- Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas de todos os episódios da série e, aqui, de todo nosso material do universo The Walking Dead.
Quando Anton começou com diálogos em alemão antes de Strand aparecer, achei que estava vendo um trailer de alguma outra série ou que tinha clicado no botão errado. Quando Strand surgiu também falando alemão, mas sendo indiscutivelmente Strand, eu soltei uma daquelas risadas de incredulidade, captando exatamente o que o episódio seria até o fim: uma completa bobagem calcada em um artifício idiota para chamar a atenção dos espectadores zumbificados dessa série que ainda insistem em assisti-la por uma combinação de diversos fatores que certamente incluem masoquismo e algum tipo de transtorno obsessivo compulsivo, como é claramente o caso de meu colega Kevin Rick e suas análises de Dead City e Daryl Dixon, derivados que foram ao ar entre as duas metades da temporada final de FTWD.
Com Morgan Jones aparentemente retornando para os braços de seu amigo Rick em alguma outra série derivada dessa franquia morta-viva, o foco, agora, é em terminar o “arco de Madison Clark” (assim mesmo, entre aspas, pois o arco dela acabou quando ela morreu lá atrás, como todo mundo sabe), algo que os showrunners pelo visto só sabem fazer introduzindo novos personagens para serem largados de lado em algum momento como praticamente todos os demais foram. Esses personagens são Frank (Isha Blaaker) e Klaus (Julian Grey), pai e filho alemães que se tornaram, respectivamente, marido e filho adotivo de Victor que, querendo deixar o passado para trás, mudou seu nome para Anton.
Além de carne nova no pedaço, essa mais recente mudança radical em Strand – agora um amoroso marido e pai – é tão artificial que não convence nem por um segundo, especialmente a linha narrativa sobre expiação de pecados e sobre como as pessoas podem mudar que o episódio tenta empurrar goela abaixo do espectador de uma maneira tão canhestra, tão imbecilizante e tão mal aproveitada que não resta muita coisa que não ficar feliz porque o final dessa porcaria está no horizonte. E o que dizer de mais um lugar paradisíaco em que um grupo de sobreviventes vive na maior tranquilidade do mundo, com comida de sobra, roupas limpas, razoável luxo e uma organização impecável que tem como missão maior ajudar todo mundo que precisa de ajuda e que não demora nem meia hora para acabar tendo que fugir dali por uma ameaça tão pouco ameaçadora que poderia ser eliminada ali mesmo, no salão do confronto entre o inútil Daniel e o vingativo Troy (Daniel Sharman)?
O retorno de mais um morto do passado remoto da série para ser o final boss não é nem uma má ideia, devo confessar, especialmente porque o foco é justamente em terminar de contar a história de Madison, outra que retornou dos mortos e que é profundamente entremeada com Troy Otto, mas a supostamente triunfal reentrada do personagem é um banho de água fria. Tudo indica que teremos, novamente, um vilão sem graça que não traz peso ou perigo, já que a oportunidade de mostrar que, no final da última temporada, qualquer coisa poderia acontecer (falo, claro, de Troy efetivamente matar Strand a marteladas no episódio e não ficar só na ameaça interrompida pela chegada do restante do elenco), foi jogada no lixo ao criar um “impasse mexicano” que não vai a lugar nenhum. E ainda tem a chance de a própria Alicia voltar para salvar o dia no último segundo tamanho foi o destaque dado ao seu suposto assassinato por Troy. Claro que nem vou comentar muito sobre mais uma linha narrativa de “estamos construindo um novo paraíso para dar uma chance ao futuro”, pois isso já cansou…
Não tinha esperanças de que, nessa estirada final, Fear the Walking Dead fosse trazer novidades para além do retorno de Troy, mas, bem lá no fundo, esperava algo um tantinho mais bem elaborado do que um sujeito com sede de vingança chegando em um resort onde todo mundo fala alemão, inclusive um repaginado Strand que retorna ao seu velho “eu” tão rapidamente quanto o lugar se torna perigoso demais para as pessoas que estavam lá há anos por causa de meia dúzia de manés com armas e uma Madison que, vocês vão me desculpar, já deu o que tinha que dar. Mas uma coisa é certa pelo menos: no dia 19 de novembro de 2023 (marquem a data!), com dois episódios indo ao ar no mesmo dia, esse suplício finalmente acabará!
Fear the Walking Dead – 8X07: Anton (EUA, 22 de outubro de 2023)
Showrunner: Andrew Chambliss, Ian Goldberg
Direção: Danay García
Roteiro: Nazrin Choudhury, Justin Boyd
Elenco: Kim Dickens, Colman Domingo, Rubén Blades, Jenna Elfman, Danay García, Daniel Sharman, Isha Blaaker, Julian Grey
Duração: 42 min.
