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Crítica | Fabulosos Vingadores: Os Gêmeos do Apocalipse

por Luiz Santiago
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estrelas 4

Spoilers!

É impressionante o nível de crescimento do roteiro de Rick Remender do primeiro arco destes Fabulosos Vingadores (A Sombra Vermelha) para este fantástico Os Gêmeos do Apocalipse, que coloca os irmãos Uriel e Eimin em apaixonada execução do plano de seu “pai” Kang, cujo objetivo é arrebatar todos os mutantes e evitar um futuro catastrófico de escravidão e servidão liderado pelo Caveira Vermelha.

Quero deixar claro desde já que as únicas coisas que me impediram de dar nota máxima para este arco foi a escolha de Remender em fazer da edição #6 um flashback isolado da ação principal — logo ele, que consegue escrever ações paralelas tão bem! — e a fixação um pouco redundante do drama de Uriel e Eimin, que começam com uma intenção e orientação específicas mas que aos poucos vão migrando para estágios de um plano que expõe como as ações alteram o comportamento dos planejadores, algo que acaba se tornando frágil demais — e na prática, confuso — em termos de roteiro.

A despeito desses aspectos, é impossível não elogiar com toda honestidade a escancarada e fortíssima crítica que o autor faz às inúmeras formas de preconceito e à segregação de pessoas. Que texto poderoso nesse sentido! O que inicialmente era apenas uma luta mais ou menos localizada contra o Caveira Vermelha e sua semente de ódio (plantada para colocar humanos contra mutantes) tornou-se uma batalha de aspecto cósmico, com direito ao assassinato de um Celestial, ao retorno para a juventude de Thor e seu lendário machado, o Jarnbjorn; à destruição da Zênite e a um denso embate ético-moral entre Vingadores e X-Men.

Dentre as muitas estratégias utilizadas pelos gêmeos, a divisão dos Fabulosos Vingadores parecia ser, a princípio, a mais difícil, já que o grupo havia aceitado deixar os egos de lado para seguir o sonho de alguém que respeitavam muito. Contudo, à medida que segredos do passado e desconfianças do presente entram em jogo, esta separação se torna tão fácil como qualquer outra parte do processo. A impressão que o leitor tem é de ver um grande movimento político segregador se construir, utilizando-se das mais diversas armas e forças e com um discurso que justifica a carnificina pela salvação que trará a um determinado grupo. Mais uma vez, o texto de Rick Remender serve como um gigantesco dedo na ferida de diversas sociedades, tanto como memória de tempos passados (expondo antissemitismo e holocaustos) quanto como espelho da realidade, fixado em problemas com os imigrantes na Europa e na América e em uma série de outras áreas que envolvem a separação, diminuição, destrato ou condenação de alguém apenas por ser “diferente”.

A edição #9 traz um soberbo diálogo entre Vampira e Feiticeira Escarlate, tornando-se a melhor e mais relevante edição de todo o arco, porque constrói o verdadeiro significado por trás de toda esta batalha de separação. Remender acende o debate sobre civilização, aceitação e convivência e ainda consegue problematizar com destreza algumas variáveis para o projeto do arrebatamento de mutantes, tais como a impressão que os gêmeos deixam de que esta é a “úncia coisa certa a ser feita”; a justificativa de Wolverine e defesa de Thor para o assassinato de Apocalipse ainda criança; a separação do grupo por motivos éticos; o convencimento da Feiticeira Escarlate de que um planeta mutante, longe dos humanos, será bom tanto para um lado quanto para outro e por aí vai.

Denso, instigante e com diálogos extremamente fortes, Os Gêmeos do Apocalipse é um arco para fazer pensar. O leitor não deve se preocupar com a edição 8.1 ou 8AU (Age of Ultron), porque ela é apenas uma expansão “externa” à história, não acrescenta nada de verdadeiramente novo à trama.

Daniel Acuña manda muitíssimo bem na arte, especialmente em quadros que mostram o espaço, naves ou criaturas de grande porte, destruição e lutas. O artista alterna muito bem o ritmo dramático da história através dos desenhos, escolhendo momentos essenciais para as páginas duplas e optando por uma diagramação simples dos quadros, compensado-a com uma arte grandiosa e inteligente. Vale também destacar o ótimo trabalho de cores, que reforça o tempo inteiro a dualidade entre bem e mal ou entre facções distintas em um mesmo lado da moeda. A edição #11, com interessante predominância do preto e azul traz quadros maravilhosos de se ver.

Os Gêmeos do Apocalipse é um libelo contra todo tipo de preconceito e segregação. Uma saga que instiga o leitor e o coloca em territórios que muitas vezes não lhe são confortáveis, situação moral que torna a leitura ainda melhor e desafiadora.

Fabulosos Vingadores #6 a 11: Os Gêmeos do Apocalipse (Uncanny Avengers Vol.1: The Apocalypse Twins #6 – 11 + Uncanny Avengers Vol 1 8AU — Age of Ultron).
Roteiro: Rick Remender (com Gerry Duggan apenas na edição 8.1 ou 8AU)
Arte: Daniel Acuña e Adam Kubert (apenas na edição 8.1 ou 8AU)
Arte-final: Daniel Acuña e Adam Kubert (apenas na edição 8.1 ou 8AU)
Cores: Daniel Acuña e Adam Kubert (apenas na edição 8.1 ou 8AU)
Letras: Chris Eliopoulos (#6 a 9), Cory Petit (#8.1 ou 8AU)), Clayton Cowles (#10 e 11)
Capas: John Cassaday, Laura Martin e Jim Cheung, Mark Morales, Justin Ponsor (apenas na edição 8.1 ou 8AU)
24 páginas (cada uma edição).

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