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Crítica | Evangelion 3.33: Você (não) Pode Refazer

por Kevin Rick
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Eu preciso falar de Evangelion 3.33: Você (não) Pode Refazer em três partes para explicar minha visão do filme como um todo: o início, o restante da obra após a entrada e ele como sequência na cinessérie Rebuild. Antes de explicar o porquê dessa abordagem, vamos dar um pouquinho de contexto. Após os eventos dos últimos dois filmes que reorganizam e mudam (a partir do segundo) os eventos dos 20 primeiros episódios da série original, o terceiro filme continua os acontecimentos 14 anos após o quase-Terceiro Impacto causado por Shinji salvando Ayanami em Evangelion 2.22: Você (não) Pode Avançar, iniciando esta animação com a primeira história completamente inédita do Rebuild. 

O começo da terceira entrada do Rebuild é, provavelmente, minha abertura favorita em toda a franquia Neon Genesis Evangelion. Hideaki Anno pega a mesma abordagem de blockbuster do filme anterior, e consegue ser ainda mais despirocado ao nos dar uma aventura espacial dos Mechas de Asuka e Mari lutando na órbita contra um Anjo. É uma sequência simplesmente fenomenal para continuar a proposta de ação tresloucada que ele começou a imprimir com a parte técnica em Rebuild. Temos robôs gigantes lutando em foguetes gigantes contra monstros gigantes, no espaço; e ah, Asuka tem um tapa-olho. A animação tem uma pegada ainda maior do 3D no visual mais artificial e operante do combate, assim como mantém um aspecto mais fluído da coreografia com a evolução técnica de planos mais acelerados e a montagem mais dinâmica. Eu estava investido no escopo colossal e prontinho para ter duas horas de entretenimento ininterrupto de combate. Quem me dera…

O que se segue após este trecho inicial é, em um primeiro instante, bastante interessante. Com o salto temporal, Anno imprime uma pegada de sci-fi distópico com os ambientes mais escuros e tecnológicos, os figurinos lúgubres e formais do elenco (Misato agora parece uma capitã pós-apocalíptica de verdade, e não uma professora de ensino médio, por exemplo), além de todo o aspecto militarista dado a nave, quartos, modo de falar, etc. Além disso, Anno decide retornar com alguns elementos mais dramáticos aos arcos dos personagens, especialmente à Shinji. Como o protagonista acorda em um futuro (ainda mais) pós-apocalíptico, cheio de perguntas e dúvidas, enquanto seus amigos o desprezam por eventos que ele desconhece, a trama começa a se encaminhar para algo menos épico que dava sinais no início, para retornar ao molde mais intimista da série original. Começa-se, então, a chatice infernal de Shinji.

Praticamente todo o filme se desenrola em ver Shinji desesperado para entender os acontecimentos após salvar Ayanami e o motivo das indiferenças de seus amigos próximos. O problema inicial desta mudança de abordagem de Anno está justamente em como é apenas… uma mudança pela mudança, para satisfazer a aleatoriedade do cineasta japonês. Em suma, são 90 minutos de nada. Ele até tenta encontrar algumas escolhas visuais interessantes para transpor a angústia de Shinji, como o constante enfoque em seu rosto aflito e confuso, ou então como existe toda uma metáfora de purgatório para a exasperação de Shinji com o vermelho infernal sempre em evidência, seja no chão do quarto, na ação, no mundo morto e até na trama mesmo com o “quase-Terceiro Impacto”, que passa essa ideia de que o elenco está em uma espécie de limiar, mas em termos narrativos é tudo completamente enfadonho.

A partir do momento que Shinji encontra Kaworu, a narrativa vira um despejo de informações em diálogos expositivos para explicar o que aconteceu nos últimos 14 anos, o que transforma toda a dramaturgia em uma aula de história pós-apocalíptica que não cria qualquer tipo de desenvolvimento aos personagens, pois está sempre se explicando, quase se desculpando por saltar no tempo. Nenhum dos esclarecimentos são feitos organicamente enquanto a narrativa anda em seu próprio enredo, mas em longas sequências paradas e maçantes que nunca criam progresso de toda a história alicerçada no filme anterior, o que me leva a minha principal dificuldade com esta obra: falta de continuidade.

Anno gosta de reconstruções e mudanças de abordagem na sua franquia, mas ao fazê-la durante uma história em construção, todo o contexto da trama fica deslocada e arbitrário, retornando àquilo que falei sobre ser uma mudança meio “gratuita”, apenas para soar diferente, e não pensada como coerente no progresso daquilo que já havia sido entregue. O que tínhamos era um blockbuster, a jornada do herói e alguns contornos alegóricos para preencher o estilo mais básico da ação com alguma substância da franquia, e então, sem pé nem cabeça, estamos em uma distopia depressiva pseudo-filosófica que não desenvolve qualquer elemento, seja narrativo ou estilístico, de continuidade. E o pior, como não temos nenhum seguimento da história, o filme termina no mesmo ponto do anterior (!), em um apocalipse de cliffhanger para o próximo longa resolver.

Personagens caricatos, ruptura de contexto que não progride a narrativa, Shinji mais cansativo do que nunca em seu núcleo raso de exposição e explosões de raivinha desagradáveis (a trama não ajuda o rapaz também), o ritmo insosso em constante explanação e sem conflito, entre outros problemas, transformam Evangelion 3.33: Você (não) Pode Refazer na pior obra da franquia. Ele não resolve eventos anteriores, não se resolve dentro de si, e deixa o espectador tentando entender o motivo da existência de um filme que não impacta em nada a franquia para além de desconstruir (negativamente) os desenvolvimento anteriores. Ainda gosto do início, algumas escolhas visuais e a ambientação distópica, mas é basicamente um filme aleatório e vão.

Evangelion 3.33: Você (não) Pode Refazer (ヱヴァンゲリヲン新劇場版:Q, Evangerion Shin Gekijōban: Kyū) | Japão, 2012
Direção: Hideaki Anno, Masayuki, Kazuya Tsurumaki, Mahiro Maeda
Roteiro: Hideaki Anno
Elenco: Megumi Ogata, Kotono Mitsuishi, Megumi Hayashibara, Yūko Miyamura, Fumihiko Tachiki, Yuriko Yamaguchi, Motomu Kiyokawa, Kōichi Yamadera, Hiro Yūki, Miki Nagasawa, Takehito Koyasu, Akira Ishida, Tomokazu Seki, Tetsuya Iwanaga, Junko Iwao, Maaya Sakamoto
Duração: 96 min.

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