último segundo”, mas, como já tive a oportunidade de afirmar centenas de vezes, o emprego de clichês é como a criação de uma infraestrutura reconhecível para obras dos mais variados gêneros e o que realmente importa é como eles serão desenvolvidos e tenho para mim que Brazil funciona como uma sinfonia nesse quesito, com o emprego dos “olhos” dos norte-coreanos levando à desconfiança de Dani e o começo do desmoronamento do castelo de cartas de Dev e Ed com o emprego dos agentes da CIA e KGB e a tortura de Miles sendo conectado com uma espécie de repetição do ataque terrorista à NASA na temporada anterior, mesmo considerando o sucesso do trabalho de pura espionagem de Sam no espaço e a violência de um Lee obcecado em tirar sua esposa de seu país opressivo. Os encaixes oriundos de tudo o que aprendemos sobre os personagens ao longo da temporada são naturais e lógicos e criam tensão a cada nova sequência, algo ecoado, obviamente, pela forma como o assassinato de Sergei vai também sendo preparado de pouco em pouco nas cenas na Terra.

No entanto, assim como comecei destacando a sequência da trágica morte de Sergei, encerrarei a crítica com outra cena de personagem da velha guarda, desta vez Ed, que merece menção especial. Quando Kelly pressiona o pai para que ele finalmente conte a verdade sobre o que está acontecendo, o que Ed faz é perfeito dentro do que seu personagem é lá no fundo, um homem egoísta que parece prezar muito mais seu status do que aqueles ao seu redor, família ou não. E o que ele faz? Ora, para não contar sobre o plano de roubar o meteoro que vem consumindo todo o seu tempo e justificando suas conversas constantes com Dev, ele usa uma outra verdade, uma emocionalmente forte o suficiente, em sua cabeça, para desviar a atenção de Kelly e, de quebra, reconciliar pai e filha. O único problema é que Ed, como sempre, subestimou a inteligência de terceiros e Kelly, mesmo emocionada com a confissão do pai sobre ele querer manter-se ativo e deixar um legado relevante para sua família – o que é verdade, sem dúvida, mas é mais uma versão da verdade verdadeira -, não perde sua linha de raciocínio e o coloca contra a parede sobre sua relação com Dev. Há um corte brusco em seguida que, para mim, significa que Ed cedeu e contou tudo para a filha, mas teremos que esperar o derradeiro episódio para descobrir se eu estou certo e qual será a reação dela em um final que promete muita tensão e muitas reviravoltas.

For All Mankind – 4X09: Brazil (EUA, 05 de janeiro de 2024)
Criação: Ronald D. Moore, Matt Wolpert, Ben Nedivi
Direção: Sergio Mimica-Gezzan
Roteiro: David Weddle, Bradley Thompson, Kate Burns
Elenco: Joel Kinnaman, Wrenn Schmidt, Krys Marshall, Cynthy Wu, Coral Peña, Toby Kebbell, Tyner Rushing, Daniel Stern, Edi Gathegi, Svetlana Efremova, Noah Harpster, Dimiter Marinov, Piotr Adamczyk, Ezrah Lin
Duração: 46 min.

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