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Crítica | Expresso do Amanhã – 3X08: Setting Itself Right

Arrancando o couro!

por Ritter Fan
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Falem o que quiser de Setting Itself Right, mas o episódio teve, para mim, minha cena favorita da série toda até agora que, duvido, terá algum tipo de competição. Falo, claro, do filé de epiderme que a Dra. Headwood tira da coxa de uma LJ deliciosamente sadomasô com o que parece ser um cortador de queijo. Meu único problema com esse fantástico momento que está para sempre arquivado em minha gaveta mental de momentos memoráveis da televisão, é que ele é curto demais. Queria ter tido mais tempo para saborear a “ralação”, o rosto de puro prazer de LJ e o de admiração da proto-Mengele. Sei que provavelmente essa confissão fala mais de mim do que da cena, mas tudo bem, faz parte…

No entanto, mesmo que o episódio não contivesse esse primor sadomasoquista de infelizmente breves segundos, ele ainda teria sido bem interessante. E a situação macro, o desvio do caminho até Nova Éden em razão da nesga de esperança implantada por Wilford sobre a sobrevivência de Melanie que faz com que o trem enfrente uma nuvem vulcânica tóxica, é por si só uma forma de se trazer o grande vilão da série (depois de LJ, obviamente) para o destaque mais uma vez. A ambiguidade sobre suas intenções chega a ser maquiavélica. Ele fez aquilo de caso pensado? Fomentou esperança para criar insegurança? Ou, como diz Zarah, será que ele quer Melanie de volta porque ela pode representar uma espécie de “figura neutra” no conflito entre Wilford e Layton pelo controle do trem? E eu particularmente gosto de como Sean Bean mantém seu personagem naquela linha nublada e indecifrável entre bondade e maldade, entre altruísmo e egoísmo, ajudado por um roteiro ambíguo e muito bem escrito para ele.

E o perigo à vista leva ao confinamento dos passageiros às suas cabines, algo que foi aproveitado de duas formas, ambas muito bonitas. A primeira nos deixou ver um pouco da relação pai e filha entre Roche e sua filha, com direito a número musical desafinado ao som de More than This, em um daqueles momentos singelos e prosaicos que a série volta e meia oferece para nos relembrar da vida antes do frio. A segunda, mais extensa e mais nuançada, é a que coloca Bess e Audrey juntas na cabine da primeira não para estabelecer de cara algum relacionamento maior entre elas do que apenas uma amizade hesitante – pelo menos não pelo momento, claro -, mas sim para trabalhar simultaneamente duas almas torturadas pelo passado, uma tentando ajudar a outra. Se Expresso do Amanhã tem um problema crônico, é justamente desenvolver pouco seus personagens coadjuvantes e cada oportunidade para isso ocorrer, merece atenção e, aqui, felizmente, a condução da direção de Leslie Hope é excelente com o picotamento das cenas e dos flashes de memória, assim como as atuações de Mickey Sumner e Lena Hall.

Diria que, entre a cena de LJ, a dualidade de Wilford e as sequências com as duas duplas que citei logo acima, o que era para ser o grande momento dramático do episódio – a morte de Asha – acabou ficando em segundo plano. Não gosto de ficar apontando furos em filmes e séries, mas toda a situação causada para matá-la pareceu-me inverossímil demais, já que, se Layton também tivesse tirado a roupa protetora para resgatá-la quando ela cai de costas e ele fica “horas” conversando com ela sobre Nova Éden, os dois poderiam muito bem sair vivos da situação. No entanto, dito isso, metaforicamente a cena funciona. Afinal, Asha, mesmo que inadvertidamente – ou em razão da manipulação de Layton para deixar bem claro – deu esperança ao habitantes do trem e, ao finalmente encontrar seu lugar, morreu, como se o Perfuraneve cobrasse uma espécie de pedágio – como é a pele por informação no caso de LJ e Headwood – e, como o título indica, precisasse sempre manter-se em equilíbrio, dando de um lado, tirando de outro. Mas é claro que sua morte é, assim como a de Pike, bastante conveniente, pois blinda a mentira de Layton.

Setting Itself Right é um daqueles episódios construídos em cima de um obstáculo exterior – o uso do vermelho terroso na fotografia foi muito bonito, aliás – para estudar o interior, como foi o caso, também causado por Wilford, dos vagões no meio dos trilhos que oportunizaram as aparições de Melanie e que, de certa forma, usa a sumida engenheira como ponte temática. O episódio também pode ser visto como pelo menos um semi-filler, mas, aqui, tenho para mim, que altamente justificável por sua qualidade e pelo que ele adiciona a alguns dos personagens de menos destaque (especialmente, claro, a cena sadomasoquista, he, he, he…). Se Melanie está mesmo viva naquele mini-trem visto ao final, ou se aquilo é só mais uma cortina de fumaça, descobriremos em breve!

P.s.: E quem é que “morreu”, mas está vivo lá no laboratório da Dra. Frankenstein, hein? O marido dela? Kevin? O gigante de gelo? O último australiano? Pike? Strong Boy? Uma mistura de pedaços de todos eles? Ou seria Odete Roitman? Façam suas apostas!

Expresso do Amanhã – 3X08: Se Ajeitando (Snowpiercer – 3X08: Setting Itself Right – EUA, 14 de março de 2022)
Showrunner: Graeme Manson (baseado no filme homônimo de Bong Joon-Ho e na graphic novel O Perfuraneve de  Jacques Lob, Benjamin Legrand e Jean-Marc Rochette)
Direção: Leslie Hope
Roteiro: Marisha Mukerjee
Elenco: Daveed Diggs, Mickey Sumner, Alison Wright, Lena Hall, Iddo Goldberg, Sean Bean, Katie McGuinness, Sam Otto, Sheila Vand, Roberto Urbina, Annalise Basso, Steven Ogg, Rowan Blanchard, Tom Lipinski, Archie Panjabi, Mike O’Malley
Duração: 46 min.

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