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Crítica | For All Mankind – 4X04: House Divided

As tensões aumentam em Marte e na Terra.

por Ritter Fan
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  • Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos demais episódios.

Usando a expressão bíblica do Evangelho de Mateus que foi empregada em contexto político por Abraham Lincoln no que ficou conhecido como o Discurso da Casa Dividida no título do episódio, a produção de For All Mankind já dá o tom de House Divided, tom esse que funciona em diversos níveis. Podemos interpretar a “Casa Dividida” como as tensões políticas dentro da União Soviética após o golpe que retirou Mikhail Gorbatchov do poder, como as rachaduras na entidade multinacional exploratória de Marte, o M-7, e, claro, os reflexos disso na base Happy Valley, além de até mesmo uma pequena cisão entre Miles Dale e Ilya Breshov sobre a já bem estabelecida operação de contrabando do segundo.

E tudo começa com um desentendimento político entre a piloto de alta patente Svetlana Zakharova, que defende Gorbatchov e seu compatriota Mikhail Vasiliev (Mark Ivanir), com conexões no Kremlin, que não só defende o golpe militar em seu país como considera Svetlana uma traidora por meramente verbalizar seu ponto de vista, resultando em Vasiliev em coma em uma câmara hiperbárica. A discussão sobre o incidente é multifacetada e muito interessante, pois leva a Roscosmos a exigir o retorno da piloto para a União Soviética para que ela enfrente um julgamento que muito claramente é de cartas marcadas com o objetivo de puni-la severamente e Dani a protegê-la, com o diretor da NASA, ato contínuo, defendendo a decisão que afeta a harmonia da exploração espacial conjunta. Paralelamente, por Vasiliev ser um “mero” técnico de baixo escalão, o favorecimento de Svetlana pela comandante de Happy Valley é mal visto e interpretado, contribuindo para o aumento das tensões por ali. E, claro, há a evidente questão da culpa de Svetlana, algo que não é simplesmente varrido para debaixo do tapete, mas que não justificaria uma penalidade que tome forme de perseguição política.

E é por isso, meus caros, que For All Mankind consegue ser uma série tão bacana. Ronald D. Moore, Matt Wolpert e Ben Nedivi conseguem navegar muito bem elementos políticos macro e micro, além de trabalhar questões pessoais dos personagens de maneira fluida, bem inserida no texto, como é a vigorosa defesa de Svetlana por Ed diante de Dani, somente para Dani, então, revirar o passado com Gordo e Danny e deixar bem claro o quanto Ed, em sua tendência de proteger aqueles que ele tem algum afeto mesmo quando todas as evidências apontam para o contrário, já levou a consequências catastróficas. Quando Eli Hobson, inspirado pela esposa (novamente um toque pessoal interessante e terno), chega a uma proposta na linha mediana, que é entregar a piloto para as autoridades indianas, único país neutro do M-7, Dani vê muito claramente que essa é a solução possível, ainda que talvez não exatamente a ideal, pois ela leva em consideração não só a altercação com final trágico em si, mas, também, toda a atmosfera em Happy Valley e, mais ainda, a viabilidade da operação em Marte.

Na Terra, mais especificamente na Roscosmos, Margo começa a finalmente ganhar função ao estudar o relatório do incidente com o meteoro e concluir que o problema não foi com os americanos, mas sim com o gancho fabricado pela União Soviética, o que a torna valiosa para a dura (e quase estereotipada) Irina Morozova, diretora da entidade, ao mesmo tempo em que ela, inocentemente demais (para a idade e toda a experiência que ela teve com a URSS), acredita que o engenheiro que assinou o documento seria apenas demitido e não levado para local incerto e não sabido pela KGB. Vou, aqui, insistir em meu ponto, pois simplesmente não consigo enxergar como Margo efetivamente se encaixa no plano macro da temporada, pois eu não posso acreditar que suas ações ali no coração da Roscosmos mudará alguma coisa na forma como Irina age, a não ser que Irina tenha uma agenda própria que ainda desconheçamos, mas que pode ter, talvez, ligação com seu passado com Sergei.

A linha narrativa de menor importância – diante das demais e somente pelo momento – do episódio é a que envolve Miles e sua determinação em colher pedras marcianas para que sua esposa as venda na Terra. Não sei se as pedras em si serão problemáticas, talvez levando alguma contaminação para o nosso planeta, mas creio que não, que a ideia é mesmo cravar uma cunha no relacionamento entre Miles e Ilya, ou tornando-os concorrentes ou unindo-os em uma operação ainda maior o que, em qualquer caso, tem a tendência de tornar tudo mais facilmente detectável por seus superiores, levando a medidas duras contra eles.

House Divided efetivamente divide os personagens em polos opostos das mais diferentes maneiras e esquenta a narrativa geral para chegarmos à metade da temporada de maneira potencialmente explosiva. Ainda falta uma ideia da direção macro da temporada, mas creio que estamos caminhando a passos largos nessa direção que, muito provavelmente, envolverá a descoberta de vida no Planeta Vermelho pelos esforços de Aleida e Kelly e os subsídios de Dev.

For All Mankind – 4X04: House Divided (EUA, 1º de dezembro de 2022)
Criação: Ronald D. Moore, Matt Wolpert, Ben Nedivi
Direção: Dan Liu
Roteiro: Sabrina Almeida
Elenco: Joel Kinnaman, Wrenn Schmidt, Krys Marshall, Cynthy Wu, Coral Peña, Toby Kebbell, Tyner Rushing, Daniel Stern, Edi Gathegi, Svetlana Efremova, Noah Harpster, Dimiter Marinov, Maria Mashkova, Mark Ivanir
Duração: 56 min.

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