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Crítica | Flamin’ Hot – O Sabor que Mudou a História

Um conto de fadas irresistível.

por Ritter Fan
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Se o americano de ascendência mexicana Richard Montañez realmente criou a linha de sabores picantes – “Flamin’ Hot” -quando era zelador em uma das fábricas da empresa e se ele realmente teve sucesso em contactar e convencer o CEO da época em investir nessa estratégia voltada à comunidade mexicana nos EUA – e essa ascensão é controvertida mesmo -, não interessa muito para o filme. Afinal, Flamin’ Hot – O Sabor que Mudou a História não é um documentário e o próprio roteiro de Lewis Colick e Linda Yvette Chávez, dirigido por Eva Longoria em sua estreia nessa cadeira, brinca com as interpretações dos acontecimentos, mostrando autoconsciência, mas que resulta em um filme quase conto de fadas de “sucesso improvável” dentro do batido e por vezes cansativo Sonho Americano que, mesmo formular do começo ao fim, do tipo que todo mundo já viu antes diversas vezes, diverte o espectador.

Como um filme de esporte, uma das especialidades da indústria cinematográfica americana, toda a trajetória de Montañez chega a ser risível de tão clichê. Ele sofria bullying quando criança, mas mostrou empreendedorismo desde o começo ao vender os burritos de sua mãe na escola, era espancado pelo pai, cresceu em meio a gangues locais cometendo crimes e contravenções que lhe valeram tempo de cadeia, casou e teve filhos com seu amor de infância e, na luta diária para colocar comida na mesa, mesmo sem ter nenhuma educação formal, acabou conseguindo emprego de zelador na Frito-Lay e, lá dentro, começou a aprender sobre o funcionamento das máquinas até, diante de uma economia frágil do país que ameaçava o fechamento da fábrica, inventou o sabor Flamin’ Hot para os produtos de isopor da empresa que, então, abriu o caminho para que a PepsiCo (a holding dona da Frito-Lay) passasse a explorar um mercado até então pouco cobiçado, o de hispânicos vivendo legal ou ilegalmente nos Estados Unidos, algo que diversas outras empresas de diferentes áreas também passaram a fazer mais ou menos na mesma época.

Como eu disse, é uma história de ascensão improvável que já foi colocada em celuloide infinitas vezes, mas, assim como o mencionado gênero de filmes de esporte que, no frigir dos ovos, é a mesma coisa, há algo nesse tipo de narrativa que a torna irresistível e é raro um longa errar feio. E Flamin’ Hot – O Sabor que Mudou a História não é uma exceção. Entre os carismáticos Jesse Garcia como Richard Montañez e Annie Gonzalez como Judy Montañez, esposa de Richard, as presenças imponentes de Emilio Rivera (o Marcus Álvarez de Sons of Anarchy e Mayans M.C.) e Dennis Haysbert (talvez mais lembrado como o presidente David Palmer de 24 Horas), o primeiro como Vacho, pai abusivo de Richard, e o segundo como Clarence C. Baker, engenheiro que faz de Richard seu pupilo e, finalmente, o ótimo Tony Shalhoub (o problemático detetive Adrian Monk, de Monk) como Roger Enrico, CEO da PepsiCo e uma direção de Longoria que não se desvia uma vez sequer do manual de como dirigir esse tipo de produção e que valoriza o elenco, o filme consegue se segurar muito bem do começo ao fim, sem cansar para além da mais completa previsibilidade de tudo o que vai acontecer, algo que não reputo um problema.

Trata-se de um filme particularmente especial e inesquecível? Certamente que não. Há atuações que fazem o queixo cair? Nem com muita boa vontade. A história é engajante? Mesmo que seja evidente a abordagem fabulesca da produção, não tenho dúvidas de que sim e, às vezes, isso somado a um elenco competente, ainda que não brilhante, e uma direção que não faz feio dentro das “regras” do subgênero, basta para prender o espectador na cadeira para pouco mais de 1h30′ de diversão completamente descompromissada e, sim, de aquecer corações. Certamente é muito melhor e mais saudável do que comer os produtos quase radioativos que tomam a tela de assalto, sejam nas variedades apimentadas, sejam nas “normais”.

Flamin’ Hot – O Sabor que Mudou a História (Flamin’ Hot – EUA, 09 de junho de 2023)
Direção: Eva Longoria
Roteiro: Lewis Colick, Linda Yvette Chávez (baseado em autobiografia de Richard Montañez)
Elenco: Jesse Garcia, Annie Gonzalez, Emilio Rivera, Vanessa Martinez, Hunter Jones, Dennis Haysbert, Tony Shalhoub, Pepe Serna, Bobby Soto, Jimmy Gonzales, Matt Walsh, Brice Gonzalez
Duração: 99 min.

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