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Crítica | Fear the Walking Dead – 7X14: Divine Providence

Nem a providência divina salva...

por Ritter Fan
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  • Há spoilers. Leia, aqui, as críticas de todos os episódios da série e, aqui, de todo nosso material do universo The Walking Dead.

Estrume! Eu odeio estrume!
– Tannen, Biff

Mesmo que tudo tenha acontecido de forma um tanto quanto atabalhoada, eu verdadeiramente consegui gostar do que espero que seja o fim do arco de Daniel em sua tentativa de reencontrar sua filha morta. Cheguei a achar, com base no que vimos em Ofelia, que o ex-barbeiro teria uma participação mais bombástica na guerra contra Strand, mas ele ter sua memória manipulada novamente e acabar encontrando em sua relação com a moribunda Charlie algum consolo para sua perda foi uma abordagem boa para sua história, pois, afinal, sequer guerra tivemos ou teremos, pelo andar da carruagem.

O problema é que esse oásis de razoável qualidade, essa gota de perfume barato – digo razoável e barato, pois os acontecimentos não se deram de maneira fluida e sequer tiveram um fim de verdade, mas sim, apenas, um intervalo, por assim dizer – existe no centro de um mar de excremento radioativo. Desculpem-me a adjetivação gráfica, mas é isso mesmo: tudo o que está ao redor da resolução do arco de Daniel é sofrível na melhor das hipóteses e isso sabota profundamente o que o episódio tem de bom. E a melhor forma de eu ilustrar essa minha afirmação para além do odor que minhas palavras talvez tenham evocado, é tratar da vilania do capítulo e da temporada como um todo.

Fear the Walking Dead nunca conseguiu criar vilões verdadeiramente bons, uma verdade quase absoluta, com o ponto mais baixo, até o advento do sétimo ano, tendo sido aquela ridícula velha louca aleatória da quarta temporada. Mas eis que a sétima temporada é uma realidade, não uma alucinação coletiva, e os níveis de ruindade vilanesca foram atualizados com força total. Strand, que deveria já ter sido um grande vilão alguns anos atrás, finalmente tem sua oportunidade como líder ditatorial de sua torre inexpugnável cercada de zumbis atraídos como uma mosca para o farol montado em seu topo, mas tudo o que o showrunners conseguiram fazer com o personagem – que um dia chegou a ser genuinamente bom – foi transformá-lo em um dândi fantasiado de militar do século XIX, com direito a espada e tudo mais, que tem como hobby o arremesso de pessoas do telhado e que passou Divine Providence basicamente chorando o tempo todo em razão de algum tipo de relação doentia de pai e filha que ele acha que tem com Alicia.

Strand era minha esperança de que algo minimamente bacana no quesito vilão da série saísse dessa temporada, mas não, ele tinha que, no final, ficar bonzinho e lutar ao lado de Alicia contra seus capangas que, com um estalar de dedo de Wes, se voltaram contra ele. Aliás, um parênteses antes de eu falar do “outro vilão”, vamos combinar que todas as sequências de “armas apontadas para as pessoas” foram absolutamente patéticas, com Edward Ornelas, na direção, sendo incapaz de criar qualquer tipo de tensão ou mesmo posicionar os personagens de maneira crível no espaço cênico de forma a criar momentos que sustentassem algum tipo de lógica nessas várias ameaças do tipo “faça isso ou não faça isso senão eu te mato”.

Fechado o parênteses, eu preciso falar mais de Wes. O que eu disse dele em Ofelia e The Raft simplesmente não é suficiente para o que vemos o personagem fazer aqui, mesmo que alguém queira me convencer que o lapso temporal entre o final de Ofelia e o começo de Divine Providence tenha sido de 10 anos de intenso treinamento militar, de impostação de voz e de como ser um líder eficaz. O episódio, não satisfeito em terminar de estragar Strand, consegue a mágica de criar um novo vilão basicamente do nada para, então, como de costume na temporada em relação a qualquer personagem que do nada ganha relevância, matá-lo ao final. Não sei quanto a vocês, mas se eu já não tinha me convencido de um Wes “perseguidor implacável” no episódio anterior, agora foi impossível segurar o riso a cada vez que ele se impunha perante Strand, com a apoteose sendo o momento mais do que telegrafado em que ele vira a mesa em cima do chefe e transforma-se no novo chefão da torre.

Em que momento Andrew Chambliss e Ian Goldberg construíram algo que mesmo que de muito longe tenha transformado Wes de um borra-botas em um líder impiedoso? Em que momento a liderança de Strand – essa sim construída com razoabilidade ao longo da temporada – começou a ruir ao ponto de seu exército bandear-se para o novato que acabou de chegar por ali? Mesmo com Howard morto, isso não aconteceria tão rapidamente. Chega a ser vergonhoso ver a forma como esses showrunners estão trabalhando a temporada, pois fazer a pataquada de colocar Wes no topo em um estalar de dedos, somente para em seguida matá-lo é tão ridículo como encerrar o episódio com o tão cobiçado prédio em chamas, o que deverá colocar os sobreviventes novamente em busca de um lar, em uma repetição aparentemente infindável do mais cansativo tropo da franquia The Walking Dead, e isso em pleno 100º episódio da série, se ele não for mais um daqueles insuportáveis capítulos de compilação de melhores momentos, claro.

E o que falar de Alicia? Nada, não é mesmo? Essa é outra personagem-legado que perdeu sua voz, perdeu seu momento e tornou-se uma zumbi viva dentro da série que deveria protagonizar. É como ver uma personagem que, a cada novo episódio, fica um pouco mais apagada quase que na literalidade. Mas o pior é ficar aquela sensação, especialmente agora que ela disse seu nome completo em alto e bom som na única transmissão que conseguiu fazer do alto da torre, que tudo não passa de uma preparação de passagem de tocha de filha para mãe, que retornará na próxima temporada como já anunciado um milhão de vezes para ver se alguém continua assistindo a série.

A única providência divina que eu realmente gostaria era que em mais dois episódios a série acabasse. Não a temporada. A série toda. Mas eu sei que isso não acontecerá e que eu terei que continuar acompanhando dois showrunners em busca de algum objetivo para sua série que não seja irritar tremendamente seu público com histórias como a de Daniel, que poderiam ser boas, mas que são soterradas por caminhões de estrume que eles fazem questão de jogar em cima de tudo que tem um semblante de qualidade.

Fear the Walking Dead – 7X14: Divine Providence (EUA, 22 de maio de 2022)
Showrunner: Andrew Chambliss, Ian Goldberg
Direção: Edward Ornelas
Roteiro: Alex Delyle, David Johnson
Elenco: Lennie James, Alycia Debnam-Carey, Maggie Grace, Colman Domingo, Danay García, Austin Amelio, Mo Collins, Alexa Nisenson, Karen David, Christine Evangelista, Colby Hollman, Jenna Elfman, Rubén Blades, Demetrius Grosse, Aisha Tyler, Sydney Lemmon, Gus Halper
Duração: 45 min.

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