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Crítica | Esquadrão Suicida: Julgamento Pelo Fogo

por Luiz Santiago
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estrelas 3,5

SPOILERS!

  •  Julgamento Pelo Fogo foi o 1º arco da primeira revista solo do Esquadrão Suicida, publicado entre março e dezembro de 1987 (edições#1 a 8) na Suicide Squad Vol.1 

O Esquadrão Suicida (também chamado de Task Force X) foi originalmente criado por Robert Kanigher, Ross Andru e Mike Esposito na revista Brave and the Bold #25, em setembro de 1959. Com a aposentadoria de parte dos membros da Sociedade da Justiça mediante acusações próprias da Era McCarthy — lembremos que sua “real substituta”, a Liga da Justiça, só seria criada meses depois, na The Brave and the Bold #28, em Março de 1960 — era necessário um grupo que lutasse contra ameaças monstruosas que assolassem o planeta*.

A grande diferença é que o Esquadrão Suicida não era exatamente uma equipe de mocinhos altruístas e isso nós podemos ver ainda com maior intensidade na segunda versão do grupo, surgida depois de Crise nas Infinitas Terras e com sua origem recontada. Esta versão, da qual trazemos aqui a crítica para o primeiro arco, Julgamento Pelo Fogo (1987), foi criada por John Ostrander, Luke McDonnell e Karl Kesel, e teve raízes conceituais no filme de Robert Altman, Os Doze Condenados e na série sessentista Missão Impossível.

A equipe em sua primeira missão.

A equipe em sua primeira missão, na fortaleza Jotunheim, em um país chamado Qurac.

Com o centro de operações e comando geral nas mãos de Amanda Waller, o Esquadrão tem praticamente toda a sua história de recrutamento narrada na série Legends (1986 – 1987), mas o leitor não sente o peso desse passado porque a colocação de cada um dos membros do time é bem apresentada aqui, já nas primeiras páginas, que traz tanto a semente do que seria a missão inaugural dessa nova série, quanto os bastidores da Prisão Federal de Belle Reve, em Louisiana, sede do projeto. Na primeira missão desta nova série, temos Coronel Flag (reminiscente da equipe clássica), Tigre de Bronze, Pistoleiro, Capitão Bumerangue (um dos mais odiosos personagens), Magia, Plastique e Verme Mental.

Sem sombra de dúvidas, a melhor coisa desse arco são as edições #1 e 2, focadas na missão do Esquadrão contra o Jihad, grupo terrorista meta-humano formado por Rustam, Djinn, Manticore, Jaculi, Quimera e Ravan, que planeja atacar os Estados Unidos. Há inúmeras indicações [geo]políticas, sociais e diplomáticas em evidência nos anos 80 que aparecem nessa história e o roteiro de John Ostrander nos prende com facilidade, incitando curiosidade pela dinâmica explosiva entre os integrantes do bando e a forma como eles são obrigados a trabalhar juntos para dar conta da missão e poderem barganhar alguma coisa junto a Amanda Waller, uma personagem muito bem concebida. Como todos são bandidos ou personas non gratas do governo americano, não há importância nenhuma se vão sobreviver ou não às missões (daí o nome da equipe), fato que faz com que também lutem pela própria vida.

Na edição #3, quando Darkseid trabalha com as Fúrias para sequestrar o Glorioso Godfrey e puni-lo pela traição em Legends (novamente: esse evento do passado não atrapalha a leitura, porque a situação recebe um bom contexto), a qualidade da saga começa a cair. Ainda mantemos o interesse, porque existem meandros de relacionamentos nos bastidores que são até melhores que a grande luta da revista, mas o ânimo em relação à história é bem menor e infelizmente ele vai caindo à medida que avançamos a leitura. A última edição realmente notável de Julgamento Pelo Fogo é a de nº#4, onde o grupo luta contra W. James Heller (ou “Guilherme Hell”) e sua organização racista, o Império Ariano. A temática é clara e muitíssimo interessante, tendo os dois lados mostrados em suas mais variadas formas e opiniões, tanto os racistas quanto os humanistas.

O Esquadrão vai à URSS e enfrenta os Heróis do Povo, grupo soviético formado por Foice, Martelo, Pravda (Verdade), Molotov e Bolshoi.

O Esquadrão vai à URSS e enfrenta os Heróis do Povo (tente não rir), grupo soviético formado por Martelo, Foice, Bolshoi, Molotov e Pravda (que não está no quadro).

Até esse momento, a mudança pontual de alguns membros do grupo é aceitável, mas quando Pinguim e Nêmesis (lembrando que Cronos também já havia passado rapidamente por aqui) entram para a missão na União Soviética, o leitor já não está mais com o grupo. Da edição #5 à 8, a coisa toda fica apelativa, pouco interessante e desnecessariamente verborrágica, como se o autor estivesse tentando evitar (sem sucesso) uma veia mais política para as entrelinhas do comando de sequestro de uma escritora presa pelo regime comunista. Parte do enredo que mostra o que ocorre nos bastidores e o que acontece com o detestável Capitão Bumerangue não cativa e não diverte. O leitor respira aliviado quando chega a o final.

A arte de Luke McDonnell tem seus melhores momentos quando é finalizada por Karl Kesel, nas três primeiras edições do arco, mas mesmo assim segue representando bem as missões, destacando-se melhor nas cenas de luta ou páginas inteiras, como vocês podem comprovar nas duas ótimas chapas que escolhi para dar um gostinho da arte ao longo do texto. O artista não avança muito em termos de diagramação mas seu trabalho é correto e tem como suporte a boa coloração de Carl Gafford, com aparência sempre viva, mesmo nos momentos mais sombrios das histórias. Ao menos nos desenhos, Julgamento Pelo Fogo funciona bem do começo ao fim.

Esta louvada fase do Esquadrão Suicida tem um excelente início mas peca, no decorrer das edições, por retirar do grupo parte de sua identidade inicial. Mesmo assim, as reticências da edição #8 nos abre as portas da curiosidade para o que pode vir a seguir. Pelo menos a continuação leitura o autor conseguiu manter.
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* O mesmo padrão utilizado para o Esquadrão Suicida original foi reciclado no final dos anos 60 para a criação do Sexteto Secreto original (1968 – 1969).

Esquadrão Suicida Vol.1 #1 a 8: Julgamento por Fogo (Suicide Squad Vol.1 #1 – 8: Trial By Fire) — EUA, maio a dezembro de 1987
Roteiro: John Ostrander
Arte: Luke McDonnell
Arte-final: Karl Kesel (#1 a 3), Bob Lewis (#4 a 8)
Cores: Carl Gafford
Letras: Todd Klein
Capas: Howard Chaykin, Luke McDonnell, Karl Kesel, Jerry Bingham

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