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Crítica | For All Mankind – 1X06: Home Again

por Ritter Fan
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  • Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos demais episódios.

Depois de Into the Abyss posicionar For All Mankind como uma bem-vinda ficção científica que mapeia o começo da exploração espacial ampla depois que, nessa história alternativa, a União Soviética põe o primeiro homem na lua, Home Again dá alguns passos atrás em razão de escolhas estranhas e de uso exagerado de diálogos expositivos para desenvolver personagens. É como se Ronald D. Moore estivesse com medo de correr demais com sua nova criação depois do salto temporal de dois anos e o estabelecimento da primeira base americana em solo lunar e tenha simplesmente decidido frear a narrativa para focar principalmente em um recorte muito específico na carreira de Margo Madison.

Mais um tempo se passa e o status quo muda um pouco: Margo é preterida na escolha de uma nova diretor do Controle da Missão, Gordo e Tracy estão se separando, Ed, Gordo e Danielle formam a equipe que popula a base lunar, a Apollo 23 tragicamente explode em terra matando Gene Kranz e mais 11 técnicos, deixando a trinca de astronautas sem substituição por bem mais tempo que o planejado e fazendo com que o FBI inicie uma investigação para descobrir se foi sabotagem soviética e o agora presidente Ted Kennedy consegue um grande feito aprovando o ERA, sigla de Equal Rights Amendment, emenda constitucional que garante direitos iguais independente de gênero, algo que, para a surpresa de muitos, até hoje não passou.

Todo esse cenário é derramado no colo do espectador com velocidade vertiginosa, sem muito desenvolvimento ou preparação. O único esboço de um trabalho narrativo mais compassado fica por conta das consequências negativas da investigação do FBI para Ellen Waverly e Larry Wilson, dois gays ainda dentro do armário que passam a ser o centro das atenções. No entanto, mesmo esse assunto fica em segundo plano no episódio, já que o foco é mesmo em Margo, que é obrigada a encontrar-se novamente com seu mentor Wernher von Braun, responsável pela elaboração de um laudo técnico sobre a explosão do foguete e que serve de desculpa para que ele revele o verdadeiro passado do pai da moça, um personagem que nunca teve nome e que continua sem nome, sendo magicamente criado, contextualizado e reformulado pelo roteiro escrito por Stephanie Shannon, resultando em uma gigantesca sequência de diálogos cansativos que têm como objetivo fazer com que Margo passe a “jogar o jogo” e use as informações do relatório para forçar seu crescimento na NASA. E, como se isso não bastasse, Margo ainda acaba repetindo sua relação com von Braun ao tornar-se a mentora de Aleida, a menina mexicana fascinada pelo espaço que magicamente se materializa no Controle da Missão.

Em outras palavras, no lugar de desenvolver Margo vagarosamente ao longo dos cinco episódios anteriores, Moore decidiu simplesmente substituir isso por um episódio inteiro sobre ela para reconfigurá-la em sua série de maneira artificial e, pior, sem oferecer qualquer informação verdadeiramente nova sobre a personalidade da personagem. A única coisa que faz o diálogo entre von Braun e Margo funcionar minimamente é a qualidade dramática de Wrenn Schmidt e de Colm Feore e a química que os dois têm em cena, além de todo o terrível passado de nazista de von Braun e de criador da bomba nuclear de Nagasaki (não houve bomba em Hiroshima nesse universo?) do pai sem nome de Margo. O resto todo é Moore forçando situações que não conversam nada bem com o tipo de desenvolvimento mais lento que sua série teve até agora.

Além disso, onde está Molly Cobb??? Como assim, depois de um episódio do gabarito de Into the Abyss, com foco extremo na excelente personagem de Sonya Walger, seu nome é sequer mencionado? Inaceitável que alguém tão importante para a série e que vinha sendo o foco dos dois melhores episódios da temporada seja tratada como inexistente um ou dois breves saltos temporais depois. Eu até entenderia se ela tivesse sido “aposentada” como astronauta em razão da idade ou algo do gênero, mas simplesmente “esquecerem” dela é haraquiri narrativo que revela que o showrunner não parece saber lidar muito bem com seu elenco, usando personagens apenas quando eles têm função específica e relevante para cumprir e, depois, varrendo-os para debaixo do tapete. Espero muito fortemente que esse erro não só seja corrigido como justificado e explicado no próximo episódio.

Se For All Mankind tinha feito um maravilhoso salto narrativo nos dois episódios anteriores, Home Again significa um retrocesso constrangedor que desaponta profundamente, ainda que não seja tecnicamente ruim. Tomara que tenha sido só uma crise de soluços nessa série cheia de potencial.

For All Mankind – 1X06: Home Again (EUA, 22 de novembro de 2019)
Criação: Ronald D. Moore
Direção: Sergio Mimica-Gezzan
Roteiro: Stephanie Shannon
Elenco: Joel Kinnaman, Michael Dorman, Wrenn Schmidt, Sarah Jones, Shantel VanSanten, Jodi Balfour, Chris Agos, Matt Battaglia, Chris Bauer, Jeff Branson, Dan Donohue, Colm Feore, Ryan Kennedy, Eric Ladin, Steven Pritchard, Rebecca Wisocky, Tait Blum, Arturo Del Puerto, Noah Harpster, Krys Marshall, Tracy Mulholland, Dave Power, Mason Thames, Olivia Trujillo, Sonya Walger, Lenny Jacobson, Edwin Hodge, Nate Corddry
Duração: 60 min.

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