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Crítica | For All Mankind – 2X06: Best-Laid Plans

por Ritter Fan
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  • Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos demais episódios.

Best-Laid Plans é de uma fina ironia. Enquanto os soldados americanos na Lua treinam com suas metralhadoras brancas e com a cápsula de transporte transformada em tanque de guerra para retomar a mina de lítio capturada na mão grande pelos soviéticos em um ato de agressão passiva, os burocratas dos dois países quebram a cabeça para fazer a Soyuz engatar na Apollo, permitindo que seus astronautas se cumprimentem em órbita da Terra em um gesto publicitário pela paz. Ou seja, mesmo considerando a tensão da Guerra Fria, o que o espectador extrai de tudo é que realmente o mundo não tem jeito, se uma mão é estendida, a outra esconde um arma sempre, em todas as circunstâncias.

Mas esse pessimismo ganha um bem-vindo verniz levemente cômico que começa com Tracy pregando uma peça em um dos soldados que não só erra o alvo, mas erra até mesmo o anteparo atrás e continua com Margo fazendo aquela hilária apresentação para a delegação soviética em que nada – ABSOLUTAMENTE NADA -, nem mesmo a frequência de rádio usada pelos astronautas (e cosmonautas!) pode ser revelado, com a diretora da NASA sendo deixada literalmente entre a cruz e a caldeirinha, com o general Nelson Bradford exigindo que ela faça tudo para que nada dê certo e Thomas Paine suplicando para que ela não faça nada que faça tudo dar errado. É óbvio que isso leva ao eterno clichê dos dois lados secretamente formando laços e chegando a um acordo, mas acontece que isso foi muito bem executado do lado de Margo, com o encontro no apocalíptico bar 11:59 que leva à sequência em que Aleida mostra sua dedicação e inteligência.

No lado dos astronautas, mais ou menos a mesma coisa acontece. Também é clichê, eu sei, mas, novamente, a coisa flui bem, com Dani primeiro lidando com a dupla de cosmonautas soviéticos que mal abrem a boca e mantêm o cenho cerrado, somente para que ela e Stepan Petrovich Alexseev (Nikola Djuricko), ao final do dia, estejam semi-bêbados conversando sobre o sacrifício de Laika e brindando à cachorrinha. Impossível não ser fisgado pela forma como a narrativa é levada, inclusive com a abordagem – ainda que rasa – sobre a ética do uso de animais para experimentações, a verdadeira história do que aconteceu com Laika e Dani dizendo que, mesmo assim, há que se reconhecer o valor do animal.

Mesmo que as relações internacionais entre as superpotências tenha sido o prato principal do episódio, com direito a um sombrio encerramento que inverte o jogo e coloca os astronautas americanos em solo soviético, com uma recepção fria, escura e para lá de mal-educada (clichê de novo, mas quem acha que não era assim, não sabe da missa a metade), não podemos esquecer da importante decisão de Ellen de abertamente assumir seu relacionamento com Pam. Talvez a coisa tenha andado um tantinho rápido demais, mas o diálogo que ela tem com seu marido de fachada, revelando que ela se manteve casta e fiel à Pam por todos esses 10 anos, justifica a urgência e até afobação do que ela faz, ameaçando não só afetar sua própria vida profissional, como também a de Larry. Além disso, essa abordagem era necessária para que a série finalmente lidasse diretamente com a questão do preconceito contra homossexuais, já que a questão da igualdade entre homem e mulher ganhou muito destaque no início. Será interessante ver qual será a reação da NASA e da presidência de Ronald Reagan para a questão, especialmente por Ellen ter galgado posição de destaque depois de seu retorno de Jamestown.

E, como se isso não bastasse, eis que Ed, Karen e Gordo ganham seus momentos de destaque em um episódio que poderia ser extremamente tumultuado por lidar com tantos assuntos ao mesmo tempo, mas que a direção de Meera Menon tira de letra, sem fazer a duração pesar com as subtramas. Do lado de Ed e Karen, a questão é a adoção de Kelly que, não só ganha contexto, como é desafiada, levando a jovem a provavelmente procurar seus pais biológicos, o que pode ter consequências psicológicas devastadoras para seus pais. Do lado de Gordo, o que temos é uma estranhíssima e talvez desnecessária, mas certamente engraçada cena em que ele, mais parecendo um nobre do século XIX, vai até a mansão de Sam Cleveland (Jeff Hephner) para basicamente dizer que vai lutar para ter Tracy de volta, com o milionário simplesmente tendo uma postura surpreendente – regado a vinho da adega de Thomas Jefferson com cada taça custando a bagatela de mil e quinhentos dólares – ao dizer que Tracy não tem dono e que ela fará o que ela quiser e que ninguém poderá interferir nisso, nem ele, nem Gordo. No final das contas, prevejo que o rosto mais famoso das missões espaciais americanas acabará é sem ninguém completamente livre para fazer o que quiser.

Best-Laid Plans é, primordialmente, uma sucessão de sequências que já vimos antes um monte de vezes, mas com muito cuidado para que todas funcionem com grande eficiência não só para desenvolver seus personagens, como para avançar a narrativa a passos largos tanto na Terra quanto na Lua, mas sem jamais perder um leve tom cômico que serve para satirizar a Guerra Fria em todas as suas idiossincrasias. Um belo exemplar do finesse de Ronald D. Moore e do quanto ele preza seus personagens acima de tudo.

For All Mankind – 2X06: Best-Laid Plans (EUA, 26 de março de 2021)
Criação: Ronald D. Moore, Matt Wolpert, Ben Nedivi
Direção: Meera Menon
Roteiro: Joe Menosky
Elenco: Joel Kinnaman, Michael Dorman, Wrenn Schmidt, Sarah Jones, Shantel VanSanten, Jodi Balfour, Krys Marshall, Sonya Walger, Nate Corddry, Dan Donohue, Noah Harpster, Michael Benz, Leonora Pitts, Teya Patt, Coral Peña, John Marshall Jones, Nikola Djuricko, Jeff Hephner
Duração: 59 min.

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