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Crítica | Exploding Kittens – 1ª Temporada

Deus e o Diabo na Terra são gatos.

por Ritter Fan
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Nunca tinha ouvido falar de Exploding Kittens até a série sob análise aportar de surpresa no Netflix e o título imediatamente atrair-me pelo inusitado da coisa. Foi só depois que eu descobri que se trata de uma adaptação de um jogo de cartas e tabuleiro que foi objeto de uma explosiva (he, he, he) campanha do Kickstarter e que, depois, tornou-se também videogame. Apesar de eu não ter ideia se os jogos relacionam-se de verdade com a série para além do título, o que eu posso dizer é que, apesar de Exploding Kittens ter gatos, eles não explodem. Na verdade, um é literalmente Deus e o outro o Diabo – ou, mais precisamente, Belzebu – ambos mandados para a Terra em forma felina pelas respectivas diretorias do Paraíso e do Inferno para eles se provarem novamente, cada um, claro, em sua suposta função diante da humanidade.

É, sem dúvida alguma, uma premissa intrigante que não me surpreende ter chegado ao status de série animada diante da sede que os serviços de streaming têm por literalmente qualquer coisa que possa ganhar esse tipo de tratamento. Além disso, apesar de parecer algo herege, profano e tudo mais, Exploding Kittens não chega nem aos pés da abordagem bem mais radical e, portanto, interessante de Hotel Hazbin, outra recente série animada de temática bíblica. Aqui, Deus, que na forma felina ganha o nome GodCat ou, em português, Gativino (voz de Tom Ellis, o Lúcifer da série homônima), apesar de inicialmente não ligar mesmo para os humanos, não demora para amolecer e perceber que sua criação tem mais valor do que ele imaginava ou lembrava. E, obviamente, caminho semelhante é seguido por DevilCat ou, em português, Gatinhosa, que chega para provar que sabe atormentar os humanos, mas acaba gostando deles.

Aliás, a humanidade é representada, basicamente, por apenas a família para a qual Deus é enviado. Os Higgins são compostos pelo pai Marv (Mark Proksch), calvo, com sobrepeso e um mega-nerd, a mãe Abbie (Suzy Nakamura), ex-militar, atlética e que sente falta da vida movimentada que tinha, o filho Travis (Kenny Yates) que fica o tempo todo na internet e que, quando mais novo, foi para sempre marcado por um vídeo em que cantou erroneamente uma canção e a filha Greta (Ally Maki), esperta e inteligente, mas subestimada por todos. Pela descrição, é perfeitamente possível perceber que a série se apoia em arquétipos e, ao longo de toda a temporada composta por nove episódios, não faz nenhum esforço para fugir deles, ainda que, para o mérito da equipe de roteiristas, exista uma narrativa única que leva a algum desenvolvimento para eles que sabem sobre os gatos divinos e convivem normalmente com eles.

Obviamente que o destaque fica justamente para Deus e o Diabo na forma de gatos e todos os planos e estratagemas que eles, separada ou conjuntamente, colocam em movimento para mostrarem-se hábeis a voltar a seus respectivos lares. Mesmo considerando as diversas críticas válidas que os roteiros fazem aos mais diversos assuntos, começando pela abordagem bíblica, claro, mas chegando até mesmo à manutenção de animais marinhos presos no SeaWorld ou uma cidadezinha que é assombrada por pugs vampiros, a temporada demora muito a decolar e, quando decola, não consegue sustentar o voo por muito tempo, logo recorrendo a repetições dos mesmos assuntos, só que de maneiras levemente diferentes que vão elevando o grau de absurdismo, mas sem realmente ousar para além de maneirismos básicos, como a aproximação dos dois gatos, a verdadeira origem de Gatinhosa e assim por diante.

Em outras palavras, havia espaço para uma história dessas, sem dúvida alguma, mas não tanto espaço. O desejo de se converter qualquer coisa para o formato serializado nem sempre resulta em obras que realmente deveriam ser séries. Exploding Kittens é um desses casos que provavelmente seria muito melhor na forma de um longa de 80 ou 90 minutos ou talvez uma curta minissérie, sem levá-la a nove episódios e, mais ainda, sem apontar para uma segunda temporada. Aqui, a duração elevada total faz com que a novidade da premissa desgaste-se rapidamente, os personagens passem a andar em círculos e a história comece a socorrer-se de elementos que retiram seu foco e diminuem o impacto geral inicialmente pretendido.

Com um design básico, mas variado e divertido e uma animação que tende à simplicidade, mas que cumpre sua função, Exploding Kittens vai muito além do que deveria ir e não consegue prender o espectador por muito tempo. Deus e o Diabo na Terra como gatos é algo que sem dúvida chama atenção, mas que não se sustenta com as situações trabalhadas ao longo da temporada, logo cansando e fazendo com que o espectador reze para que tudo acabe logo.

Exploding Kittens – 1ª Temporada (Idem – EUA, 12 de julho de 2024)
Criação: Matthew Inman, Shane Kosakowski
Direção: Eddie Rosas, Scott Bern, Traci Honda
Roteiro: Matthew Inman, Shane Kosakowski, Caitie Delaney, Noah Prestwich, Sierra Katow, Shawn Kenji Pearlman, Maggie Gottlieb
Elenco: Tom Ellis, Sasheer Zamata, Suzy Nakamura, Mark Proksch, Ally Maki, Kenny Yates, Betsy Sodaro, Tom Kenny, David Gborie
Duração: 227 min. (nove episódios)

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