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Crítica | Filmes Que Marcam Época – 2ª Temporada

por Ritter Fan
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O que tem de mais bacana nas séries documentais comandadas por Brian Volk-Weiss é a capacidade do showrunner de criar um diálogo simpático, cheio de humor, mas, principalmente, cheio de informações interessantes sobre o assunto abordado. Sejam os brinquedos em Brinquedos Que Marcam Época, sejam os filmes em Filmes Que Marcam Época, a magia do que Volk-Weiss faz está além de apenas trabalhar a nostalgia dos espectadores e está verdadeiramente na forma como ele consegue pinçar uma “polêmica” principal e, a partir dela, costurar episódios agradabilíssimos que, sim, levam o espectador pelo caminho da nostalgia, do amor sobre determinada obra, mas que são verdadeiras aulas tanto de como fazer uma série documental, como também sobre a obra objeto de cada capítulo.

A seleção de filmes clássicos da 1ª temporada, Dirty DancingEsqueceram de MimOs Caça-Fantasmas e Duro de Matar, já havia sido sensacional, mas, na 2ª, ela consegue ir alguns passos adiante, com quatro longas do mais alto gabarito, um deles regiamente oscarizado. Temos De Volta para o Futuro, o perfeito primeiro longa de uma das melhores trilogias do cinema (e, se você discorda, por favor interne-se no sanatório mais próximo…), Uma Linda Mulher, a comédia romântica mais bem sucedida de todos os tempos e trampolim para o estrelato absoluto de Julia Roberts, Jurassic Park: O Parque dos Dinossauros, longa que me fez reagir no cinema de forma bem parecida à reação do Dr. Alan Grant quando vê a manada de braquiossauros e, por último, mas não menos importante, outro filme de Robert Zemeckis, Forrest Gump, o Contador de Histórias, primorosa fábula que passeia pelos eventos da história recente dos EUA.

Cada um dos quatro episódios mantém a estrutura razoavelmente frenética que marca as séries de Volk-Weiss, com muita brincadeira, muito uso inteligente de imagens dos próprios filmes e uma série de entrevistas com um leque grande de pessoas envolvidas nas produções, além de um ou dois historiadores de cinema. Donald Ian Black, que vinha fazendo um excelente trabalho de narração das temporadas anteriores, inclusive da série original sobre brinquedos, mas que já havia sido substituído no especial de Natal, foi substituído, agora, por Danny Wallace que não se faz de rogado e entrega um trabalho tão bom quanto o de Black, o que é essencial para a série realmente funcionar dentro de sua proposta dinâmica.

Cada episódio tem seu mote, alguns mais conhecidos, outros menos. O caso de De Volta para o Futuro é, provavelmente, o que menos traz novidade para os fãs do filme, já que os aspectos inusitados durante a produção do longa já são razoavelmente conhecidos do público, ou seja, a inédita substituição de Eric Stoltz, como Marty McFly, por Michael J. Fox (que era a escolha original) quase seis semanas depois de as filmagens principais começarem e as versões anteriores do roteiro que não continham um DeLorean como máquina do tempo, mas sim uma geladeira e cuja sequência do raio ao final era uma explosão nuclear no meio do deserto. Mas, tudo é apresentado de maneira muito divertida e simpática e, além de tudo, respeitosa a Stoltz, deixando evidente que o próprio ator reconhecia que não havia se achado no roteiro. Por outro lado, é fascinante constatar como a mudança de ator não foi só uma mudança de ator, mas sim uma alteração tonal completa no longa, o que incluiu até mesmo troca de figurino e o retrabalho de sequências já filmadas que a produção entendeu que ficariam melhores de outro jeito. Além disso, é interessante a forma como a interferência do estúdio é combatida e como Robert Zemeckis é abordado ainda como um diretor reconhecidamente bom, mas que não havia ainda encontrado seu grande sucesso, algo que é particularmente importante considerando que o quarto episódio da temporada fala de Forrest Gump, com Zemeckis já consolidado.

