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Crítica | Expresso do Amanhã – 3X01: The Tortoise and the Hare

Na fábula, a tartaruga ganha da lebre...

por Ritter Fan
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  • spoilers. Leiam, aqui, todo o nosso material sobre a franquia.

Into the White encerrou a excelente segunda temporada de Expresso do Amanhã de forma explosiva e, naturalmente, o começo da seguinte, mesmo sendo lançada apenas 10 meses depois, não poderia escapar da boa e velha função de situar o espectador no novo status quo e colocar todas as peças no tabuleiro para continuar o jogo. The Tortoise and the Hare, portanto, faz justamente isso, inclusive começando seis meses depois, uma elipse inteligente que permite aos roteiristas – no caso o próprio showrunner Graeme Manson novamente dividindo os créditos com Aubrey Nealon – abordarem todo o novo cenário como algo já estabelecido, com rotinas tanto na locomotiva Perfuraneve com alguns poucos passageiros e vagões quanto na Big Alice, agora sendo o motor da grande maioria dos vagões.

E há muito o que ser visto, mesmo que os problemas gerais dos dois trens sejam parecidos, mas com características quase que completamente opostas, o que torna fácil – talvez até demais – as comparações. O Perfuraneve, agora, é, essencialmente, um bólido velocíssimo em razão de seu tamanho mínimo e o número diminuto de passageiros, basicamente Andre Layton, Bess Till, Bennett “Ben” Knox, Josie Wellstead e Alexandra “Alex” Cavill, com  Miss Audrey como prisioneira/refém, que para de tempos em tempos para o recolhimento de neve e gelo de forma que os estudos sobre o reaquecimento da Terra possam ser completados e a mítica Nova Éden possa ser localizada. Big Alice, por seu turno, é lenta, ainda comanda pelo obsessivo e paranoico Sr. Wilford, com Javier “Javi” de la Torre, confirmado vivo, apesar de ferido e sob a constante vigilância do “simpático” cão preto ao seu lado, na direção, seu fidelíssimo Kevin  Kevin McMahon servindo com o equivalente férreo a um agente da Gestapo que tem como função desbaratar a resistência comandada por Ruth Wardell que precisa se manter escondida em “buracos quentes” de -12º C com a ajuda, principalmente, de Pike.

Ambos os trens seguem ideais de seus líderes. O Perfuraneve os de Melanie (será que morreu mesmo, considerando que ninguém importante morreu até agora na série, com Josie, Kevin e agora Javi vivinhos da silva) e o Big Alice de Wilford. ambos os trens não têm comida suficiente, com o de Layton tendo que enfrentar o superaquecimento e o de Wilford ainda tendo que lidar com o congelamento da água em seus canos e o desuso de diversos vagões em razão da necessária economia de energia. Ambos os trens, de uma maneira ou de outra, creem que parte da solução está na reunião deles em algum momento e o que existe é mesmo a mítica corrida da tartaruga e da lebre e nós sabemos muito bem como essa fábula acaba.

Com a literal abertura das portas do trem principal (ou o que era o principal) e a metafórica expansão da série para além do confinamento dos bólidos causado pela pesquisa de Melanie na temporada anterior, a série encontra espaço para expandir seus horizontes um pouco. Boa parte da ação, neste capítulo inaugural, é passada do lado de fora, com Ben caindo em um buraco depois de recolher suas amostras de gelo e Layton e Josie partindo para resgatá-lo enquanto Alex e Bess põem a locomotiva para funcionar e enfrentam Missa Audrey no processo. Não são sequências de ação – dentro e fora do trem – terrivelmente originais ou particularmente excitantes, mas elas cumprem a função de trazer novos componentes à série, especialmente, claro, a misteriosa norte-coreana (estou apenas supondo que é uma norte-coreana, pois eles estavam na Coréia do Norte) que ataca Layton depois de ele descobrir alguém vivo e com “aquecimento central” no lugar onde Ben estava. A adição de uma personagem ao elenco que nunca esteve em algum dos trens e que sobreviveu esse tempo todo isolada tem muito potencial narrativo, pelo que fica aquela curiosidade em saber mais sobre ela.

No caso de Big Alice, tudo o que vemos é mesmo um “passeio” pelo status quo dessa fusão de trens. Com exceção da resistência ter mudado de cara – antes era o pessoal da rabeira do Perfuraneve lutando contra Melanie e o luxo da parte da frente, em uma clássica luta de classes e, agora, é uma variação disso, com um grupo rebelde contra um ditador -, nada realmente foi alterado radicalmente. O controle de Wilford ainda é próximo do absoluto, com Javi completamente subjugado o tempo todo, Kevin refestelando-se em sua posição de líder da polícia secreta, LJ e Oz formando o “casal bizarro” e Zarah, gravidíssima de Layton, sendo protegida pelo líder de Big Alice – ou pelo menos não abusada por ele –  justamente em razão de sua gravidez.

Como há três ambientes que basicamente dividem uniformemente a minutagem do episódio e, em cada um deles, suas respectivas subdivisões, a direção de Christoph Schrewe tenta fazer o máximo para criar unicidade narrativa, mas sem nem sempre conseguir de verdade. Não só visualmente temos cenários bastante variados, com a escuridão de Big Alice contrastando com a claridade do Perfuraneve, como há muito a ser mostrado, o que obrigado o diretor a pular de um lado para o outro com frequência demais, o que acaba picotando a narrativa. Ele até tenta fazer planos-sequência alongados para fazer o espectador passear pelos trens, mas isso logo abre espaço para um frenesi visual que acaba incomodando, como Schrewe deixando transparecer sua ansiedade de sair de determinado cenário e ir para outro para mostrar o que está acontecendo. Faltou calma, diria, para fazer o episódio andar com mais fluidez.

The Tortoise and the Hare tinha a função de apresentar as premissas e as bases do terceiro ano da série – com o quarto já tendo sido aprovado, vale lembrar – e isso ele cumpre muito bem, mesmo tendo que lidar com assuntos demais em relativamente pouco tempo. Mas esse é um ônus que episódios de começo de temporada normalmente carregam e o roteiro de Manson e Nealon, apesar de razoavelmente tumultuado, com a direção de Schrewe não ajudando muito nesse aspecto, fazem do capítulo uma grande e certeira isca para fisgar os espectadores de volta para o drama férreo que, por incrível que pareça, considerando todas as suas óbvias limitações, tem conseguido manter fresca a narrativa.

Expresso do Amanhã – 3X01: A Tartaruga e a Lebre (Snowpiercer – 3X01 : The Tortoise and the Hare, EUA – 24 de janeiro de 2022)
Showrunner: Graeme Manson (baseado no filme homônimo de Bong Joon-Ho e na graphic novel O Perfuraneve de  Jacques Lob, Benjamin Legrand e Jean-Marc Rochette)
Direção: Christoph Schrewe
Roteiro: Graeme Manson, Aubrey Nealon
Elenco: Daveed Diggs, Mickey Sumner, Alison Wright, Lena Hall, Iddo Goldberg, Sean Bean, Katie McGuinness, Sam Otto, Sheila Vand, Roberto Urbina, Annalise Basso, Steven Ogg, Rowan Blanchard, Tom Lipinski
Duração: 46 min.

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