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Crítica | Era Uma Vez Demônios

Alan Moore 1.0

por Luiz Santiago
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Esta é provavelmente a primeira história em quadrinhos escrita e desenhada por Alan Moore que ganhou uma publicação – mesmo que amadora –, ocorrida na quinta edição do fanzine Embryo, também editado pelo artista, então com 18 anos. Moore rascunhava histórias em quadrinhos desde a infância e, na adolescência, esteve diretamente envolvido com diversos fanzines britânicos, sendo também criador de um. Em 1970, por exemplo, aos 17 anos, publicou um texto bem interessante sobre O Sombra (The Shadow), na segunda edição do fanzine Seminar. No caso da presente historinha contida nas páginas de Embryo #5, vemos um jovem escritor e desenhista colocar no papel uma série de ideias potencialmente interessantes, mas terrivelmente executadas, de uma ficção científica.

Apesar de haver marcação de continuidade no canto da última página, esta foi a primeira e única história em quadrinhos que apareceu no fanzine, que, na verdade, era dedicado a poemas com temáticas cósmicas e socialmente instigantes, de onde já se observava influências de Lovecraft e Orwell na escrita do mago em formação. Era Uma Vez Demônios não expõe situações típicas desses autores, mas nela, é perceptível a arrogância de um artista bem jovem que quer falar muita coisa sobre um determinado tema, inclui grande quantidade de ideias numa obra curta e acaba não conseguindo passar a mensagem que pretendia, deixando de fazer sentido.

Imaginamos que o roteiro seguirá explorando a relação do protagonista com Incubus, o seu maior inimigo. Após acordar de 12 anos de um sono criogênico, esse indivíduo tenta dar sentido a tudo ao seu redor. A narrativa é progressivamente atropelada, com um letramento ruim, arte mediana e diagramação terrivelmente confusa. Até aí, não há muito problema (talvez excetuando a diagramação), porque a proposta artística mais crua e descuidada combina perfeitamente com a produção de um fazine setentista. O letramento feito à mão tem lá os seus problemas, não há muito o que fazer. O impasse é que a premissa inicial do texto, com o prisioneiro de uma nave espacial do povo Qys, não se desenvolve, não chega a lugar algum. 

De uma página para outra, o texto é transformado num fluxo de consciência misterioso, inserindo mais conteúdo sem explicação e terminando numa aparente virada de intenção e perspectiva que não combina com a unidade da aventura. O jovem Alan Moore até pretendia continuar a trama (há um aviso de “continua”), mas não há registro da sequência de Era Uma Vez Demônios em qualquer outro fanzine que o autor tenha participado. É, porém, uma obra de grande valor histórico, por se tratar da primeira criação conhecida de um gigante da Nona Arte.             

Era Uma Vez Demônios (Once There Were Demons) – Reino Unido, 18 de novembro de 1971
Publicação original: Embryo #5 (fanzine)
Roteiro: Alan Moore
Arte: Alan Moore
Capa: Alan Moore
Editoria: Alan Moore
4 páginas

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