No caso de Uma Linda Mulher, ainda que haja ótimo foco na gênese do roteiro de J.F. Lawton, que figura proeminentemente nas entrevistas, e no processo de escalação de Julia Roberts e Richard Gere, a pegada é inegavelmente sentimental, na forma de um bonito tributo ao diretor Garry Marshall, falecido em 2016. O que a estrutura do episódio destaca é o quanto Uma Linda Mulher simplesmente não tinha ainda uma definição de tom, com o cineasta pedindo takes sérios, cômicos e improvisados de todas as cenas, o que deixou o elenco atônito, sem entender absolutamente nada do que estava acontecendo, algo frisado diversas vezes por um simpaticíssimo Jason Alexander lembrando-se do papel que serviu de trampolim para ele viver George Constanza, em Seinfeld. Marshall, porém, tinha um plano e, na mesa de edição, juntamente com Priscilla Nedd-Friendly, fez a mágica que acabou chegando às telonas.

No terceiro episódio, sobre Jurassic Park, o foco do episódio não poderia ser outro: o momento histórico que esse filme representou para as produções cinematográficas ao ser o arauto das mudanças definitivas dos efeitos práticos para os digitais, com a computação gráfica tomando conta de tudo. Claro que há uma pegada agridoce em tudo que vemos, pois, hoje, é perfeitamente reconhecível que, pelo CGI ter simplesmente eliminado a linha que separava o possível do impossível, o que veio a partir daí em termos de blockbusters hollywoodianos trouxe à reboque a defenestração da boa história. É alvissareiro o foco específico em Steve “Spaz” Williams, mago rebelde de computação da Industrial Light & Magic que, vendo a oportunidade e desobedecendo seu chefe direto e criando uma “armadilha” para Kathleen Kennedy, conseguiu convencer a produção de que o melhor caminho para o filme era o CGI e não o stop motion de Phil Tippet, outro mago, aliás.

Finalmente, fechando a temporada, temos a epopeia da produção de Forrest Gump desde que ele era apenas um roteiro não muito bom baseado em um livro também não muito bom, mas que havia sido capitaneado por Wendy Finerman e que foi depois achado por Kevin Jones na pilha de roteiros rejeitados da Warner, levando-o para a Paramount, passando por tentativas de cortes radicais pelo estúdio e chegando à Robert Zemeckis e Tom Hanks, ambos já firmemente estabelecidos no panteão hollywoodiano, bancando o que era necessário com o próprio dinheiro. Também é particularmente tocante a revelação de como Hanks encontrou a voz de seu personagem, algo que veio de uma fonte improvável e como o papel de Gary Sinise como um veterano que perdeu as pernas no Vietnã mudou a vida do ator e a de muitos veteranos reais que foram ajudados por ele.

Filmes Que Marcam Época mais uma vez acerta em cheio o alvo entretendo e divertindo o espectador com sua abordagem cômica de clássicos modernos, ao mesmo tempo que despeja um belíssimo trabalho de pesquisa ilustrado por relevantes entrevistas de uma variada gama de jogadores de cada uma das produções. A vontade que dá é não só correr para rever essas obras, como, também, torcer para que essa série não acabe nunca, de forma que outras filmes marcantes sejam igualmente abordados.

Filmes Que Marcam Época – 2ª Temporada (The Movies That Made Us, EUA – 23 de julho de 2021)
Desenvolvimento: Brian Volk-Weiss
Direção: Brian Volk-Weiss
Elenco: Danny Wallace (narrador)
Com: Bob Gale, Frank Price, Caseen Gaines, J.F. Lawton, Jason Alexander, Dan Lester, Gary W. Goldstein, Dori Zuckerman, Steve “Spaz” Williams, Phil Tippett, Sam Neill, Jody Duncan, John Bell, Gary Sinise, Stephen Rosenbaum, Kevin Jones, Wendy Finerman, Ken Ralston
Duração:  187 min. (4 episódios no total)

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