Surgidas em meados de 2003, as “Escape Rooms” pareciam, desde sua criação, uma premissa óbvia para um terror escapista, mas depois de Jogos Mortais a ideia teve de ficar resguardada até 2019 para justificar a sua existência dentro de uma censura limitada. A estratégia se tornou assertiva, pois o primeiro Escape Room funcionava como uma diversão inofensiva no universo grotesco, aproveitando o aspecto engajante da resolução de puzzles proposto pelas salas reais. Sua continuação, Escape Room 2: Tensão Máxima, não faz diferente, mas desta vez, atendendo a demanda de continuações em ter mais em maior escala que a antecessora, propõe um jogo bem mais exagerado, fugindo completamente de qualquer escopo realista que o primeiro tenta alçar, abraçando com gosto o exagero na inverossimilhança.
As mentiras já começam no final do anterior/início desse, quando os dois sobreviventes, Zoey (Taylor Russell) e Ben (Logan Miller), ao invés de buscarem um psicólogo depois da experiência traumática, saem em busca de encontrar o misterioso “Puzzlemaker” (James Frain), visando descobrir seus planos por conta própria. Se isso parecia uma desculpa tosca para expandir o universo e criar uma franquia, ao menos esse segundo começa já admitindo esse caráter e não fica de mistério sobre as intenções genéricas que circundam as motivações do vilão – entregando-a de bandeja numa das primeiras cenas –, ou tentando criar malabarismos dramáticos para impedir o que será inevitável, afinal, se os personagens tivessem o mínimo de bom senso, não teríamos filme. Então a história e tudo que a faz acontecer é uma mera desculpa para outro jogo acontecer, pouco importa a plausibilidade do como ou por quê.
Aí entra a estranha virtude de Escape Room 2: Tensão Máxima na montagem atropelada, que acaba casando muito bem com a proposta. Num primeiro momento faz pular as prévias chatas do enredo, de maneira super objetiva e autoexplicativa – a primeira cena mesmo, parece aqueles clipes de “recapitulando” de séries, falando do episódio anterior –, indo logo para o que importa com a contextualização necessária, e quando chega nele, continua construindo o mesmo efeito cada vez mais transgressor de aceleração da narrativa, beneficiando a lógica escalonada de dificuldade de cada desafio em uma sucessiva basicamente ininterrupta. Quando o jogo começa, só vai ter respiro quando acabar. O suspense agitado a partir daí não atropela a imersão, porque a sequência estar no timing estipulado pelo perigo chegando na armadilha.
O cineasta Adam Robitel usa o tempo que os personagens têm para desarmar as armadilhas – exemplificando: 10 minutos; depois dos quais a tal armadilha é finalizada. Claro, não existe uma sincronia perfeita, mas a ideia executada na sala da edição é eficaz no efeito, graças á ampla competência na realização dos cortes, que precisavam ser extremamente rápidos para encaixar, mas conseguem ainda assim, ser dinâmicos com a crescente do elemento de fatalidades da ambientação. Considerando o nível de criatividade envolvendo as salas da vez, supercomplexas e cheia de enigmas impossíveis de ser desvendados em tão pouco tempo, os personagens acabam ganhando um senso de dedução basicamente milagroso, que tenta ser disfarçado pelo didatismo da câmera em apontar para certos objetos importantes a resolução do enigma antes de acontecer o “chute” fornecendo um falso senso de participação ao telespectador.
Esse problema, já vem desde o primeiro, mas agora tem respaldo na urgência constante, onde não tem tempo nem para perguntar como se começa a resolver o problema, que os personagens já estão no passo seguinte. Isso, além da desculpa da premissa em reunir os campeões de seus respectivos jogos, ou seja, os mais experientes num mesmo lugar. Contudo, isso ainda prejudica Escape Room 2: Tensão Máxima numa outra frente em que o antecessor era melhor, no caso, a importância particular dada aos sujeitos. Até por isso, penso que optaram por continuar com dois deles, poupando uma empatia a ser desenvolvida durante a ação dos protagonistas, porque não há tempo para isso nessa proposta. A aposta para os demais parece ser da empatia vinda pelo maior senso da coletividade – o escapar das criativas armadilhas é mais importante do que qualquer dilema moral envolvendo os participantes, distanciando essa franquia de Jogos Mortais ou derivados do tipo “cinco estranhos acordando em lugar desconhecido” – e suposta experiência adquirida, que lhes dá mais inteligência na hora de descobrir as charadas sob pressão.
Infelizmente, há vários momentos em que essa inteligência passa do ponto, mesmo numa proposta assumidamente exagerada que não anula a vulnerabilidade de ninguém presente em maior ênfase pelo gore acentuado. A necessidade de falar que é uma franquia ainda é um incomodo grave, principalmente quando a história vai indo para o final. É uma tentativa de deixar um seguimento consciente para acobertar, se for necessário, retcoms feitos nos próximos filmes – acho difícil que esse seja o último –, mas isso acaba não fechando esse filme no melhor momento, além de ser inútil, pois provavelmente, para acontecer uma nova temporada de “rooms”, a história será . Dito isso, Escape Room 2: Tensão Máxima é, assim como o primeiro, bem honesto e divertido em seu escopo de terror de baixa classificação indicativa, bom para ver com “a galera”.
OBS: O filme estreou nos cinemas brasileiros com um corte aparentemente diferente do que foi lançado em on-demand lá no território americano, com 7 minutos a menos. Não que isso deva mudar relevantemente a experiência, mas vale a informação.
Escape Room 2: Tensão Máxima (Escape Room: Tournament of Champions | EUA, 2021)
Direção: Adam Robitel
Roteiro: Will Honley, Maria Melnik, Daniel Tuch, Oren Uziel, Christine Lavaf, Fritz Böhm
Elenco: Taylor Russell, Logan Miller, Deborah Ann Woll, Thomas Cocquerel, Holland Roden, Indya Moore, Carlito Olivero, Matt Esof, Jamie-Lee Money, Wayne Harrison, Lucy Newman-Williams, Scott Coker, Jay Ellis, Tyler Labine, Nik Dodani, Yorick van Wageningen, Isabelle Fuhrman, James Frain
Duração: 88 minutos