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Crítica | Five Night’s At Freddy’s: O Pesadelo Sem Fim

Quando os brinquedos ganham vida.

por Felipe Oliveira
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Conhecida como uma das produtoras mais notórias no segmento de terror – e às vezes no drama – a Blumhouse tem se colocado para ser o principal selo de produções diversificadas do gênero, por isso, a vemos ser a casa responsável por títulos independentes como O Telefone Preto mas também A Forca, o que mostra que Jason Blum não perde tempo para imprimir sua assinatura. Depois de encerrar sua era com a trilogia legado com Halloween e iniciar agora a de O Exorcista, Blum finalmente revela o resultado da adaptação inspirada nos jogos eletrônicos Five Night’s At Freddy’s, a qual assumiu depois de ser descartada pela Warner.

É interessante observar que durante os impasses que se arrastaram desde 2015, Emma Tammi tenha sido o nome escolhido não só para comandar o longa, mas também co-escrever ao lado de Scott Cawthon e Seth Cuddeback. Mesmo contando com a presença de Cawthon (o criador do jogo), é notável a discrepância entre o que o filme poderia ter sido para o que ele infelizmente entrega. Por si só, a franquia do game idealizada por Cawthon carrega um material impreciso quanto a sua história, o que transfere um mistério por trás da simples premissa sobre um segurança noturno de um restaurante de fast food tendo que sobreviver quando todas as noites os brinquedos animatrônicos do local ganham vida e se mostram máquinas assassinas perversas.

Talvez, poderíamos ver um terror sobrenatural a nível das bizarrices dos filmes de Silent Hill explorando as origens por trás das ações dos bonecos e o restaurante até chegar em Mike Schmidt, segurança noturno, porém, o que temos, é a combinação preguiçosa de Tammi e Cawthon nessa trama que se passa em algum momento dos anos 2000. Tammi, que se tornou uma referência após comandar e escrever o terror psicológico Terra Assombrada, tenta criar um thriller psicológico e dramático enquanto Cawthon traz suas anotações sobre o lore do jogo, mas na esteira de compor um filme independente enquanto se vende como um blockbuster do gênero, Tammi apela para as referências da cultura pop e esquece a natureza mórbida do videogame. Assim, não será estranho reconhecer no filme traços de A Hora do Pesadelo, It: A Coisa e Jogos Mortais em uma narrativa que não consegue minimamente convencer.

A promessa é de ter um filme assustador quando se pensa no que funciona no jogo; experiências quase paranormais e uma origem grotesca, mas o que Tammi faz é FNAF de rir si mesmo quando executa o que tornou o game famoso: e se os brinquedos animatrônicos ganhassem vida? O resultado hesita entre o ridículo e o banal, tão estúpido que parece uma grande piada assistir a tentativa de vender o longa como um thriller psicológico. Em seus acenos para It, o roteiro busca criar um paralelo sobre as origens assassinas dos brinquedos, sequestros e traumas da infância do protagonista vivido por Josh Hutcherson, e de fato, há mais intenções do que boas escolhas nas ideias de Tammi e Cawthon, o que só piora na direção sem criatividade de Tammi, que fracassa para encontrar um tom entre ser um filme atmosférico e denso mas que também se contenta em ser um combo de consequências genéricas de filmes do nicho.

Os exemplos em como a direção de Tammi é afetada chamam atenção logo na cena de abertura, momento que emula os jogos de Jigsaw como demonstração do gore, mas a sequência em si é apressada, com cortes bruscos na intenção de se fazer intensa, psicótica; a consequência é o esperado FNAF ter seu terror na sombra das sugestões e escorado em jumpscares, o que envolve também o fato do filme ter se limitado na classificação para menores e deixar a promessa da violência e atividades insanas dos animatrônicos para a imaginação. E se entre ter um roteiro com o mínimo de inspiração para organizar as ideias jogadas e querer suavizar a falta de tom com um humor constrangedor, Five Night’s pode agradar o público que espera pelo fan service numa adaptação inofensiva do jogo de terror favorito que se fez viral na década passada, e que depois de quase dez anos em desenvolvimento, entrega um remix de vários títulos.

A sensação é que Cawthon e Tammi alimentaram o roteiro com maior número de referências possíveis — inclusive, das teorias da internet sobre a lógica da história — como se isso foi emplacar um filme que parece indie, se inclina para ativar o sensor de nostalgia para a massa popular e amantes de filmes de terror. Seja como for, os planos da Blumhouse é fazer de Five Night’s At Freddy’s: O Pesadelo Sem Fim sua próxima franquia de terror “original” e não deve demorar muito para voltarmos para quase duas horas de um filme maçante com um interminável loop de inexpressividade e inspiração. Se juntasse The Banana Splits Movie e Willy’s Wonderland,  seria como um vislumbre do que FNAF faria, mas com status de obras-prima do terror medonho e divertido. 

Five Night’s At Freddy’s- O Pesadelo Sem Fim (Five Night’s At Freddy’s – EUA, 2023)
Direção: Emma Tammi
Roteiro: Emma Tammi, Scott Cawthon, Seth Cuddeback
Elenco: Josh Hutcherson, Piper Rubio, Elizabeth Lail, Matthew Lillard, Mary Stuart Masterson, Kat Conner Sterling, David Lind, Grant Feely, Tadasay Young, Wyatt Parker, Lucas Grant
Duração: 110 min.

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