Tenho boas lembranças da série Esquadrão Classe A. Foi uma das mais divertidas da década de 80, famosa pelos enlatados completamente descerebrados.
Com essa lembrança, assisti à adaptação cinematográfica da série de TV esperando justamente a mesma coisa: diversão e, confesso, absolutamente nada mais. Quando os créditos começaram a a subir, concluí que há muito tempo não me divertia tanto com um filme. Mas que ninguém espere uma trama brilhante ou atuações merecedoras de Oscar. É um filme bastante linear e com atuações corretas apenas. Mas o fator divertimento é extremamente alto e, muitas vezes, é apenas isso que espero de um filme.
Mas esse é apenas um dos lados da moeda. Julgar um filme pelo fator divertimento, apenas, é nivelar por baixo, é praticamente dar um tapinha nas costas de qualquer produção bobalhona despejada por Hollywood todos os anos. Sim, divertimento é importante e às vezes é o que basta, mas uma análise crítica tem que abrir o capô e olhar o que está embaixo, não tem jeito.
Para quem não conhece Esquadrão Classe A, a série oitentista contava a história de quatro amigos veteranos da guerra do Vietnam: o Coronel John “Hannibal” Smith, chefe da equipe e criador dos mais mirabolantes planos (“Eu adoro quando um plano dá certo!”); o Tenente Templeton “Faceman” Peck (no Brasil, Cara-de-Pau), um eterno galanteador; o louco Capitão “Howling Mad” Murdock e o truculento Sargento B.A. Baracus. Os quatro eram boinas verdes que foram acusados de crimes que não cometeram e, agora, vivem como foragidos mercenários, ajudando quem os paga (já dizia a narração de abertura: “se você tem um problema, se mais ninguém pode ajudá-lo, e se você puder achá-los, talvez você possa contratar o Esquadrão Classe A”).
Na adaptação para as telonas, o diretor e co-roteirista Joe Carnahan resolveu começar bem do começo e contar como Hannibal (agora vivido por Liam Neeson, que se notabilizou como improvável herói de ação já com a carreira bem adiantada) e Cara-de-Pau (Bradley Cooper, sempre malandro) conheceram B.A. (Quinton “Rampage” Jackson, lutador de MMA) e Murdock (Sharlto Copley de Distrito 9) em uma simpática sequência de abertura. Depois da reunião do grupo, o filme pula alguns anos e nos coloca em plena Guerra do Iraque, com os quatro na mesma unidade de combate prestes a voltar para casa. Em sua última missão, eles são enganados e presos. Segue-se uma fuga e uma operação para limparem seus nomes.
Carnahan perde tempo demais estabelecendo a linha narrativa principal. Toda a origem do grupo, por mais explosiva que possa ser, serve de muleta narrativa para inchar um filme que não precisaria ter mais do que 85 ou 90 minutos de ação ininterrupta. Os laços de amizade que ligam os quatro são fortes e isso fica evidente por suas relações já com suas condições de fugitivos estabelecidas e o começo é redundante ou, se pensarmos ao contrário, torna redundante as demonstrações de fidelidade canina entre eles.
O desenrolar da narrativa merece aplausos por Carnahan encarnar Michael Bay na inabilidade do diretor da franquia Transformers em parar sua câmera por mais do que 30 segundos ou permitir que alguma sequência sem explosões aconteça. Com isso, as situações de Esquadrão Classe A competem umas com as outras pelo título de mais absurdas, ilógicas e impossíveis. Mas, na categoria de “desligamento de cérebro” algo necessário para se ter alguma chance de apreciar algo assim, elas são, também, muito bem executadas e sobretudo originais. Poderia acrescentar o adjetivo “divertidas” aqui também, mas creio que o leitor já tenha percebido que a diversão é o que permeia essa bobajada cinematográfica e a torna apreciável se o espectador estiver no espírito certo.
Um exemplo das loucuras que Carnahan faz é a sequência em que os quatro estão em um avião e se jogam lá de cima dentro de um tanque de guerra. Ela é longa, mas o diretor consegue prender a atenção do espectador com o fuzilamento de sua retina com uma metralhadora giratória de improbabilidades físicas que, sim, nos fazem rir daquela maneira benigna que muito filmes oitentistas conseguiam nos fazer rir. Mas há de tudo um pouco: B.A. descendo um prédio como o Homem-Aranha, loopings de helicóptero, navios explodindo e muito diálogo curto, esperto e, sobretudo, surpreendentemente engraçado. Os planos de Hannibal são daqueles completamente inexequíveis, mas que sempre dão certo no último segundo. Não há nada que ele não consiga prever.
Mas Esquadrão Classe A é só isso mesmo. Quase duas horas de pancadaria incessante que acabam cansando pela repetição e pelo exagero. Com cortes de milissegundos, câmeras desnorteadoras e uma trama básica, mesmo a inspirada escolha do elenco, que não desaponta, não consegue abafar seus problemas ou elevar a produção para algo mais do que um produto descartável e passageiro. Às vezes, porém, algo descartável e passageiro é tudo o que precisamos e, dentre as porcarias de gênero que existem por aí, Esquadrão Classe A até que dá certo como os planos de Hannibal.
Esquadrão Classe A (The A-Team, EUA – 2010)
Direção: Joe Carnahan
Roteiro: Joe Carnahan, Brian Bloom, Skip Woods (baseado na série de TV homônima criada por Frank Lupo e Stephen J. Cannell)
Elenco: Liam Neeson, Bradley Cooper, Jessica Biel, Quinton ‘Rampage’ Jackson, Sharlto Copley, Patrick Wilson, Gerald McRaney, Henry Czerny, Yul Vazquez, Brian Bloom, Maury Sterling, Terry Chen, Omari Hardwick, David Hugghins, Jacob Blair
Duração: 117 min.