- Há spoilers. Leia, aqui, as críticas de todos os episódios da série e, aqui, de todo nosso material do universo The Walking Dead.
Lennie James coloca seu boné de diretor novamente para nos reapresentar à dupla do separa-e-reconcilia Dwight e Sherry que, no apocalipse nuclear do apocalipse zumbi, se tornaram “foras-da-lei éticos”, seja lá o que isso significa, sendo conhecidos pela alcunha Dark Horses em razão dos cavalos pretos que cavalgam em mais uma invencionice de vida curta nesta temporada, já que toda a mística criada ao redor dos dois é, apenas, uma desculpa muito esfarrapada para Strand ter interesse neles por querer de volta Mickey (Aisha Tyler, que já havia dirigido um episódio da série, o excelente J.D., e dois de World Beyond), ex-moradora de seu inexpugnável prédio-paraíso-prisão.
Tive enorme dificuldade para comprar a premissa que o roteiro de Justin Boyd e Ashley Cardiff quer nos fazer engolir sem nos dar tempo para pensar. Strand, que comanda um exército, precisa recrutar dois fulanos porque só a reputação deles os permitiria chegar perto de uma mulher sozinha que ele sabe exatamente onde está? É isso mesmo, ou perdi alguma coisa entre uma retirada de máscara e outra que me faz lembrar de toda a radiação por ali e, automaticamente, revirar os olhos? E para que mesmo que Strand quer Mickey de volta? Porque ela fugiu de sua fortaleza e ele não pode aceitar isso de ninguém? Eu não sei exatamente aonde os roteiristas queriam chegar, mas tinha que haver um caminho menos idiota, não é mesmo?
E olha, eu gosto de Dwight. Gosto mesmo, mas ele junto de Sherry é chato demais ou, talvez melhor dizendo, ela é tão chata que tudo ao seu redor fica chato. Fico até pensando como seria se ela e Morgan ficassem juntos alguma hora… Chatocalipse Now? Mas, sem brincadeira, esse casal é cansativo na forma como todo roteiro que lida com os dois precisa criar uma situação em que eles são caracterizados como apaixonados, trocando juras de amor eterno, somente para, no momento seguinte, eles se separarem sem uma razão muito diferente de um belo de um “porque sim”, já que, pelo visto, dá muito trabalho escrever diálogos minimamente decentes.
Sei que estou negativo demais, mas a verdade é que o episódio nem foi tão ruim assim. Ele foi apenas… nhé… Sim, “nhé” é uma expressão técnica e hermética usada por críticos sofisticados de cachecol para caracterizar apatia, indiferença e o mais completa desinteresse no caminho sem rumo que a temporada tem tomado, pois vamos combinar que “chegar até Padre” é apenas um objetivo, não exatamente um rumo. Pelo menos Mickey é uma personagem simpática, com uma missão que, ainda bem, tem final trágico (seria ridículo demais mais uma pessoa separada de seu ente querido encontrando-o vivinho da silva) e ainda nos oferece bizarros momentos de luta livre contra zumbis em uma academia. Eu só não sei se o que Fear the Walking Dead precisa, nessa altura do campeonato, é mais uma personagem nova…
Outro aspecto positivo é deixar bem evidente a vilania de Strand que, espero muito fortemente, não acabe sendo relativizada depois. Torná-lo o responsável pelos assassinatos da família com quem Sherry e Dwight viviam foi pesado, especialmente considerando a criança com um tiro na testa, mas sacramentou sua caracterização e o que ele é capaz de fazer para conseguir o que quer, ainda que, mais uma vez, eu não tenha entendido lá muito bem em que matar a tal família serviria para algo (devo estar ficando burro, ou minha apatia é maior que a preguiça do roteiro, não sei). Resta só esperar que esse seja um caminho sem volta para o personagem.
Till Death é mais um exemplar básico e protocolar de uma temporada que, de diferente mesmo, só tem os ótimos cenários nucleares tirados diretamente de filmes B. O episódio fica naquela incômoda linha que não é capaz de encantar o espectador, mas também não o afasta por completo, tornando a série muito mais uma espécie de obrigação semanal do que um prazer semanal. Mas, do que estou reclamando, se FTWD tem sido assim desde seu começo, não é mesmo?
Fear the Walking Dead – 7X05: Till Death (EUA, 14 de novembro de 2021)
Showrunner: Andrew Chambliss, Ian Goldberg
Direção: Lennie James
Roteiro: Justin Boyd, Ashley Cardiff
Elenco: Lennie James, Alycia Debnam-Carey, Maggie Grace, Colman Domingo, Danay García, Austin Amelio, Mo Collins, Alexa Nisenson, Karen David, Christine Evangelista, Colby Hollman, Jenna Elfman, Keith Carradine, Rubén Blades, Omid Abtahi, Demetrius Grosse, Aisha Tyler
Duração: 46 min.