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Crítica | Fear the Walking Dead – 8X06: All I See Is Red

Um adeus a Morgan Jones?

por Ritter Fan
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  • Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas de todos os episódios da série e, aqui, de todo nosso material do universo The Walking Dead.

All I See Is Red tenta ser muita coisa ao mesmo tempo e o episódio acaba atirando para muitos lados sem realmente conseguir acertar em cheio o alvo. Ao passo que o roteiro dos showrunners tenta finalizar o arco de Morgan Jones na série, abrindo caminho para que o personagem se junte a Rick Grimes em um futuro spin-off, ele recoloca Madison Clark na posição de líder do grupo remanescente para a estirada final, além de abordar o relacionamento de Dwight e Sherry, o fim de Shrike e, claro, o fim de PADRE como conhecemos o lugar. Fica aquela sensação de que todas as linhas narrativas acabaram espremidas em uma metade de temporada que muito claramente poderia ter se beneficiado de uma distribuição mais cuidadosa.

Mas deixe-me falar do proverbial bode na sala, pois tudo o que eu consigo ver é Morgan vendo vermelho. E eu serei direto: que coisa patética foi essa que inventaram aqui? Ou melhor, deixe-me refrasear: porque é que não abordaram os blecautes do velho e imortal Morgan como algo mais condizente com o espírito da série? Meu ponto é que os momentos de fúria assassina do personagem ficaram ridículos, mais parecendo um superpoder – com direito à filtro vermelho e tudo mais – do que com o resultado de alguma fadiga psicológica, algum distúrbio que pudesse ser chamado de realista. O uso incessante de seus apagões é o primeiro problema, já que isso nunca, em momento algum, manifestou-se antes e, de repente, ele tem um a cada dois minutos. Nem o Hulk da série clássica setentista era assim.

E o segundo problema, que é maior do que o primeiro, é fazer com que esses surtos quase que literalmente transformem Morgan em um invencível exterminador de desmortos e também de vivos, com todos ao seu redor tendo dificuldades homéricas de segurá-lo. Como assim? Quer dizer que ele, de repente, tornou-se um super-homem, que ele, além de perder a memória, ganhou super força capaz de fazer com que até Daniel fique com medo dele? Confesso que fiquei muito incomodado com essa escolha narrativa que, pior ainda, desaparece da mesma maneira que surgiu e que, se duvidar, jamais será explorada novamente em usos futuros do personagem. Fear the Walking Dead, assim como sempre refestelou-se com personagens de uso único, agora também usa condições psicológicas de uso único para quase que literalmente colorir um episódio que deveria ser marcante por outras razões e não pelo uso de um artifício desses.

E eu nem quero dizer que Morgan não poderia passar por uma situação dessas que, para fins de continuidade, ilustra aquilo que não vimos em sua plenitude sobre seu passado longínquo com a morte de sua esposa e de seu filho. Nenhum problema aí. Meu ponto é que ficou um tantinho quanto ridículo (só para não dizer que ficou cartunesco…) ver as explosões de raiva do sujeito como se ele, de repente, se transformasse no Wolverine em modo selvagem ou, talvez mais apropriadamente, no Diabo da Tasmânia, dos Looney Tunes, quando ele vira aquele tornado destrutivo. E eu nem preciso dizer que, nos dois casos citados, a fúria devastadora faz muito mais sentido, não é mesmo?

Diante dessa escolha equivocada de Andrew Chambliss e de Ian Goldberg, o restante do tumultuado episódio acabou meio que sendo soterrado. Madison voltou no final do ano anterior com a promessa de que teria relevância e passou seis episódios ou fazendo pouco ou sequer aparecendo. Seu retorno, aqui, é consideravelmente sem graça, assim como sua liderança dos pais sem filhos e dos filhos sem pais ao final, que se tornou algo tão natural quanto enfiar um prego na palma da mão. O final de Shrike então, nem tenho verdadeiramente o que comentar. A vilã nunca realmente conseguiu firmar-se como uma ameaça e sua morte foi absolutamente idiota, especialmente depois dessa bobagem mágica de que as coordenadas para o “paraíso” estariam escondidas dentro do binóculo do pai (WTF???). E o irmão dela então voltando para fazer sua figuração de bebê chorão mais perdido do que o Tom Hanks naquela ilha? Mais uma vez, Fear the Walking Dead mantém sua tradição de não saber o que fazer com vilões, preferindo criar arremedos mal aproveitados.

No lado de Dwight e Sherry, até admito que havia algo realmente emocionante a ser mostrado ali, mas a direção de Michael E. Satrazemis não conseguiu extrair isso da dinâmica entre eles e Finch. E isso não foi exatamente culpa dele, pois, no final das contas, se quisermos ser sinceros, o casal, como casal, sempre beirou o insuportável e Finch… bem… Finch é um não-personagem, um mero artifício narrativo para arrancar lágrimas e cumprir uma função específica, o de servir de trágica cobaia para um experimento cruel. Faltou peso nessa relação familiar para que a morte de Finch e a separação de Dwight e Sherry (que, creio, retornarão à série ou à alguma série spin-off da franquia, já que a AMC não deixa os desmortos morrerem) realmente ecoassem.

E aquele final em que uma misteriosa pessoa é vista escutando a mensagem de rádio de Madison e recolhendo o braço metálico de Alicia, os óculos de Strand e, provavelmente, o martelo que Madison usou para matar Troy? Seria mesmo Troy retornando ao mundo dos vivos como muitos vêm dizendo por aí? Seja quem for, a única coisa que eu peço é que seja alguém que já conhecemos, pois manter o suspense desse jeito, sem mostrar o rosto da pessoa nessa sequência final, e, depois, introduzir um personagem novo como foi o caso do suspense ridículo sobre a identidade do líder de PADRE, seria o último prego para terminar de enterrar de vez essa série no anti-panteão das criações televisivas.

Fear the Walking Dead, com a saída de Morgan (ele saiu, não foi?), a separação de Dwight e Sherry, o continuado subaproveitamento de Daniel, o retorno de Madison à posição de líder de um grupo de figurantes e a indicação de que um final boss que vem do passado da série, não me dá a menor vontade de continuar assistindo-a. Só faço porque, se eu cheguei até aqui, vou até o fim e, claro, porque, a essa altura do campeonato, já posso me considerar um masoquista e não adianta mais tentar voltar a ser normal. Pelo menos teremos um descanso até a estirada final!

Fear the Walking Dead – 8X06: All I See Is Red (EUA, 18 de junho de 2023)
Showrunner: Andrew Chambliss, Ian Goldberg
Direção: Michael E. Satrazemis
Roteiro: Andrew Chambliss, Ian Goldberg
Elenco: Lennie James, Kim Dickens, Austin Amelio, Christine Evangelista, Zoey Merchant, Jenna Elfman, Rubén Blades, Maya Eshet, Jayla Walton, Gavin Warren
Duração: 50 min.

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