Home TVEpisódio Crítica | Fear the Walking Dead – 7X07: The Portrait

Crítica | Fear the Walking Dead – 7X07: The Portrait

A arte de catapultar desmortos.

por Ritter Fan
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  • Há spoilers. Leia, aqui, as críticas de todos os episódios da série e, aqui, de todo nosso material do universo The Walking Dead.

Minha memória não é boa o suficiente para eu afirmar categoricamente que nunca vi zumbis serem arremessados com catapultas em filmes ou séries, mas a impressão que tenho é que The Portrait mostrou isso pela primeira vez, pelo menos a primeira vez que eu lembre. Seja como for, esses momentos foram os únicos na temporada toda até agora, juntamente com os cenários de filme de horror trash para o apocalipse nuclear, que me deixaram genuinamente felizes em estar assistindo Fear the Walking Dead. Ajuda que os arremessadores de desmortos ainda colocaram explosivos dentro das criaturas para apimentar as coisas e ameaçaram a torre de Strand com zumbis nucleares.

É uma pena que era necessário contar uma história no episódio e não deixar que ele fosse uma sucessão ininterrupta de desmortos voando pelos ares e dando de cara nos vidros do prédio como em um desenho do Looney Tunes. Eu pagaria fácil para ver apenas isso por 46 minutos. Mas, surpresa, surpresa, ao redor da boa ideia do episódio, eis que Nick Bernardone até que conseguiu escrever algo interessante que gira em torno da crescente loucura e paranoia de Victor Strand. Só um parênteses, se alguém tinha alguma dúvida de que ele tinha alguns parafusos soltos, creio que a montagem dele sendo pintado foi suficiente para dissipá-la por completo, pois ninguém, em sã consciência, mesmo em uma realidade sem zumbis, encomenda uma pintura a óleo de si mesmo…

Mas notem que eu disse apenas interessante, não exatamente fora de série, pois está difícil algo assim acontecer nesta temporada. Claro que ajuda muito eu gostar de Strand e achar que ele está até muito atrasado como grande vilão. E ter Morgan sendo realmente útil em um episódio é coisa rara, pelo que não tem como simplesmente dispensar The Portrait como mais um capítulo padrão do 7º ano da série. O embate entre os dois, mesmo sendo uma gangorra um tanto quanto confusa sobre quem faz o que aonde – ainda não entendi muito bem o negócio do envenenamento, mas ele funcionou para derrubar Strand física e mentalmente, pelo que o artifício cumpriu seu objetivo, o que me permite fechar o olho para a estrita lógica interna – e mesmo sendo inevitavelmente crivada de diálogos longos e cheios de frase de efeito, tem um sabor razoável, no mínimo muito superior ao Miojo fora de validade e com aquele pozinho cancerígeno com que fomos servidos antes (especialmente logo antes, em Reclamation).

O maior problema não está em The Portrait, ainda que o episódio certamente seja um sintoma dele. A questão toda é que, para além de erigir Strand ao posto de vilão, tivemos sete episódios até agora que não avançaram a trama macro em absolutamente nada. Aliás, minto. É perfeitamente compressível que eles não tenham avançado a trama macro, pois ela simplesmente não existe. Não há um caminho, um objetivo, algo mais do que um tênue pano de fundo que lida com um lugar chamado Padre que pode ou não ter ligação com o paradeiro de Alicia que finalmente aparece na temporada (vou confessar logo aqui: por um centésimo de segundo eu cheguei a achar que “ela” era a Madison – acho que estou tão louco quanto o Strand…). É uma história perdida, enevoada e que os showrunners insistem em fazer rodar ao redor de Morgan Jones que está em todos os lugares, sempre tem solução para tudo e não consegue falar sem parecer que está lendo algum livro vagabundo de autoajuda.

Com essa completa falta de norte que reflete (pelo menos no meu) completo desinteresse sobre o destino dos personagens, 80% deles não mais agora do que extras que, se tiverem sorte, aparecem por alguns segundos em um episódio, como foi Wendell aqui, não havia como The Portrait ser mais do que apenas interessante. E de passagem apenas, devo dizer, já que o negócio do “ninguém toca no meu bebê”, “manda meu bebê aqui para baixo”, “agora o bebê é meu” e bebê para cá e bebé para lá, me fez torcer para que Mo virasse lanche dos desmortos no vão do elevador… Como aquela cena foi lenta, não? E com uma direção de Heather Cappiello que de tão burocrática conseguiu esvaziar toda e qualquer chance de haver um mínimo de tensão ali, feito que ela repete ao final, quando Morgan diz para ninguém atirar, somente para todo mundo fuzilar os zumbis radioativos que explodem em uma simpática nuvem de isótopos irradiados que deveriam matar todos no acampamento, mas que eu tenho certeza de que o “vento” chegará para salvar…

The Portrait foi um salto de qualidade, algo que – sou o primeiro a admitir – não significa muita coisa nesta temporada. Não significa sequer aquela sobrancelha levantada demonstrando algum interesse pelo que está por vir. No máximo, com boa vontade, significa que eu não dei cabeçadas no sofá assistindo os zumbis explosivos sendo catapultados e que meu primeiro pensamento, quando os créditos começaram a rolar, não foi “só falta mais um para meu merecido descanso”.

Fear the Walking Dead – 7X07: The Portrait (EUA, 28 de novembro de 2021)
Showrunner: Andrew Chambliss, Ian Goldberg
Direção: Heather Cappiello
Roteiro: Nick Bernardone
Elenco: Lennie James, Alycia Debnam-Carey, Maggie Grace, Colman Domingo, Danay García, Austin Amelio, Mo Collins, Alexa Nisenson, Karen David, Christine Evangelista, Colby Hollman, Jenna Elfman, Keith Carradine, Rubén Blades, Omid Abtahi, Demetrius Grosse, Aisha Tyler, Sydney Lemmon
Duração: 46 min.

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