- Há spoilers. Leia, aqui, as críticas de todos os episódios da série e, aqui, de todo nosso material do universo The Walking Dead.
Com a eliminação de Virginia em Things Left To Do, a esperança – pelo menos a minha – era que o próximo grande vilão fosse colhido dentre as dezenas de personagens já existentes em Fear the Walking Dead, especialmente Daniel ou Strand. No entanto, Daniel foi “neutralizado” em Handle with Care e Strand, no mesmo episódio, mostrou-se bonzinho demais para que os showrunners tivessem realmente coragem de fazer algo nessa linha. E eis que vem The Holding para introduzir de verdade o tal grupo de pichadores do apocalipse que escrevem the end is the beginning por aí desde o começo da temporada. Ok, sem dúvida faz sentido usá-los como vilões.
E também faz sentido – e gostei muito, aliás – eles viverem em uma comunidade autossuficiente em um estacionamento subterrâneo, algo que é mostrado logo no início do episódio com um ótimo plano sequência estendido e sem cortes que dá bem a ideia da estrutura do local, com direito a uma voz – a do mítico Teddy, líder deles – doutrinando-os em loop infinito. Ou seja, mais um daqueles cultos enlouquecidos que volta e meia aparecem nos EUA e também na franquia The Walking Dead. Novamente, faz sentido, ainda que a introdução de mais um grupo, com diversos novos personagens e mais um novo e misterioso vilão já tornou-se algo extremamente cansativo, banal e repetitivo e esse novo pessoal subterrâneo não traz nada verdadeiramente novo para a mesa a não ser a bizarrice de se embalsamar os desmortos que eles não quererem que façam parte do “círculo da vida”, alicerce da filosofia de botequim de seu grande líder.
Iniciando com uma elipse que já coloca o grupo liderado por Alicia sendo encontrado pela tal comunidade, o que segue daí é um episódio-tour, ou seja, um capítulo que tem como objetivo fazer o espectador conhecer essa nova ameaça que, como quase todas antes dela, se mostra boazinha inicialmente somente para, em seguida, revelar suas garras. A descoberta que Derek (Chinaza Uche), irmão de Wes, está vivo e vivendo e pintando ali é o maior fio condutor para os eventos que, se pararmos para pensar, não só são corridos, como são telegrafados a cada segundo, tirando toda e qualquer nesga de tensão que poderia haver. Basta notar o desmorto totêmico que ganha destaque na “decoração” da garagem subterrânea que, claro, não teria outra função que não eliminar Derek sem nem dar tempo para o personagem esquentar.
Além disso, chega a ser ridículo o suspense ao redor de Teddy. Afinal, criar suspense para apresentar personagem 100% inédito em uma franquia não faz nenhum sentido, mesmo que John Glover, o ator que o vive, seja querido em círculos nerds apesar de nunca ter realmente se destacado no audiovisual para além de seu personagem Lionel Luthor, em Smallville. Ou seja, o roteiro de Channing Powell desdobra-se em desculpas para manter Teddy escondido para que ele seja revelado no minuto final sem qualquer efeito de choque ou qualquer sequência que realmente o marque, como foi o caso da entrada de Negan em The Walking Dead, personagem que ainda tinha a vantagem de ser retirado dos quadrinhos, ou seja, havia um contexto por trás. Teddy é um… ninguém… Um ninguém extremamente barbudo, é verdade, mas mesmo assim um ninguém. Só resta esperar que ele não seja outro Logan, outra velha louca ou outra Virginia e seja desenvolvido como alguém digno de se temer e não apenas um hippie com excesso de pelos faciais que solta frases de efeito o tempo todo…
Em termos de ação, o episódio tem apenas um momento que pode ser classificado assim para além da mais do que previsível morte de Derek. Trata-se da sequência em que Alicia e equipe ficam presos no quarto em que os mortos embalsamados estão presos, levando ao uso do líquido de embalsamento como combustível para um incêndio off screen que Alicia causa sozinha para heroicamente salvar seus amigos. E digo heroicamente de forma irônica, claro, pois não havia função narrativa alguma para aquele “sacrifício”, já que ela simplesmente poderia ter jogado o fósforo e se mandado dali junto com os demais. Sim, entendi que quiseram criar uma situação análoga à morte de Madison temporadas atrás, mas vamos combinar que não funcionou, não é mesmo? Alicia parece perdida na série e essa cena não a ajuda em absolutamente em nada. Resta apenas esperar que ela, agora nas mãos de Teddy (que, aliás, menciona a mãe dela…), possa ganhar o desenvolvimento que merece.
No final das contas, The Holding, que deveria ser o grande momento de revelação do novo vilão, acaba sendo um episódio vazio que repete estruturas cansadas e tão lugares-comuns que só geram o efeito de olhar o relógio para ver quando o episódio vai acabar. Fica a esperança – que é sempre a última que morre, coitada – de que Teddy e seu grupo sejam mais do que malucos beleza com vontade de colocar gente em sua composteira do apocalipse.
Fear the Walking Dead – 6X11: The Holding (EUA, 02 de maio de 2021)
Showrunner: Andrew Chambliss, Ian Goldberg
Direção: K.C. Colwell
Roteiro: Channing Powell
Elenco: Lennie James, Alycia Debnam-Carey, Maggie Grace, Colman Domingo, Danay García, Austin Amelio, Alexa Nisenson, Rubén Blades, Karen David, Jenna Elfman, Demetrius Grosse, Michael Abbott Jr., Zoe Margaret Colletti, Devyn A. Tyler, Christine Evangelista, Peter Jacobson, Cory Hart, Raphael Sbarge, Colby Hollman, John Glover, Nick Stahl, Chinaza Uche
Duração: 46 min.