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Crítica | For All Mankind – 4X05: Goldilocks

A corrida do irídio.

por Ritter Fan
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  • Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos demais episódios.

Em House Divided, uma altercação política entre dois cosmonautas soviéticos reverberou tanto na URSS quanto nos EUA e reacendeu a chama da Guerra Fria. Agora, em Goldilocks, a descoberta de um meteoro composto de irídio, metal valioso de rara presença na Terra e que tem a União Soviética como único fornecedor, esquenta ainda mais as tensões em um episódio movimentado talvez até demais para o seu próprio bem e que promete desembocar em uma convenção de emergência do M-7 sobre como dividir as riquezas eventualmente encontradas, riquezas essas que o país que recentemente passou por um golpe de estado sequer deseja realmente encontrar sob pena de perder seu monopólio.

Se a descoberta de “Cachinhos de Ouro”, como a valiosa pedra espacial foi aptamente batizada, seria material mais do que suficiente para sustentar um episódio de metade de temporada que poderia levar a série ao limiar do renascimento de um conflito bélico e da separação das operações em Marte, o roteiro de Jovan Robinson preferiu usar o recrudescimento das tensões como apenas um dos elementos a serem desenvolvidos. Claro que isso faz pleno sentido para o que os showrunners provavelmente estão preparando para a segunda metade da temporada, mas tenho para mim que, ao embalar todas as linhas narrativas juntas em um capítulo só, elas perderam um pouco a força que deveriam ter.

O próprio conflito político entre Estados Unidos e União Soviética, trabalhado por meio de uma videoconferência e de uma declaração marketeira infeliz do presidente Al Gore e de uma promessa de uma conferência em Leningrado para renegociar o acordo que serve de sustentáculo à exploração pacífica de Marte, pareceu-me pequeno demais diante do que a promessa de tantas riquezas vindo do espaço profundo poderia gerar. Sim, entendo que esse é, apenas, um primeiro passo de uma potencialmente interessante escalada das conversas – especialmente considerando que teremos Aleida e Margo sentadas em lados opostos da mesma mesa -, mas acho que o foco deveria ter permanecido nesse aspecto macro, sem que o episódio tivesse buscado outros aspectos paralelos como Dev e sua decisão de se mudar em definitivo para Marte, o que o leva a uma conversa dura com a mãe, e os flashbacks que finalmente revelam o destino de Danny (Casey W. Johnson retornando para uma ponta melancólica) em seu exílio na cápsula norte-coreana.

Não me entendam mal, porém! Eu gosto do conflito pessoal de Dev (ainda que não o adore, confesso, por ser muito simplista e trazido à superfície somente agora) e acho essencial que o arco de Danny fosse resolvido de uma maneira ou de outra, mas eles mereciam um espaço maior, sem que eles precisassem disputar espaço com a questão macropolítica que surge com o Cachinhos de Ouro e até mesmo com a cada vez mais profunda cisma entre Miles e Ilya sobre como ampliar o “negócio” de contrabando entre Terra e Marte. Se a linha narrativa de Dev ficou espremida de verdade, pelo menos houve espaço razoável para Dani enfrentar Ed de vez, usando sua teimosia em esconder sua doença debilitante como estopim para retirá-lo do cargo de oficial executivo de Happy Valley. Claro que os flashbacks sobre Danny ajudam e muito a informar esse momento poderoso que provavelmente ainda terá consequências grandes para a operação em Marte, pois, de um lado, relembram que foi Ed, não exatamente Danny, o grande responsável pela tragédia ocorrida no Planeta Vermelho há anos e, de outro, que foi Dani que teve que tomar uma dura decisão que ela, de certo modo, repete agora. Krys Marshall, aliás, merece comenda pelo trabalho impecável que vem fazendo na temporada como uma líder que muito claramente reflete e sente o peso de tudo o que fala e decide, sem fugir das consequências e das responsabilidades que decorrem delas.

Uma última linha narrativa que se conecta com a de Dev e que, portanto, mereciam ser tratadas juntas em outro momento com mais tempo e detalhes, é a decisão de Kelly Baldwin de levar seu filho com ela para Marte. Se por um momento deixarmos de lado o que isso pode significar psicologicamente para o menino, que será a única criança no planeta, as implicações práticas de uma decisão como essa são imponderáveis, ainda que seja evidente que Ronald D. Moore, Matt Wolpert e Ben Nedivi estejam apontando para o estabelecimento efetivo de uma colônia humana completa em Marte, uma que não seja focada apenas na exploração do local, mas sim como uma ponta de lança para que a Humanidade comece a deixar seu planeta natal.

O que quero dizer com tudo isso é que Goldilocks facilmente tinha conteúdo para dois episódios, conteúdo esse que mereceria maior tempo para ser desenvolvido. Por outro lado, se consideramos o quanto é inserido aqui, é impossível não ficar feliz diante do resultado final costurado pela direção de Sylvain White que não se perde em momento algum, mesmo tendo que fazer sacrifícios cirúrgicos aqui e ali para acomodar tudo o que precisava acomodar por “ordens superiores”.

For All Mankind – 4X05: Goldilocks (EUA, 08 de dezembro de 2022)
Criação: Ronald D. Moore, Matt Wolpert, Ben Nedivi
Direção: Sylvain White
Roteiro: Jovan Robinson
Elenco: Joel Kinnaman, Wrenn Schmidt, Krys Marshall, Cynthy Wu, Coral Peña, Toby Kebbell, Tyner Rushing, Daniel Stern, Edi Gathegi, Svetlana Efremova, Noah Harpster, Dimiter Marinov, Casey W. Johnson
Duração: 55 min.

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