- Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos demais episódios.
Se não houvesse nada de bom em Seven Minutes of Terror, o episódio já mais do que teria valido a pena em razão da hilária descida da rampa da Sojourner por Grigory Kuznetsov com Dani correndo atrás e os dois tropeçando e lindamente se estabacando simultaneamente no solo marciano. Nada como destruir um momento solene desses com uma sequência descontraída, mas que ao mesmo tempo representa bem a corrida espacial, todo o espírito da série e, em última análise, a Humanidade. Foi, sem dúvida alguma, um momento inspirado do roteiro da brasileira Sabrina Almeida que me fez gargalhar (de vergonha alheia) depois de acompanhar a tensa descida das naves da NASA e da Helios.
Felizmente, porém, o episódio tem muito mais a ser apreciado do que apenas o citado papelão “ao vivo” dos dois astronautas. Grande parte da minutagem do episódio é dedicada a esquentar o drama de Margo de duas maneiras, primeiro com a delegação russa chegando na NASA para cooperar com a missão agora conjunta e ela imediatamente sofrendo pressão de Lenara Catiche (Vera Cherny), a nova diretora da Roscosmos, para permitir que sua equipe em Marte continue com “pesquisas” escusas, o que leva Margo a forçar a libertação de Sergei e começar a planejar sua defecção para os EUA, o que certamente dará muito pano para manga ainda. Depois, há a pressão causada pela inteligentíssima Aleida Rosales que percebe que o motor nuclear da nave russa é idêntico ao americano, levando-a a concluir que alguém vazou os planos para a União Soviética. Aleida ainda não desconfia de Margo, claro, mas prevejo que isso não demorará a acontecer e será muito interessante acompanhar o desdobramento dessa história de espionagem e amor.
No lado espacial das coisas, fiquei com sentimentos conflitantes em relação ao pouso em Marte. De um lado, senti pena por Ed ter perdido a corrida, mas, de outro, feliz porque Dev perdeu a corrida depois que impediu o comandante de resgatar a tripulação da Mars-94. Além disso, finalmente o caso de Karen com Danny dá frutos potencialmente interessantes, com o jovem ficando novamente obcecado pela ex-esposa de Ed, o que pode gerar conflitos de monta para a missão da Helios. Eu só espero que Ed tenha a oportunidade de socar o garoto alguma hora para ver se ele acorda de seus devaneios infantiloides e passe a prestar atenção na oportunidade única que o próprio Ed deu a ele.
Não sei ainda se gostei do que parece ser o início relâmpago do romance entre Kelly Baldwin e Alexei Poletov (Pawel Szajda) simplesmente porque não enxergo espaço para algo assim em ambiente marciano e tenho receio que a série se perca em abordagens de cunho romântico como forma ou de criar mais rusgas entre os países concorrentes ou usar isso para, ao contrário, exemplificar a possibilidade de colaboração entre eles, o que seria mortalmente brega. No entanto, reconheço que ainda é cedo para passar julgamento e o beijo pode ter sido algo de momento apenas, ainda que eu desconfie que não tenha sido.
O que realmente afetou minha apreciação completa de Seven Minutes of Terror foi a sensação de que ele foi um episódio consideravelmente mais longo do que deveria ter sido. Ver Karen pedir demissão da Helios logo depois que Ed retoma o controle da nave foi catártico, mas toda aquela sequência dela comendo cogumelos alucinógenos com Wayne Cobb me pareceu uma forma de consumir minutos que ou deveriam ter sido dedicados a um dos dois dramas principais ou terem sido cortados para reduzir a duração final e impedir aquela incômoda sensação de “barriga” narrativa. Claro que o momento existe como uma forma de amplificar os ciúmes de Danny, mas creio que não era necessário estender a sequência da maneira como foi feito, já que ela pouco acrescenta à narrativa por si mesma. Teria até mesmo sido mais interessante se, no lugar de iniciar o capítulo com a tragédia no resgate da Mars-94 já equacionada, alguma coisa a mais fosse mostrado do cliffhanger do episódio anterior além do funeral espacial.
Seven Minutes of Terror não tem terror nenhum. Muito ao contrário, mostra um surpreendente final cheio de humor que ironiza toda a corrida espacial e a falta de cooperação entre países que vivemos cotidianamente. Com a chegada ao Planeta Vermelho ocorrendo já na metade da temporada, fica a dúvida boa sobre o que mais a equipe da produção tem na manga para acontecer por lá e o quanto isso pode representar para o futuro dessa História Alternativa. Será que caminhamos para uma versão realista de uma sonhada utopia ou será que Marte será um novo campo de guerra para recrudescer rivalidades?
For All Mankind – 3X05: Seven Minutes of Terror (EUA, 08 de julho de 2022)
Criação: Ronald D. Moore, Matt Wolpert, Ben Nedivi
Direção: Andrew Stanton
Roteiro: Sabrina Almeida
Elenco: Joel Kinnaman, Wrenn Schmidt, Krys Marshall, Shantel VanSanten, Sonya Walger, Casey W. Johnson, Jodi Balfour, Coral Peña, Cynthy Wu, David Chandler, Edi Gathegi, Piotr Adamczyk, Tony Curran, Robert Bailey Jr., Heidi Sulzman, Taylor Dearden, Lev Gorn, Vera Cherny, Pawel Szajda, Lenny Jacobson
Duração: 63 min.