Home TVTemporadas Crítica | Entre Casamentos (Wedding Season) – 1ª Temporada

Crítica | Entre Casamentos (Wedding Season) – 1ª Temporada

Uma distorcida comédia romântica que não se encontra.

por Felipe Oliveira
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E se Quatro Casamentos e um Funeral tivesse um pouco de uma intriga internacional em seu escopo? Lançado em 1994, o filme escrito por Richard Curtis e comandado por Mike Newell é um marco, não só por ter custado tão pouco e também rendido bons números na bilheteria, além de premiações e indicação ao Oscar, e sim, pela sua graciosidade, leveza e harmonia ao narrar uma comédia romântica de maneira ímpar. Como o nome sugere, a história se desenrolava por uma sequência de casamentos e um funeral, e nisso acompanhávamos o desajeitado, atrapalhado e inseguro Charles (Hugh Grant) papel que abriu as portas para Grant como um galã no subgênero se apaixonar pela cativante Carrie (Andie MacDowell). Toda diferença que denota a notoriedade do longa, foi graças à narrativa que traçava essa história por uma perspectiva inventiva e  contagiante.

Embora já tenha ganhado um remake televisivo homônimo em 2019, a simples criatividade vista no roteiro de Curtis continua a repercutir nas rom-coms. Tal como a recente série Cheaters, o criador Oliver Lyttelton parece querer trabalhar com as improváveis probabilidades que circundam o subgênero fazendo da eventualidade o mote narrativo. Assim, chegamos a Entre Casamentos, a qual pode muito ser descrita como uma mistura de Four Weddings and a Funeral a um familiar whodunnit, ou a um típico thriller de investigação em que o protagonista se vê lutando para provar sua inocência, porém, esse objetivo está amarrado a uma paixão cega.

A forma que Lyttelton optou por iniciar essa façanha é no mínimo confusa, e dificilmente irá prender a atenção da audiência para uma trama que não sabe como quer ser vista: uma comédia romântica britânica ou um thriller desinteressante e previsível com humor ácido britânico? Em nenhuma das alternativas dá pra sentir firmeza na maneira que essas impressões devam ser encaradas. De um lado, o desiludido e apaixonado, atípico galã à lá Hugh Grant e seu Charlie, Stefan (Gavin Drea) surge decidido a interromper a cerimônia de sua amada, a manipuladora Katie (Rosa Salazar) para então se declarar. Diante da resposta over dela em poucos minutos de episódio, a cena seria uma peça do quebra-cabeça digno de um O Melhor Amigo da Noiva? Porém, o roteiro passa a centralizar a narrativa a uma retrospectiva do que levou ao assassinato de oito dos principais convidados do casamento de Katie, e que ela estaria foragida e Stefan se torna o suspeito número um.

Agatha Christie, Alfred Hitchcock, uma trama que até Liam Neeson desconhece… Wedding Season joga com muitas inspirações do gênero para compor o seu mistério, que, afinal, é o que há de mais fraco e decepcionante aqui. Se no filme de Newell víamos uma distinta comédia romântica dramática encadear sua lógica através se cinco eventos, discutindo em meio a improvável atração que exalava entre Charles e Carrie os dilemas matrimoniais enquanto a tragédia anunciada no título era inevitável, Lyttelton estabelece que durante a temporada de casamentos, o contraponto da conflituosa relação de Stefan e Katie seria a teia de dúvida que se conecta às vitimas de assassinato, servindo de uma alusão a improbabilidade da união.

Ainda que a ideia seja criar uma trama em que cada vez se crie uma incerteza sobre a inocência de Katie e a veracidade das informações, passa da metade da temporada e Wedding Season não consegue convencer a embarcar nesse mistério que insiste em ir e vir com demonstrações de reviravoltas que nunca sequer impactam. Nisso, é notável a disparidade de quando o roteiro investe nesse segmento que pena para envolver. Soma-se também o conhecido humor britânico que jamais parece se adequar ao tom da série, nem mesmo quando há um interesse do texto de Daran Johnson se mostrar inteligente propondo uns momentos de autoconsciência nessa dobradinha insossa de comédia e um mistério que está mais preocupado em criar distrações e lacunas a uma execução crível dentro do escopo, seguro de que toda essa dinâmica gerou um thriller ágil e tenso quando precisa de muito mais tempero para ser irresistível.

Ao menos, no que Entre Casamentos falha ao propor um contraponto que de todas as formas impossibilita a união dos protagonistas, há um romance em meio ao caos que funciona. Muito disso é graças à química de Drea e Salazar, ele como um Romeu desesperado e apaixonado, e ela como uma figura misteriosa, complexa e também intensamente apaixonada. São dois personagens inconciliáveis, e que estão constantemente sendo jogados numa linha tênue sobre afeto, confiança, desejo e até mesmo obsessão, e acima disso lutam contra as impossibilidades que surgem para fazer essa relação dar certo. É por meio das várias eventualidades matrimoniais que vamos acompanhando o andar desse relacionamento ser adiado por uma trama complicada narrada em duas linhas temporais. Assim, é como temos a típica comédia romântica sendo diluída por uma perspectiva complexa, por vezes perigosa e boba transitando entre os dilemas amorosos e discussões aqui e ali entre casamentos e monogamia.

Hesitante demais, Wedding Season quer ser muita ao mesmo: Happy Endings sem o fundo da sitcom, Friends sem o Central Perk Cafe, How I Met Your Mother sem o domínio narrativo de flashbacks, movimentar o enredo com dúvidas constantes sem a manobras de Hitchcock, um mistério de assassinato sem a inteligência de Christie, Quatro Casamentos e um Funeral sem a emoção e carisma. Fraca demais para subverter, ao menos tem a sorte de contar com Drea e Salazar, um show a parte desse faz de contas.

Entre Casamentos (Wedding Season – Reino Unido, 2022)
Criação: Oliver Lyttelton
Roteiro: Daran Johnsson
Direção: George Kane, Laura Scrivano
Elenco: Gavin Drea, Rosa Salazar, Jade Harrison, Jamie Michie, Callie Cooke, Ioanna Kimbook, Bhav Joshi, Omar Baroud, George Webster
Duração: 32 a 42 min (8 episódios, cada)

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