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Crítica | Fear the Walking Dead – 7X01: The Beacon

O apocalipse do apocalipse.

por Ritter Fan
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  • Há spoilers. Leia, aqui, as críticas de todos os episódios da série e, aqui, de todo nosso material do universo The Walking Dead.

É impressionante notar que Fear the Walking Dead, a primeira série derivada de The Walking Dead, já está em sua 7ª temporada. Um feito e tanto, sem dúvida. O problema é que sua sobrevivência por todo esse tempo não significa qualidade, pois, diferente da obra original, FTWD jamais – e eu repito, jamais – conseguiu realmente mostrar a que veio. Sim, há momentos inesquecíveis aqui e ali e até ensaios de caminhos excelentes a serem seguidos, sem que ela, porém, realmente realize o potencial que mostra ter, mesmo considerando que estamos diante de uma série que passou por reformulações profundas a partir de sua 4ª temporada.

The Beacon é mais um ótimo começo de temporada que aponta um caminho sólido a ser seguido, mas como não ficar com os dois pés atrás pelo tanto de vezes que isso aconteceu na série ao longo dos anos, não é mesmo? E o grande acerto do episódio é ele fazer o que já deveria ter sido feito há tempos: extrair de seu próprio elenco principal o próximo vilão. Uma das possibilidades era Daniel Salazar, personagem de enorme potencial para uma virada sinistra que, porém, foi inexplicavelmente abafado na temporada anterior. Restava, então, Victor Strand, que começou como um fascinante personagem de caráter dúbio que foi se perdendo ao longo das temporadas e que se reergueu no cliffhanger passado e é a partir dele que mais esse novo início é construído.

Mas, interessantemente, o roteiro escrito pela dupla de showrunners não começa por Strand, mas sim por um novo personagem, Will (Gus Halper), que funciona como o nosso guia pelas terras devastadas do Texas no apocalipse dentro do apocalipse criado pela vilania ensandecida de Teddy. Sem diálogo e com um excelente trabalho de direção de arte e de fotografia, esta última marca registrada de praticamente todos os episódios capitaneados por Michael E. Satrazemis, que começou com diretor de fotografia, os minutos iniciais em que acompanhamos Will tentando fazer de tudo para sobreviver em um inferno nuclear são angustiantes e aterradores, com oportunidade orgânica para a introdução de mais um grupo misterioso, desta vez formado por pessoas que aparentemente despem os desmortos ainda vivos (ah, vocês me entenderam!) que culmina com batedores de Strand achando-o em momento de absoluto desespero.

Não sei quanto a vocês, mas há muito eu não via uma construção atmosférica tão interessante na série e diria que eu teria apreciado mais minutos seguindo Will por todos os horrores desse inverno nuclear que ele vive há algo como 50 dias. Mas, compreensivelmente, o episódio precisa caminhar e assim ele o faz, finalmente reintroduzindo Strand, agora fardado como um general do século XIX, naquele mesmo prédio onde o vimos, juntamente com Howard, nos segundos finais da temporada anterior. O lugar, porém, é uma ilha de progresso em meio à destruição nuclear, deixando bem claro que, sob a liderança de Strand, houve prosperidade e que ele não tem o menor pudor em se gabar disso a cada 15 segundos. Vemos um novo homem, sem dúvida, mas um homem ainda mais desequilibrado, com noções despóticas sobre comando misturadas com vaidade e uma necessidade doentia de se provar, o que é exatamente o que eu esperaria do personagem em situação semelhante, depois desse tempo todo. Pontos para os showrunners por finalmente fazerem de Strand o que ele já poderia ser há algum tempo, mas antes tarde do que nunca.

O problema do episódio, porém, é a velocidade com que ele navega as situações. Reparem que não só ele funciona como uma introdução para esse novo status quo, ou seja, o inferno nuclear, como o roteiro faz questão de também lidar com um desenvolvimento disso nos dois lados, o primeiro sendo a evolução (ou involução, depende de sua interpretação) de Strand e de seu prédio autossuficiente e o outro sendo Will, sua conexão com Alicia, o que ela fez de milagroso no bunker onde Teddy a trancou e, como se isso não bastasse, o que aconteceu depois que o próprio Will saiu ou foi expulso de lá. Tenho para mim que é muita coisa ao mesmo tempo e que é tornada ainda mais complexa pelas variações de humor/sentimento de Strand e sua fixação doentia com Alicia. São planos e ideias dentro de planos e ideias tanto de Strand quanto de Will que acabam forçando diálogos expositivos pseudo-filosóficos que atravancam a narrativa lá pela sua metade, demorando a recuperar-se e culminando com a ejeção de Will pelo parapeito do prédio, o que espero que signifique, de uma vez por todas, que Victor Strand é efetivamente o grande vilão aqui e não mais um anti-herói ou alguém que de novo mudará de ideia para salvar o dia.

Mas há um outro problema que é, na verdade, um incômodo que simplesmente temos que aceitar para continuar a assistir a temporada: por que raios as pessoas permaneceram ali? Mesmo o prédio de Strand, salvo pelo vento que soprou em outra direção, simplesmente não pode ser completamente imune à radiação do lugar. Afinal, temos que lembrar que a mesma série já lidou antes com radiação e basicamente sentenciava de morte quem sequer chegasse perto de um zumbi atômico. A incoerência é gigantesca, mas temos que tomar uma pílula avantajada de suspensão da descrença para não rolarmos os olhos e desligarmos a TV. Faz parte. Ou não…

Seja como for, esquecendo que existe algo chamado radiação e compreendendo que os showrunners quiseram complicar e não facilitar essa passagem temporal, The Beacon foi um sólido começo de temporada que imediatamente nos prende pelo tour macabro ciceroneado por Will e pela repaginação de Victor Strand. Se isso vai continuar depois que todos os outros milhares de personagens da série ressurgirem, inclusive e especialmente nosso bom e velho amigo Morgan Jones, são outros quinhentos que descobriremos em breve. Mas eu não prenderia a respiração…

Fear the Walking Dead – 7X01: The Beacon (EUA, 17 de outubro de 2021)
Showrunner: Andrew Chambliss, Ian Goldberg
Direção: Michael E. Satrazemis
Roteiro: Ian Goldberg, Andrew Chambliss
Elenco: Lennie James, Alycia Debnam-Carey, Maggie Grace, Colman Domingo, Danay García, Austin Amelio, Mo Collins, Alexa Nisenson, Karen David, Christine Evangelista, Colby Hollman, Jenna Elfman, Keith Carradine, Rubén Blades, Omid Abtahi, Gus Halper
Duração: 48 min.

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