- Há spoilers. Leia, aqui, as críticas de todos os episódios da série e, aqui, de todo nosso material do universo The Walking Dead.
De uma tacada só, a AMC soltou duas informações importantes sobre Fear the Walking Dead. A primeira é que a série foi renovada para a 8ª temporada e a outra é que – SIM! – Madison estará de volta, provando que, realmente, a esperança é a última que morre. Afinal, se é para aturarmos pelo menos mais um ano da série, que no mínimo uma das melhores personagens retorne, mesmo que a explicação para sua não morte e seu subsequente sumiço de anos exija toneladas de nossa suspensão da descrença. Eu estou disposto a pagar o preço que for, especialmente se isso significar que Morgan passará a ter menos proeminência na história.
Mas, eu sei que meu objetivo aqui é falar sobre PADRE, o episódio que marca a metade da 7ª temporada e o começo do tradicional hiato da série e meu merecido descanso dela, pois ninguém é de ferro. Aliás, pegando o gancho no que disse acima, uma das razões de eu estar disposto a empregar doses generosas de suspensão da descrença em relação ao anunciado retorno de Madison é que estamos há 11 anos seguidos com séries e mais séries do universo The Walking Dead e, de uma tacada só, em apenas um episódio, os showrunners me aparecem com dois novos conceitos tirados do chapéu: zumbis retém memória e a infecção pode ser combatida pelo corpo humano indefinidamente.
Vejam, eu sei que as duas coisas podem ser explicadas por algo simples como “Alicia está louca”, mas eu prefiro acreditar, no momento, que não vão apelar para essa cretinice com a personagem. E eu também sei que a primeira “teoria” foi desbancada no próprio episódio quando o desmorto do senador acaba lá na torre de Strand e não em PADRE (uma coisa que reforça a loucura de Alicia é ela achar que um lugar supersecreto teria um farol em seu topo, mas ainda prefiro acreditar que ela privada de sono e morrendo de fome…). O problema é Alicia acreditar na retenção de memória e encasquetar que ela foi infectada na base do “porque sim”, rejeitando as explicações bem mais lógicas de Will, como tétano ou alguma outra infecção causada… hummmm, talvez pelo fato de ela ter cortado seu braço com o cano quebrado de uma metralhadora em um dreno de esgoto, que não costuma ser a forma, nem o local adequados para essa cirurgia até onde sei…
E o pior é que o lance da infecção com o vírus zumbificador não me parece apenas devaneio de Alicia, mas sim algo sério e real por parte dos showrunners, o que implica dizer que pode haver uma maneira de frear a doença ou até mesmo curá-la, o que, muito sinceramente, seria a pior maneira possível para acabar com a franquia, ou seja, na base de uma elipse temporal mostrando que, no futuro, o mundo voltou ao normal depois que uma vacina anti-zumbi foi descoberta e distribuída por todos os sobreviventes. Sei que estou me adiantando demais nas conjecturas e peço perdão, mas é que, inevitavelmente, uma coisa leva à outra e não consegui resistir.
Mas então, retornando ao episódio em si, o que faço meio que esquecendo os “detalhes” acima e também que aquelas explosões de zumbis radioativos que serviram de cliffhanger em The Portrait foram resolvidas na base do “coloquem as máscaras” e “não deixem a nuvem chegar em vocês”, o que me causa espasmos de riso só de pensar, confesso que esperava bem mais da história pregressa do messianismo forçado de Alicia no bunker de Teddy. Os flashbacks que revelam o que ocorreu desde o momento fatídico na temporada anterior foram, no barato, modorrentos até não poder mais, com um ensaio de um romancezinho barato entre Alicia e Will e toda aquela ideia de “seguir o zumbi” começando a ser executada. Os showrunners preencheram um espaço de meses (ou algo assim) com uma confusa sucessão de eventos que tinha como objetivo única e exclusivamente chegar ao momento em que Alicia mostra seu braço de Exterminador do Futuro. Se alguém se chocou com a revelação, parabéns, pois minha reação foi um bocejo tão forte que eu tive que rebobinar a cena para revê-la com propriedade…
A tara de Strand por Alicia é outra coisa que não me desce muito bem, assim como a onipresença de Morgan falando suas platitudes genéricas que me fazem ter vontade de aplaudir a “visão de mundo” que Teddy tinha. Mas tudo bem. Isso já está tão profundamente marcado no DNA de FTWD que eu já me acostumei e nem mais considero como ponto especialmente negativo. O que realmente me irrita – e sei que já disse isso outras trocentas vezes – é que a temporada está completamente sem rumo. E nem adianta me dizer que a guerra prometida por Alicia contra Strand é o ponto a que fomos organicamente levados desde que o maluco da torre ejetou Will lá de cima, pois não é mesmo, especialmente considerando aquela conveniência feia de ruim de Alicia quase fechar um acordo com Strand, somente para ver Will rastejando e automaticamente deduzir que ele fora morto pelo vilão. E o que dizer de PADRE, lugar mítico que continua tão misterioso quanto antes, mas que, suspeito, terá conexão com Madison ou assim espero para que haja algum significado maior para esse MacGuffin safado? O problema será aturar a enrolação por mais vários episódios até chegarmos lá…
Bem, seja como for, agora é descansar da série por um tempo, sonhar que, quando Madison retornar, a primeira providência que ela tomará será no mínimo arrancar as cordas vocais de Morgan e, claro, começar a campanha pelos retornos de Travis, Nick, Troy e também, porque não, de John Dorie Jr., além da troca dos showrunners, para que Fear the Walking Dad ganhe um novo soft reboot e entregue pelo menos UMA temporada realmente memorável. Não é pedir demais. Ou é?
Fear the Walking Dead – 7X08: PADRE (EUA, 05 de dezembro de 2021)
Showrunner: Andrew Chambliss, Ian Goldberg
Direção: Michael E. Satrazemis
Roteiro: Ian Goldberg, Andrew Chambliss
Elenco: Lennie James, Alycia Debnam-Carey, Maggie Grace, Colman Domingo, Danay García, Austin Amelio, Mo Collins, Alexa Nisenson, Karen David, Christine Evangelista, Colby Hollman, Jenna Elfman, Keith Carradine, Rubén Blades, Omid Abtahi, Demetrius Grosse, Aisha Tyler, Sydney Lemmon, Gus Halper
Duração: 52 min.