Tendo inspirado obras para diferentes mídias e formatos, como Um Sonho Sem Limites, de Gus Van Sant e um filme para televisão estrelando Helen Hunt, o caso Pamela Smart até hoje gera repercussões. Tendo sido o primeiro julgamento a ser completamente televisionado, ele foi o precursor dos reality shows, pré-datando até mesmo Survivor. Ao invés de trazer mais do mesmo, Jeremiah Zagar, em seu documentário para a HBO, faz um estudo a fundo sobre o caso, abrindo a pergunta: a justiça foi, realmente, aplicada?
Essa indagação é inserida cuidadosamente na obra, primeiro nos apresentando o cenário onde tudo irá se desenrolar. Acompanhamos, através de dezenas de depoimentos, as percepções dos indivíduos envolvidos sobre o ocorrido. A primeira dúvida posicionada é: Pamela realmente assassinou seu marido? Ou foi algo arquitetado pelo jovem William Flynn, com quem tinha um caso na época? A partir dessa pergunta inicial, Zagar constrói uma rede de argumentos, não a fim de inocentar ou declarar, de fato, culpada a acusada e condenada, e sim para mostrar o quão incerto foi o julgamento.
Chega a ser perturbador observarmos o crescente impacto da mídia da época sobre o caso, afetando não só a população civil, como as próprias autoridades e, é claro, o júri. Os jornais, “liderados” pela cobertura de Bill Spencer, praticamente condenaram a mulher antes mesmo da audiência e o melhor: o próprio jornalista, em depoimento, admite isso, convicto de ter feito a coisa certa. Mas, a partir do momento que temos tal grande massa manipulada pelo que assistem na televisão, até que ponto podemos considerar que Smart realmente é culpada? É gerado, portanto, o forte argumento da obra, que atua como um pedido de uma apelação para Pamela, nos entregando uma série de indícios que a inocentam e condenam ao mesmo tempo.
Jeremiah constrói seu documentário utilizando inúmeros pontos interessantes, intercalando as imagens gravadas da época, com atuais. No meio disso ainda temos trechos das obras adaptadas, como a já citada Um Sonho Sem Limites, que também tiveram papel decisivo nos pedidos para apelação e construção da opinião pública – “essa não sou eu”, diz Pamela Smart. A fluidez é, contudo, prejudicada pela compartimentalização dnarrativa, que separa o filme em diversos tópicos que poderiam vir melhor encaixados. Nossa atenção, graças a esse fator, é perdida nos trechos finais do longa-metragem, que acaba soando extenso demais, por mais que conte com apenas 102 minutos.
Por outro lado, a montagem de Keiko Deguchi, possivelmente o maior mérito do documentário, consegue recuperar nossa imersão a cada instante. Trata-se de um encadeamento de imagens rápido, dinâmico, que não gasta mais do que deveria em cada trecho.
Espetáculo: O Julgamento de Pamela Smart retoma a discussão deste polêmico caso de maneira bem atual, trazendo uma série de entrevistas que solidificam o argumento do realizador. No fim, somos deixados na posição do júri, obrigados a decidir o que de fato é o mais justo nesse cenário.
Espetáculo: O Julgamento de Pamela Smart (Captivated: The Trials of Pamela Smart – EUA, 2014)
Direção: Jeremiah Zagar
Elenco (depoimentos): Joyce Maynard, Stanley M. Brooks, Pamela Smart, Joyce Chopra, Ted Haimes, Dan Pelletier, Bill Spencer, Eric Trautmann
Duração: 102 min.